«O príncipe das trevas é um cavalheiro». In Shakespeare
A Fita
«(…) Adoro você, encerrou Vanessa e desligou. Cotten guardou o telemóvel no bolso do casaco e parou para ver o monitor ao vivo no alto, atrás da mesa do saguão de entrada, o presidente fazia declarações com frase de efeito e tiradas batidas. Ela passou pela entrada de segurança e prendeu o crachá de identificação. Os primeiros sete andares do prédio eram ocupados pelos estúdios, pela produção, pelo departamento de áudio, de duplicação, de comunicação e de transmissão por satélite. Cotten saltou no oitavo andar, onde a SNN mantinha as salas de edição de vídeo e os arquivos. Cotten. Era Thornton Graham. Ela forçou um sorriso e inclinou a cabeça como forma de cumprimento. Droga, por que precisava encontrá-lo logo na entrada? O dia está tão bom para..., ei, tudo bem com você?, indagou ele. Você não me parece... Estou óptima. Não encontrei o rímel, só isso. Thornton beijou-lhe o rosto e ela sentiu a fragrância da colónia que ele usava, o que lhe inundou os pensamentos com lembranças vividas. Me dá um minuto?, ele indicou a sala dele. Estou mesmo com pressa. A sua edição é só daqui a uma hora..., eu verifiquei. Antes preciso fazer umas pesquisas. Senti a sua falta, ele quase sussurrou, tocando-lhe o braço e se aproximando. Fez-se um pesado silêncio.
Thornton... Ela balançou a cabeça, sem querer fitá-lo nos olhos. Por favor, é demais. Não é, não, insistiu ele. Eu amo você. Aquilo não foi amor, sussurrou ela. Você sabe disso. Cotten, eu amo você de verdade. Preciso ir agora. Ela seguiu pelo corredor. Cotten!, ele a chamou, mas ela não se voltou. Ela não chorou dessa vez..., era um bom sinal. Havia tomado a decisão certa, pensou, e conseguiria passar por essa. Se ao menos não o tivesse visto..., tocado nele.
Dentro
do departamento de arquivos de vídeo, Cotten sentou-se no terminal de
computador, digitou a senha de segurança e deu início à função de busca. Então
digitou Archer, Gabriel Em
poucos segundos, duas referências eram exibidas na tela. Ela seleccionou as
duas, digitou o comando de recuperação e virou-se para observar através da
parede de vidro. Um dos enormes carrosséis cheios de videocassetes girou. Um
braço robótico aproximou-se dele, scanear os códigos de barra, então pegou numa
cassete, moveu-se para o lado de um dos aparelhos de execução e inseriu a fita.
Uma janela de vídeo apareceu no terminal de Cotten e o som se projectou de cada
conjunto de alto-falantes montados de cada lado da tela. As imagens passaram
borradas pela velocidade elevada enquanto a máquina usava o código de tempo na
fita para localizar o segmento correcto. Houve uma curta pausa e então a imagem
e o som apareceram.
A primeira imagem era um letreiro eletrónico: busca da Arca, entrevista com Archer. Um breve artigo seguia-se a um programa de variedades mencionando Gabriel Archer, que Cotten descobriu tratar-se de um arqueólogo bíblico e integrante da equipa de busca dos vestígios da Arca de Noé. Não havia mais nada que parecesse importante. E nada lhe dava uma dica de como ele poderia saber falar com ela naquela língua. Afinal de contas, não se tratava de uma língua inventada..., na qual a mãe se admirava de ver as gémeas conversando?
Cotten
cancelou a fita e solicitou a segunda. Essa era mais longa e nela Archer era o
personagem principal. O foco era uma entrevista com ele em casa, em Oxford, na
Inglaterra. Embora a fita fosse de apenas alguns anos antes, Archer parecia
muito mais jovem, concluiu ela..., mais forte, saudável e animado. Ele segurava
um pequeno prato redondo de ouro que acabara de descobrir numa escavação em
Jerusalém, O prato estava recoberto de símbolos e ele alegava que datava da
época das Cruzadas. O reino dos céus é como um tesouro escondido num campo,
dizia Archer. Ele citou as escrituras muitas vezes durante a entrevista.
Acariciando o prato como se fosse uma criança, ele declarou: este artefacto me
levará ao maior tesouro dos céus». In Lynn Sholes e Joe Moore, A Conspiração do
Graal, 2005, Clube do Autor, 2020, ISBN 978-989-724-534-3.
Cortesia de CdoAutor/JDACT
JDACT, Lynn Sholes, Joe Moore, Literatura, Mistério, Médio Oriente,