sábado, 23 de janeiro de 2021

Tópicos para a História da Civilização. Ideias no Gharb al-Ândalus. António B. Coelho. «Esta diferença é necessária enquanto existam dois tipos humanos diferenciados: o comum dos homens e os sábios»

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Poetas Santões e Filósofos do Ocidente do Ocidente

«(…) No primeiro livro, de finalidade teológica, segue os cépticos gregos acerca da impossibilidade da verdade absoluta. Segundo ele, as opiniões reflectem o modo de ser dos homens nas suas diferenças físicas, raciais, éticas e ideológicas. Mas estas desigualdades aumentam devido a oito causas:

1ª o uso de termos equívocos;

2ª a interpretação literal ou metafórica;

3ª o múltiplo conteúdo semântico dos termos por causa do sentido geral;

4ª tomar o do particular e vice-versa;

5ª o excessivo uso do argumento de autoridade;

6ª a utilização abusiva dos argumentos analógicos;

7ª o esquecimento de textos que invalidam outros anteriores;

8ª as naturais diferenças em matérias opináveis.

No Livro das Questões defende a possibilidade da concordância da razão e da fé pois a filosofia e a religião coincidem no seu objecto, que é a verdade, e no seu fim, que é a felicidade humana. Só se separam quanto ao método, discursivo racional na primeira e convencimento na segunda. Esta diferença é necessária enquanto existam dois tipos humanos diferenciados: o comum dos homens e os sábios.

No Livro dos Círculos propõe-se discutir sete teses dos filósofos:

lª a ordem em que os seres procedem da Causa Primeira parece-se a um círculo ideal e o lugar de retorno do círculo reside na forma do homem;

2ª a essência do homem atinge, depois da morte, o termo a que chegou a sua ciência durante a vida e essa ciência parece-se também com um círculo ideal;

3ª na potência do entendimento particular está o informar-se com a forma do entendimento universal;

4ª o número é um círculo ideal, por exemplo, o círculo das unidades, o das dezenas, o das centenas e o dos milhares;

5ª os atributos do Criador não podem predicar-se dele a não ser por via da negação;

6ª o Criador não conhece outra coisa senão a si mesmo;

7ª qual a prova apodítica da sobrevivência da alma racional depois da morte.

O texto toma as suas cautelas: espero em Deus que me preservará do erro e diz que fala como mero informador dos propósitos e intenções dos filósofos, embora se sirva de termos aproximados, diferentes dos que eles usam. Os seres emanam da Causa Primeira, Primeiro Agente ou Causa das Causas, usando a linguagem dos filósofos. O exemplo mais aproximado para explicar essa emanação ou como do Criador procede o ser dos entes é o modo como procede do 1 o ser dos números ainda que não seja lícito comparar o Criador, exaltado seja!, com coisa alguma bem como os seus atributos e operações…» In António Borges Coelho, Tópicos para a História da Civilização e das Ideias no Gharb al-Ândalus, Instituto Camões, Colecção Lazúli, 1999, IAG-Artes Gráficas, ISBN 972-566-205-9.

Cortesia de ICamões/JDACT

 

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