O Mistério. Rennes-le-Chateau e Berenger Saunière
«(…) No dia 17 de Janeiro de
1917, Saunière, então com 65 anos, sofreu um derrame cerebral. A data de 17 de
Janeiro talvez seja suspeita, pois também aparecia na tumba da marquesa de
Hautpoul de Blanchefort, a tumba que Saunière havia erradicado. E 17 de Janeiro
é também a festa de Saint Sulpice, que reapareceria através de toda a nossa
história. Foi no seminário de Saint Sulpice que ele confiou seus pergaminhos ao
abade Bieil e a Emile Hoffet. O que torna o derrame de Saunière em 17 de Janeiro
mais suspeito é o facto de, cinco dias antes, em 12 de Janeiro, seus paroquianos
terem declarado que ele parecia estar gozando de uma saúde invejável para um
homem de sua idade. Entretanto, em 12 de Janeiro, segundo um recibo que está
connosco, Marie Denarnaud encomendou um caixão para seu mestre.
Quando Saunière estava em seu
leito de morte, o padre de uma paróquia vizinha foi chamado para ouvir sua última
confissão e administrar a extrema-unção. O padre chegou e confinou-se no quarto
do doente. De acordo com testemunhas oculares, ele saiu logo depois, visivelmente
chocado. Nas palavras de algumas testemunhas, nunca mais sorriu. Nas
palavras de outras, caiu numa depressão profunda que durou vários meses. Se são
afirmações exageradas não sabemos, mas o padre, presumivelmente com base na
confissão de Saunière, recusou-se a administrar-lhe o último sacramento.
Em 22 de Janeiro Saunière morreu
sem o perdão da confissão.
Na manhã seguinte seu corpo foi
colocado verticalmente numa poltrona no terraço da Torre Magdala, envolto numa
indumentária enfeitadas de pingentes com franjas escarlate. Certas pessoas
compadecidas e não identificadas desfilaram, uma a uma, muitas delas arrancando
franjas dos pingentes como lembrança do morto.
Nunca houve qualquer explicação
para tal cerimónia. Confrontados com ela, residentes actuais de Rennes-Ie-Château
ficam tão aturdidos como qualquer outra pessoa.
A leitura do testamento de Saunière
foi esperada com grande ansiedade. Para surpresa geral, contudo, ela revelou
que não tinha nenhum tostão. Algum tempo
antes de sua morte, aparentemente, transferira sua fortuna para Marie
Denarnaud, que compartilhara de sua vida e de seus segredos por 32 anos. Ou
talvez a maior parte daquela fortuna tenha estado em seu nome desde o início. Depois
da morte de seu mestre, Marie continuou a viver confortavelmente em VilIa
Bethania até 1946. Depois da Segunda Guerra Mundial, entretanto, o governo
francês recém-instalado estabeleceu uma nova moeda. Como meio de apreender
sonegadores de impostos, colaboradores e especuladores do tempo da guerra, os
cidadãos franceses eram obrigados a declarar seus rendimentos quando trocavam
francos velhos por novos.
Confrontada com a perspectiva de
ser obrigada a dar explicações, Marie escolheu a pobreza. Foi vista no jardim
da mansão, queimando maços de notas de francos velhos.
Durante os sete anos seguintes,
Marie viveu de forma austera, mantendo-se com o dinheiro obtido da venda de
ViIla Bethania. Prometeu confiar ao comprador, Noel Corbu, antes de morrer, um
segredo que o faria não só rico mas também poderoso.
Em 29 de Janeiro de 1953,
entretanto, Marie, como seu mestre antes dela, sofreu um súbito e inesperado
derrame cerebral que a deixou prostrada em seu leito, incapaz de falar. Para
grande frustração do senhor Corbu, ela morreu logo depois, carregando consigo o
segredo.
Os
Possíveis Tesouros
Em linhas gerais, esta é a história
na forma em que foi publicada na França nos anos 60. Foi a forma sob a qual a
descobrimos. E foi para as perguntas levantadas por ela que dirigimos nossa
pesquisa, do mesmo modo que outros pesquisadores o fizeram.
A primeira pergunta é bastante óbvia.
Qual era a fonte do dinheiro de Saunière? De onde poderia vir tão súbita e
enorme fortuna?
Haveria uma explicação banal? Ou
envolveria alguma coisa mais excitante? Esta segunda possibilidade deixava
entrever um aspecto fascinante do mistério, e nós não podíamos resistir ao
impulso de brincar de detectives.
Começamos por considerar as
explicações fornecidas por outros pesquisadores. Segundo vários deles, Saunière
tinha encontrado, na realidade, alguma espécie de tesouro. Uma conclusão plausível,
pois a história da cidade e de seus arredores incluía muitas possíveis fontes
de ouro e de jóias escondidos». In Michael Baigent, Richard Leigh e Henry
Lincolin, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, Editora Nova Fronteira, 2015,
ISBN 978-852-090-474-9.
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