segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Lucrécia Borgia. Jean Plaidy. «Mas com o quarto aniversário veio o primeiro indício de que a vida era menos simples do que ela acreditava que fosse, e que não continuava para sempre no mesmo padrão agradável»

Cortesia de wikipedia e jdact

A Piazza Pizzo di Merlo

«(…) As criadas não podiam deixar de abraçá-la, dar palmadinhas no seu rosto ou acariciar os belos cabelos. Querida madonazinha, murmuravam elas, e sussurravam juntas sobre os encantadores occhi bianchi que iriam fazer de sua pequenina madona uma mulher sedutora. Ela sentia-se feliz com a afeição delas; aconchegava-se nelas, dando amor em troca de amor; e ansiava por uma carreira de sedutora com o máximo de prazer. A pequena Lucrécia, até então, acreditava que o mundo tinha sido feito para o seu prazer, os irmãos sentiam a mesma coisa com relação a eles, mas, porque Lucrécia era, por natureza, serena, estava sempre contente e só podia sentir-se agradada quando agradava a outros, seu carácter era inteiramente diferente do de seus irmãos. A vida jovem de César e de Giovanni era obscurecida pela inveja que cada um tinha do outro; Lucrécia não sabia o que era aquele tipo de sentimento. Era a rainha da ala infantil, com a certeza do amor de todos. E assim, até o quarto aniversário, a garotinha ficou fechada no seu mundo de contentamento que a envolveu como um confortável casulo.

Mas com o quarto aniversário veio o primeiro indício de que a vida era menos simples do que ela acreditava que fosse, e que não continuava para sempre no mesmo padrão agradável. A princípio, ela percebeu a agitação nas ruas. Havia muitas idas e vindas pela ponte. Todos os dias, grandes cardeais, acompanhados de suas comitivas, chegavam a Roma nas suas mulas. As pessoas ficavam por ali em pequenos grupos; algumas conversavam calmamente, outras gesticulavam, iradas. O dia todo ela esperara uma visita do tio Roderigo, mas ele não viera. Quando César entrou na ala infantil, ela correu para ele e segurou-lhe as mãos, mas até César havia mudado; não parecia tão interessado nela quanto antes. Foi até a loggia e, paciente, se pôs ao lado dele, como um pequeno pajem, humilde, esperando suas ordens, como ele gostava que ela fizesse; no entanto, ele nada disse: ficou quieto, observando as multidões nas ruas.

Tio Roderigo não nos veio visitar, disse ela, tristonha. César abanou a cabeça. Ele não virá, irmãzinha. Hoje, não. Ele está doente? César abriu um sorriso lento. Ela viu que as mãos dele estavam fechadas e que sua fisionomia estava tensa, como tantas vezes ficava quando estava zangado ou decidido quanto a alguma coisa. Ela ficou no degrau que lhe permitia ficar com altura suficiente para chegar ao ombro dele e colocou o rosto perto do dele, para que pudesse estudar a sua expressão. César, disse ela, está zangado com o tio Roderigo? César agarrou o pescoço dela com as suas mãos fortes; aquele golpe dele doía um pouco, mas ela gostava porque sabia o que significava: veja como eu sou forte. Veja como eu poderia machucá-la, pequena Lucrécia, se quisesse; mas não quero, porque você é minha irmãzinha e eu a amo porque você me ama..., mais do que qualquer outra pessoa no mundo..., mais do que a nossa mãe, mais do que o tio Roderigo, melhor, sem dúvida de que melhor, do que Giovanni. E quando ela gritou e mostrou pela expressão do rosto que ele a estava machucando, só um pouquinho, aquilo queria dizer: sim, César, meu irmão. Eu te amo mais do que a qualquer outra pessoa no mundo. E ele compreendeu e seus dedos tornaram-se delicados. Não se fica zangado com o tio Roderigo, disse César a ela. Isso seria uma tolice, e eu não sou tolo. Não, César, não é tolo. Mas está zangado com alguém? Ele abanou a cabeça. Não. Eu estou contente, irmãzinha. Diga porquê. Você ainda é uma criança. O que poderia saber sobre o que se passa em Roma?» In Jean Plaidy, Lucrécia Borgia, Edição Record, 1996, ISBN 978-850-104-410-5.

 

Cortesia de ERecord/JDACT

 

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