O Mistério. A Intriga
«(…) Como talvez fosse de se
esperar, após a exibição do filme recebemos um dilúvio de cartas, elogiosas ou
excêntricas. Algumas ofereciam intrigantes
sugestões. Uma delas, que o autor não desejava ver publicada, parecia merecer
especial atenção. O missivista era um padre anglicano aposentado que parecia
ser um curioso e provocador non
sequitur. Escreveu com certeza e autoridade categóricas, com
asserções claras e objectivas, sem titubeios, e com aparente descaso por
acreditarmos ou não no que dizia. O tesouro, declarou sem escândalo, não
envolvia ouro ou pedras preciosas. Era, ao contrário, uma prova irrefutável de
que a crucificação havia sido uma fraude e que Jesus vivera até 45 d.C.
Isso soou, evidentemente,
absurdo. O que seria, mesmo para um ateu convicto, uma prova irrefutável da sobrevivência de Cristo à
crucificação? Éramos incapazes de imaginar algo crível que pudesse constituir não
somente prova, mas, além disso, fosse irrefutável. Ao mesmo tempo, a abrupta
extravagância da afirmação pedia esclarecimentos.
Como o autor da carta havia
fornecido endereço para retorno, na primeira oportunidade fomos vê-lo para
tentar uma entrevista. Ele foi muito mais reticente no contacto pessoal.
Aparentou arrependimento por nos haver escrito. Recusou-se a desenvolver sua referência
à prova irrefutável e só ofereceu um fragmento adicional de informação. A
prova, ou sua existência, havia sido revelada a ele por outro clérigo
anglicano, Alfred Leslie Lilley.
Lilley, que morreu em 1940, havia
publicado muito e não era desconhecido. Durante a maior parte de sua vida,
mantivera contatos com o Movimento
Modernista Católico, baseado principalmente em Saint Sulpice, em Paris, e
conhecia Emile Hoffet.
A trilha tornou-se circular, mas
a conexão entre Lilley e Hoffet nos impedia de rejeitar sumariamente as afirmações
do nosso missivista. Evidências similares de um segredo monumental haviam
surgido durante nossa pesquisa sobre a vida de Nicolas Poussin, o grande pintor
do século XVII, cujo nome reaparecia ao longo da história de Saunière. Em 1656,
Poussin, que vivia em Roma, teria recebido uma visita do abade Louis Fouquet,
irmão de Nicolas Fouquet, superintendente de finanças de Luís XIV da França. De
Roma, o abade despachara uma carta a seu irmão, descrevendo sua visita a
Poussin. Parte desta carta merece menção. Nós discutimos certas coisas que devo
sem óbice ser capaz de explicar-lhe em detalhes, coisas que lhe darão, através do Senhor
Poussin, vantagens que mesmo reis teriam dificuldades em obter e que, segundo ele,
é possível que ninguém mais venha a redescobrir nos próximos séculos. São
coisas tão difíceis de descobrir que nada sobre a Terra, hoje, pode significar
melhor ou igual fortuna.
Nenhum historiador ou biógrafo de
Poussin ou Fouquet explica esta carta, que se refere claramente a um assunto
misterioso de imensa importância. Logo depois de recebê-la, Nicolas Fouquet foi
detido e encarcerado por toda a vida. Segundo alguns relatos, foi mantido incomunicável,
alguns historiadores o vêem como o provável
Homem da Máscara de Ferro. Toda sua correspondência foi confiscada por Luís
XIV, que a inspecionou pessoalmente. Nos
anos que se seguiram o rei procurou obstinadamente obter o original de Les Bergers d'Arcadie, de Poussin. Quando finalmente
conseguiu, guardou o quadro em seus apartamentos privados, em Versalhes.
Embora de grande qualidade artística,
o quadro é aparentemente ingénuo. Três pastores e uma pastora, em primeiro
plano, estão reunidos em volta de uma grande e antiga tumba, contemplando a inscrição
na pedra envelhecida: ET IN ARCADlA EGO. No fundo vislumbra-se uma paisagem
montanhosa, irregular, do tipo geralmente associado com Poussin. Segundo
Anthony Blunt e outros especialistas em Poussin, essa paisagem é totalmente mística,
produto da imaginação do pintor. Entretanto, no início dos anos 70, uma tumba
real foi localizada, idêntica àquela do quadro, idêntica em cenário, dimensões, proporções, forma,
vegetação e até mesmo» In Michael Baigent, Richard Leigh e Henry
Lincolin, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, Editora Nova Fronteira, 2015,
ISBN 978-852-090-474-9.
Cortesia de ENFronteira/JDACT
JDACT, Michael Baigent, Richard Leigh, Henry Lincolin, Literatura, Religião, Conhecimento,