sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Maria José Travassos Bento. Convento de Cristo. 1420 – 1521. «O infante Henrique nasceu no Porto a 4 de Marco de 1394 e teve como ama-de-leite Mecia Lourenco, mulher de um cavaleiro da Ordem de Cristo…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia à Doutora Maria José Travassos Almeida Jesus Bento

A Ordem e os Regedores. Mais de um século

«(…) Desde a fundação da Ordem e, por diversas vezes, a coroa e o clero recompensaram os Mestres da Ordem de Cristo e das demais Ordens militares pelos preciosos serviços que haviam prestado ao reino a expensas próprias, com os seus cavalos e armas. As Ordens Militares de Cristo, Santiago, Avis e Hospital mantiveram uma posição de destaque no poder militar que detinham, durante muito tempo após a reconquista da Península, e permaneceram bem armados, encavalgados e observando rigorosas normas de conservação do equipamento militar guardado no interior das fortalezas que os comendadores tinham debaixo da sua tutela. No inicio de Quatrocentos, estas Ordens eram responsáveis pelo fornecimento de mais de 10% do equipamento defensivo pesado de Portugal.

O Infante Henrique. 1º Regedor e Administrador da Ordem de Cristo

Durante os séculos XIV e XV as ordens militares tinham-se transformado em poderosas detentoras de grandes concentrações de propriedades fundiárias e de riqueza mobiliária, afastando-se das funções político-religiosas que as tinham gerado. A Ordem de Cristo, assim como todas as outras ordens militares, transformaram-se em forças sócio-económicas capazes de promover acções a par com a Coroa. Numa tentativa de contrariar esta politica de engrandecimento das ordens, a Coroa portuguesa, em conjunto com todas as outras casas reais europeias, iniciou um processo de apropriação das Ordens Militares. Seguindo esta política, e numa clara acção de centralização de poder, o monarca João I distribuiu pelos seus filhos as principais Ordens Militares do Reino, começando pela de Santiago em 1418, que atribui ao infante João, seguida pela Ordem de Cristo atribuída ao infante Henrique em 1420, e, por último, a Ordem de Avis entregue ao infante Fernando em 1434.

As negociações que existiram entre João I e o papa Martinho V para que este concedesse as prerrogativas de Administrador da Ordem de Cristo ao infante Henrique duraram cerca de seis meses mas, só um ano depois, em 1421, o infante receberia a confirmação régia de todos os privilégios concedidos aos Mestres seus antecessores e a própria Ordem. A atribuição do Mestrado da Ordem a um Administrador laico obrigou a alterações na estruturação da mesma em termos de hierarquia e atribuições, nomeadamente na substituição do titulo de Mestre, anteriormente atribuído a um frei-cavaleiro eleito em capítulo, pelo titulo de Governador e Administrador da Ordem que poderia ser atribuído a um secular.

O infante Henrique nasceu no Porto a 4 de Marco de 1394 e teve como ama-de-leite Mecia Lourenco, mulher de um cavaleiro da Ordem de Cristo, Fernando Alvares que, por sua vez, foi aio do infante e de seus irmaos. Mas a convivência desde a primeira hora com a Ordem não terminava aqui. Lopo Dias Sousa interveio e acompanhou também a sua educação, potenciando estreita e permanente ligação aos membros da Ordem. Esta relação estendeu-se também ao património pertencente à sua Casa que abrangia as áreas de Viseu, Guarda e Lamego, regiões fronteiras com o domínio Senhorial da Ordem de Cristo que se localizava maioritariamente na região beirã. Sob a orquestração de João I, e até 1420, o poder da Casa do Infante cresceu em sã convivência com a Ordem de Cristo». In Maria José Travassos Bento, Convento de Cristo, 1420 – 1521, Mais de um século, 2016, Tese de Doutoramento, Estudo Geral, Repositório Científico, Universidade de Coimbra, FLUC,  http://hdl.handle.net/10316/26539.

Cortesia de FLUC/JDACT

JDACT, Maria José Travassos Bento, História, Doutoramento, Caso de estudo, Cultura e Conhecimento,