«(…) Interessante, disse Langdon, mas está longe de ser convincente. Se traçar um número suficiente de linhas de intersepção num mapa, obrigatoriamente vai encontrar todo o tipo de forma. Mas não pode ser coincidência!, exclamou o aluno. Com paciência, Langdon lhe mostrou que as mesmas formas podiam ser desenhadas num mapa de Detroit. O rapaz pareceu profundamente desapontado. Não desanime, disse Langdon. Washington de facto tem alguns segredos incríveis..., só que nenhum deles está neste mapa. O jovem se empertigou. Segredos? De que tipo? Todas as Primaveras, eu dou um curso chamado Símbolos Ocultos. Falo muito sobre a capital. Você deveria se matricular. Símbolos ocultos! O caloiro pareceu novamente animado. Então existem mesmo símbolos demoníacos na capital! Langdon sorriu.
Desculpe,
mas a palavra oculto, apesar de remeter a imagens de adoração ao demónio, na
verdade significa escondido ou velado. Em épocas de opressão
religiosa, todo o conhecimento que contrariasse a doutrina tinha de ser
escondido ou oculto e, como a Igreja se sentia ameaçada por isso, redefiniu
tudo o que fosse oculto como uma coisa má, e o preconceito perdurou. Ah. O
rapaz encurvou os ombros. Ainda assim, naquela Primavera, Langdon reconheceu o
rapaz sentado na primeira fila no meio dos 500 alunos que enchiam o Teatro
Sanders de Harvard, uma antiga sala de conferências cheia de ecos, com assentos
de madeira que rangiam.
Bom dia a
todos, exclamou de cima do grande tablado. Ligou um projector de slides, e uma
imagem se materializou às suas costas. Enquanto se acomodam, quantos de vocês
reconhecem o prédio desta foto? O Capitólio dos Estados Unidos!, ecoaram em
uníssono dezenas de vozes. Em Washington! Isso mesmo. Há mais de quatro milhões
de quilos de ferro nessa cúpula. Um feito incomparável de engenhos idade
arquitectónica para os anos 1850. Surreal!, gritou alguém. Langdon revirou os
olhos, desejando que alguém banisse aquela expressão. Muito bem, e quantos de
vocês já foram a Washington? Umas poucas mãos se levantaram. Só isso? Langdon
fingiu surpresa. E quantos de vocês já foram a Roma, Paris, Madrid ou Londres? Quase
todas as mãos da sala se levantaram.
Como
sempre. Um dos ritos de passagem para os universitários norte-americanos era
viajar de trem pela Europa nas férias de verão antes de encarar a dura
realidade da vida. Parece que há mais gente aqui que já visitou a Europa do que
a sua própria capital. Qual a explicação para isso? Na Europa não existe idade
mínima para beber!, gritou alguém no fundo da sala. Langdon sorriu.
E por
acaso a idade mínima daqui impede algum de vocês de beber? Todos riram. Era o
primeiro dia de aula, e os alunos estavam demorando mais do que de costume para
se acomodarem, remexendo-se e fazendo ranger os bancos de madeira. Langdon
adorava lecionar naquela sala porque podia medir o grau de interesse da turma
escutando quanto as pessoas se agitavam nos bancos.
Falando
sério, disse Langdon, a arquitectura, a arte e o simbolismo de Washington estão
entre os mais interessantes do mundo. Porque cruzam oceano antes de visitar a
sua própria capital? As coisas mais antigas são mais legais, disse alguém. E
por coisas antigas, esclareceu Langdon, suponho que queira dizer castelos,
criptas, templos, esse tipo de coisa? Cabeças aquiesceram simultaneamente. Muito
bem. Mas e se eu dissesse que Washington tem todas essas coisas? Castelos,
criptas, pirâmides, templos..., está tudo lá. Os rangidos diminuíram. Meus amigos, disse
Langdon, baixando a voz e avançando até à beira do tablado, ao longo da próxima
hora, vão descobrir que o nosso país transborda de segredos e de histórias
ocultas. E, exactamente como na Europa, todos os melhores segredos estão
escondidos à vista de todos. Os bancos de madeira silenciaram por completo.
Pronto.
Langdon
diminuiu as luzes e passou para o slide seguinte. Quem me pode dizer o que
George Washington está fazendo aqui? O slide era de um conhecido mural que
mostrava George Washington vestido com os trajes completos de um maçom, parado
diante de uma estranha engenhoca, um gigantesco tripé de madeira com um sistema
de cordas e polias, no qual estava suspenso um imenso bloco de pedra. Um grupo
de espectadores bem-vestidos o rodeava. Levantando esse grande bloco de pedra?,
arriscou alguém. Langdon não disse nada, pois preferia, sempre que possível,
que algum outro aluno fizesse a correcção. Na verdade, sugeriu outro aluno,
acho que Washington está baixando a pedra. Ele está vestido com trajes maçónicos.
Já vi imagens de maçons assentando pedras angulares. Na cerimónia sempre tem
essa espécie de tripé para colocar a primeira pedra. Excelente, disse Langdon. O
mural mostra o pai do nosso país usando um tripé e uma polia para assentar a
pedra angular do Capitólio em 18 de Setembro de 1793, entre 11h15 e 12h30. Langdon
fez uma pausa, correndo os olhos pela sala. Alguém pode me dizer o significado
dessa data e hora?
Silêncio.
E se eu
dissesse que esse momento exacto foi escolhido por três famosos maçons: George
Washington, Benjamin Franklin e Pierre L'Enfant, o principal arquitecto da
capital?
Mais silêncio». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand
Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.
Cortesia de BertrandE/JDACT
JDACT, Dan Brown, Washington D.C., Literatura, Maçonaria,