Com a devida vénia à Doutora Maria José Travassos Almeida Jesus Bento
A Ordem e os Regedores. Mais de um século
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Desde a fundação da Ordem e, por
diversas vezes, a coroa e o clero recompensaram os Mestres da Ordem de Cristo e
das demais Ordens militares pelos preciosos serviços que haviam prestado ao
reino a expensas próprias, com os seus cavalos e armas. As Ordens Militares de
Cristo, Santiago, Avis e Hospital mantiveram uma posição de destaque no poder
militar que detinham, durante muito tempo após a reconquista da Península, e
permaneceram bem armados, encavalgados e observando rigorosas normas de
conservação do equipamento militar guardado no interior das fortalezas que os comendadores
tinham debaixo da sua tutela. No inicio de Quatrocentos, estas Ordens eram
responsáveis pelo fornecimento de mais de 10% do equipamento defensivo pesado
de Portugal.
O Infante Henrique. 1º Regedor e Administrador da Ordem de Cristo
Durante
os séculos XIV e XV as ordens militares tinham-se transformado em poderosas
detentoras de grandes concentrações de propriedades fundiárias e de riqueza
mobiliária, afastando-se das funções político-religiosas que as tinham gerado.
A Ordem de Cristo, assim como todas as outras ordens militares,
transformaram-se em forças sócio-económicas capazes de promover acções a par
com a Coroa. Numa tentativa de contrariar esta politica de engrandecimento das
ordens, a Coroa portuguesa, em conjunto com todas as outras casas reais
europeias, iniciou um processo de apropriação das Ordens Militares. Seguindo
esta política, e numa clara acção de centralização de poder, o monarca João I
distribuiu pelos seus filhos as principais Ordens Militares do Reino, começando
pela de Santiago em 1418, que atribui ao infante João, seguida pela Ordem de
Cristo atribuída ao infante Henrique em 1420, e, por último, a Ordem de Avis
entregue ao infante Fernando em 1434.
As
negociações que existiram entre João I e o papa Martinho V para que este
concedesse as prerrogativas de Administrador da Ordem de Cristo ao infante
Henrique duraram cerca de seis meses
mas, só um ano depois, em 1421, o
infante receberia a confirmação régia de todos os privilégios concedidos aos Mestres
seus antecessores e a própria Ordem. A atribuição do Mestrado da Ordem a um
Administrador laico obrigou a alterações na estruturação da mesma em termos de hierarquia
e atribuições, nomeadamente na substituição do titulo de Mestre, anteriormente
atribuído a um frei-cavaleiro eleito em capítulo, pelo titulo de Governador e
Administrador da Ordem que poderia ser atribuído a um secular.
O
infante Henrique nasceu no Porto a 4 de Marco de 1394 e teve como ama-de-leite
Mecia Lourenco, mulher de um cavaleiro da Ordem de Cristo, Fernando Alvares
que, por sua vez, foi aio do infante e de seus irmaos. Mas a convivência desde
a primeira hora com a Ordem não terminava aqui. Lopo Dias Sousa interveio e
acompanhou também a sua educação, potenciando estreita e permanente ligação aos
membros da Ordem. Esta relação estendeu-se também ao património pertencente à
sua Casa que abrangia as áreas de Viseu, Guarda e Lamego, regiões fronteiras
com o domínio Senhorial da Ordem de Cristo que se localizava maioritariamente
na região beirã. Sob a orquestração de João I, e até 1420, o poder da Casa do
Infante cresceu em sã convivência com a Ordem de Cristo». In Maria José
Travassos Bento, Convento de Cristo, 1420 – 1521, Mais de um século, 2016, Tese de Doutoramento, Estudo Geral, Repositório
Científico, Universidade de Coimbra, FLUC,
http://hdl.handle.net/10316/26539.
Cortesia de FLUC/JDACT
JDACT, Maria José Travassos Bento, História, Doutoramento, Caso de estudo, Cultura e Conhecimento,