domingo, 14 de maio de 2023

O Santo Graal e a Linhagem Sagrada. Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincolin. «Não houve qualquer especulação sobre a existência de um segredo explosivo ou de chantagem em altas esferas. Vale mencionar que o filme não citava o nome de Emile Hoffet, o jovem seminarista…»

 

Cortesia de wikipedia e jdact

O Mistério. Os Possíveis Tesouros

«(…) Mais de três séculos depois, em 410 d.C., Roma foi por sua vez saqueada. Invasores visigodos, liderados por Alaric, o Grande, pilharam toda a riqueza da Cidade Eterna. Segundo o historiador Procopius, Alaric escapou  com os tesouros de Salomão, rei dos hebreus, maravilhas aos olhos, pois eram em sua maioria enfeitados de esmeraldas e haviam  sido roubados de Jerusalém  pelos romanos. Um tesouro poderia então ser a fonte da inexplicável fortuna de Saunière. O padre poderia ter descoberto um dos vários tesouros, ou um único que mudara de mãos repetidamente através dos séculos, passando talvez do Templo de Jerusalém aos romanos, depois aos visigodos e finalmente aos cátaros e/ou  aos templários.

Estaria explicado o facto de o tesouro pertencer a Dagobert II e a Sion. Até aí nossa história parecia ser essencialmente uma história de tesouros. Como tal - mesmo envolvendo o Templo de Jerusalém, seria de relevância limitada. Pessoas estão constantemente descobrindo tesouros de um tipo ou de outro. São, com frequência, descobertas excitantes, dramáticas e misteriosas, e muitas delas lançam  importantes luzes sobre o passado. Poucas, no entanto, exercem  alguma influência directa, de ordem política ou não, sobre o presente,  a menos, é claro, que o tesouro em questão inclua um segredo de algum tipo, possivelmente explosivo.  Nós não eliminamos a possibilidade de Saunière haver descoberto um tesouro. Ao mesmo tempo, parecia claro que, além de qualquer outra coisa, ele descobrira também um segredo histórico de imensa importância no seu tempo, e talvez no nosso. Dinheiro, ouro ou jóias  não explicariam, por si mesmos, muitas facetas de sua história. Não levariam  à sua introdução no círculo de Hoffet, por exemplo, à sua associação com Debussy ou à sua relação com Emma Calvé. Não explicariam o imenso interesse da Igreja  no assunto, a impunidade com a qual Saunière desafiara o bispo ou sua subsequente exoneração pelo Vaticano, que pareceu mostrar uma preocupação urgente com o caso. Não explicariam a recusa de um padre em ministrar a extrema-unção a um moribundo, ou a visita de um arquiduque de Habsburgo a uma longínqua cidadezinha dos Pirinéus, especialmente numa ocasião, em 1916, em que seu país estava em guerra com  a França. Dinheiro, ouro ou jóias tampouco explicariam a poderosa aura de mistificação que envolveu todo o caso, desde os códigos sofisticados até a queima, por Marie Denarnaud, de sua herança em dinheiro. E a própria Marie prometera divulgar um segredo que conferia não só fortuna, mas poder .

Na medida em que as informações se acumulavam, ficávamos cada vez mais convencidos de que a história de Saunière envolvia, além de riqueza, um segredo polémico. Por outras palavras, pareceu-nos que o mistério não estava confinado a um remoto e isolado vilarejo e a um padre do século XIX. Algo irradiava de Rennes-le-Château e produzia ondas, talvez mesmo uma enchente, no mundo exterior.

Teria a fortuna de Saunière vindo não de algo com valor intrinsecamente financeiro, mas do conhecimento de alguma coisa?

Se este era o caso, poderia tal conhecimento ter-se traduzido em bens materiais? Poderia ter sido utilizado em chantagem, por exemplo? Seria a fortuna de Saunière oriunda do pagamento pelo seu silêncio?

Nós soubemos que ele recebera dinheiro de Johann Von Habsburgo.

Ao mesmo tempo, o segredo do padre, qualquer que fosse, parecia ser de natureza mais religiosa que política. Além disso, suas relações com o arquiduque austríaco, segundo todos os relatos, era marcadamente cordial. Por outro lado, no final de sua carreira o Vaticano ameaçava-o com  luvas de veludo e parecia bastante temeroso dele. Estaria Saunière chantageando o Vaticano? Tal chantagem  seria tarefa presunçosa e arriscada para um homem, qualquer que fossem suas precauções. E se ele estivesse sendo ajudado e apoiado por outros, cuja importância os tornasse invioláveis, tais como os Habsburgo? E se o arquiduque Johann fosse apenas um intermediário, e o dinheiro fornecido por ele a Saunière proviesse, na realidade, dos cofres de Roma?

O Mistério. A Intriga

O primeiro de nossos três filmes sobre Saunière e o mistério de Rennes-Ie-Château, O tesouro perdido de Jerusalém,  foi exibido em Fevereiro de 1972. Não usava argumentos polémicos.

Simplesmente, narrava a história básica, tal como foi contada nas páginas anteriores. Não houve qualquer especulação sobre a existência de um segredo explosivo ou de chantagem em altas esferas. Vale mencionar que o filme não citava o nome de Emile Hoffet, o jovem  seminarista parisiense a quem Saunière confidenciou  seus pergaminhos».  In Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincolin, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, Editora Nova Fronteira, 2015, ISBN 978-852-090-474-9.

Cortesia de ENFronteira/JDACT

JDACT, Michael Baigent, Richard Leigh, Henry Lincolin, Literatura, Religião, Conhecimento,