sábado, 2 de setembro de 2023

Largada das Naus. António Borges Coelho. «Como comarca, o Alentejo vinha muito à frente: 1700 besteiros contra 1179 da Estremadura onde se situavam três dos centros urbanos mais populosos»

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Tempos de Boa Memória (1383-1433)

Principais cidades e vilas

«Os besteiros provinham da gente dos ofícios mecânicos, sapateiros, ferreiros, alfaiates, que maioritariamente laboravam nos centros urbanos. Assim sendo, o rol dos besteiros de 1421, publicado nas Ordenações Afonsinas, permite assinalar no mapa os principais povoados, o mesmo é dizer. permite-nos medir a força do povo miúdo, meão e melhor, isto é dos burgueses ou homens dos burgos. O rol tem servido também para calcular o número de portugueses. Seriam um milhão ou mais.

Apuraram-se 4906 besteiros, assim distribuídos: Alentejo 1700, Estremadura 1179,Beira 1077, Entre Douro e Minho 550, Trás-os-Montes 400. Comparando estes números com os 1000 besteiros ordenados pelas Cortes de Guadalajara de 1390 ou os 8000 do reino de França, infere-se que Portugal não descurava os perigos que vinham de Castela nem os riscos que vinham da política do Mar. As preocupações com a segurança levaram João I a criar, em 1392, um corpo de elite, os besteiros de cavalo.

Os números evidenciam o povoamento disperso característico do Norte, em particular da região de Entre Douro e Minho, e o povoamento agrupado do Sul. Indicam também que os lugares mais povoados se situavam na Estremadura, no Alentejo e no Algarve.

Por ordem decrescente e até 30 besteiros, as localidades ordenavam-se do seguinte modo: Lisboa 300, Évora 100, Coimbra 100, Santarém 100, Guimarães 100. Eram os principais centros urbanos do reino: um em Entre Douro e Minho, outro no Alentejo e três na Estremadura. mas Lisboa vinha muito à frente.

Num segundo patamar, ficavam Elvas 80, Beja 80, Setúbal 65, Torres Vedras 62, Almada 60, Braga 50, Guarda,50. O Porto, burgo por excelência, vivia do comércio marítimo, da pesca e da construção naval, mas só participava com 40 besteiros, ao lado de Olivença 40, Estremoz 40,Leiria 40, Tomar 40, Mértola 40.

No último patamar ficavam Valelhas 39, Faria e Rates 33, Pena Maior 32, Alcácer 30. Silves 30, Faro 30, Tavira 30, Serpa 30, Portalegre 30, Avis 30, Vila Viçosa 30, Monsaraz 34, Montemor-o-Novo 30, Abrantes e Punhete 30, Montemor-o-Velho 30, Ponte de Lima 30, Vila Real 30, Terra de Chaves 30, Bragança 30, Pinhel 30, Covilhã 30, Viseu 30. Lafões 30, Castelo Branco 30.

Como comarca, o Alentejo vinha muito à frente: 1700 besteiros contra 1179 da Estremadura onde se situavam três dos centros urbanos mais populosos. Nalgumas províncias, as cidades e vilas eram ilhas num mar de ruralidade, dominado pela fidalguia e os senhores eclesiásticos.

Os campos

A massa da população dedicava-se à agricultura e à criação de gado. Havia grandes diferenças entre o Norte, o Centro e o Sul. Nas Cortes de Lisboa de 1427, dizia-se que em Entre Douro e Minho e na Beira não haveria cavões e jornaleiros por dinheiro. Tal não significava que não existissem, desde há muito, cabaneiros, homens que viviam do trabalho braçal, em boa parte pago em géneros, e que não tinham mais que uma cabana. Significava que aí era predominante a economia assente em casais, adubados com o suor familiar e exauridos pela renda feudal». In António Borges Coelho, Largada das Naus, História de Portugal, 1385-1500, Editorial Caminho, 2011, ISBN 978-972-212-464-5.

 Cortesia de ECaminho/JDACT

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