segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Memórias da Erra. Maria A. Mendes Brotas. «A pedra estava ao comprido com a parede do lado do Evangelho, assente verticalmente sobre três imperfeitas cabeças de leão, a qual foi comprada em hasta pública em 1887…»

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Com a devida vénia a Vanessa Caetano e Bruno Pedro

«Em 1887 ainda se podiam vet as ruínas da bela igreja Matriz, destruída em 1775, restando dela apenas a torre sineira do cemitério. Numa das faces da torre pode ver-se um escudo com as armas reais mantelado por um chapéu episcopal, o qual deve ser o escudo do bispo dom Lourenço Alencastre. A fundação da velha igreja deve-se a alguma jornada de Afonso Henriques depois da tomada de Santarém. Nas suas ruínas encontraram numa das paredes da capela-mor, fechando uma sepultura, uma pedra com brasões insculpidos, tendo uma inscrição em letra gótica e a data de 1507. Esta pedra tinha três brasões, num dos quais, o do lado esquerdo, se viam dois animais desconhecidos e, em volta, doze grupos de quinas; o do lado direito tinha no centro duas réguas em X com uma estrelinha em cada um dos quatro ângulos e em volta doze cruzinhas também em X; o escudo do centro era circundado por quinze castelos, um dos quais tinha um grupo de sete floretes, uma fivela e flores semelhantes às flores de lis. Por cima destes três escudos lia-se com dificuldade em letra gótica: Aqui jaz… corte d’el-rei… da Erra… suas mulheres… que… faleceu… de mil quinhentos e sete.

 inscrição anterior era a seguinte:  Aqui jaz Álvaro de Campos da corte d'El-Rei e senhor desta vila da Erra, e suas mulheres com elle, que faleceo na era de mil quinhentos e sete.

A  pedra estava ao comprido com a parede do lado do Evangelho, assente verticalmente sobre três imperfeitas cabeças de leão, a qual foi comprada em hasta pública em 1887 pelo senhor João Godinho, de Almeirim, bem como outras arrancadas das paredes da igreja. A Junta de Paróquia chegou a oferecê-la ao Museu Arqueológico de Santarém e este mandou um carro para a levar, mas o povo revoltou-se no acto do carregamento contra a determinação da Junta e não consentiu que ela saísse. A Junta então resolveu vendê-la e assim se perdeu. Valor material e mesmo artístico tinha pouco, mas arqueológico creio que tinha bastante». In Maria Amélia Mendes Brotas, Memórias da Erra, Câmara Municipal de Coruche, Gráfica Central de Almeirim, 2001, Depósito Legal 163515/01.

 Cortesia da CMCoruche/JDACT

JDACT, Maria A. Mendes Brotas, Coruche, Erra, Vanessa Caetano, Bruno Pedro, Cultura, Conhecimento, Literatura,