O Mistério. Os Possíveis Tesouros
«(…) Mais de três séculos depois,
em 410 d.C., Roma foi por sua vez saqueada. Invasores visigodos, liderados por
Alaric, o Grande, pilharam toda a riqueza da Cidade Eterna. Segundo o
historiador Procopius, Alaric escapou com os tesouros de Salomão, rei dos hebreus,
maravilhas aos olhos, pois eram em sua maioria enfeitados de esmeraldas e
haviam sido roubados de Jerusalém pelos romanos. Um tesouro poderia então ser a
fonte da inexplicável fortuna de Saunière. O padre poderia ter descoberto um
dos vários tesouros, ou um único que mudara de mãos repetidamente através dos
séculos, passando talvez do Templo de Jerusalém aos romanos, depois aos
visigodos e finalmente aos cátaros e/ou aos
templários.
Estaria explicado o facto de o
tesouro pertencer a Dagobert II e a Sion. Até aí nossa história parecia ser
essencialmente uma história de tesouros. Como tal - mesmo envolvendo o Templo
de Jerusalém, seria de relevância limitada. Pessoas estão constantemente descobrindo
tesouros de um tipo ou de outro. São, com frequência, descobertas excitantes,
dramáticas e misteriosas, e muitas delas lançam
importantes luzes sobre o passado. Poucas, no entanto, exercem alguma influência directa, de ordem política
ou não, sobre o presente, a menos, é claro,
que o tesouro em questão inclua um segredo de algum tipo, possivelmente
explosivo. Nós não eliminamos a
possibilidade de Saunière haver descoberto um tesouro. Ao mesmo tempo, parecia
claro que, além de qualquer outra coisa, ele descobrira também um segredo histórico
de imensa importância no seu tempo, e talvez no nosso. Dinheiro, ouro ou jóias não explicariam, por si mesmos, muitas facetas
de sua história. Não levariam à sua
introdução no círculo de Hoffet, por exemplo, à sua associação com Debussy ou à
sua relação com Emma Calvé. Não explicariam o imenso interesse da Igreja no assunto, a impunidade com a qual Saunière
desafiara o bispo ou sua subsequente exoneração pelo Vaticano, que pareceu
mostrar uma preocupação urgente com o caso. Não explicariam a recusa de um
padre em ministrar a extrema-unção a um moribundo, ou a visita de um arquiduque
de Habsburgo a uma longínqua cidadezinha dos Pirinéus, especialmente numa ocasião,
em 1916, em que seu país estava em guerra com a França. Dinheiro, ouro ou jóias tampouco
explicariam a poderosa aura de mistificação que envolveu todo o caso, desde os
códigos sofisticados até a queima, por Marie Denarnaud, de sua herança em dinheiro.
E a própria Marie prometera divulgar um segredo que conferia não só fortuna, mas
poder .
Na medida em que as informações
se acumulavam, ficávamos cada vez mais convencidos de que a história de Saunière
envolvia, além de riqueza, um segredo polémico. Por outras palavras,
pareceu-nos que o mistério não estava confinado a um remoto e isolado vilarejo
e a um padre do século XIX. Algo irradiava de Rennes-le-Château e produzia
ondas, talvez mesmo uma enchente, no mundo exterior.
Teria a fortuna de Saunière vindo
não de algo com valor intrinsecamente financeiro, mas do conhecimento de alguma
coisa?
Se este era o caso, poderia tal
conhecimento ter-se traduzido em bens materiais? Poderia ter sido utilizado em
chantagem, por exemplo? Seria a fortuna de Saunière oriunda do pagamento pelo
seu silêncio?
Nós soubemos que ele recebera
dinheiro de Johann Von Habsburgo.
Ao mesmo tempo, o segredo do
padre, qualquer que fosse, parecia ser de natureza mais religiosa que política.
Além disso, suas relações com o arquiduque austríaco, segundo todos os relatos,
era marcadamente cordial. Por outro lado, no final de sua carreira o Vaticano
ameaçava-o com luvas de veludo e parecia
bastante temeroso dele. Estaria Saunière chantageando o Vaticano? Tal chantagem
seria tarefa presunçosa e arriscada para
um homem, qualquer que fossem suas precauções. E se ele estivesse sendo ajudado
e apoiado por outros, cuja importância os tornasse invioláveis, tais como os
Habsburgo? E se o arquiduque Johann fosse apenas um intermediário, e o dinheiro
fornecido por ele a Saunière proviesse, na realidade, dos cofres de Roma?
O Mistério. A Intriga
O primeiro de nossos três filmes
sobre Saunière e o mistério de Rennes-Ie-Château, O tesouro perdido de Jerusalém, foi exibido em Fevereiro de 1972. Não usava
argumentos polémicos.
Simplesmente, narrava a história
básica, tal como foi contada nas páginas anteriores. Não houve qualquer
especulação sobre a existência de um segredo explosivo ou de chantagem em altas
esferas. Vale mencionar que o filme não citava o nome de Emile Hoffet, o jovem seminarista parisiense a quem Saunière
confidenciou seus pergaminhos». In Michael Baigent, Richard Leigh e Henry
Lincolin, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, Editora Nova Fronteira, 2015,
ISBN 978-852-090-474-9.
Cortesia de ENFronteira/JDACT
JDACT, Michael Baigent, Richard Leigh, Henry Lincolin, Literatura, Religião, Conhecimento,