segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Memórias da Erra. Maria A. Mendes Brotas. «A Erra tornou-se vila em 18 de Setembro de 1375, possivelmente em consequência da Lei das Sesmarias. Até aí pertenceu ao concelho de Coruche, mas nesse mesmo ano o monarca Fernando I criou a vila da Erra…»

jdact

Com a devida vénia a Vanessa Caetano e Bruno Pedro

A origem do nome da Erra

«Conta-se que o nome desta terra era Vila Nova, mas quando Afonso Henriques se dirigia com as suas tropas para conquistar Santarém enganou-se no caminho e veio parar à Erra.

Perguntou então a um dos seus habitantes qual o nome desta localidade, ao que ele respondeu: Vila Nova, meu senhor.

Então Afonso Henriques ordenou: A partir de agora chamar-se-á Vila Nova do Erro.

Com o rodar dos tempos alterou-se o nome para Vila Nova da Erra ou, simplesmente, Erra.

Apontamentos históricos sobre a Erra

É-me impossível dizer a idade desta terra, que parece ser antiquíssima, já que não existem documentos históricos, pois não houve ninguém que cuidasse da sua conservação. Não tenho dúvida em acreditar que esta vila foi tomada aos mouros por Afonso Henriques em 1165.

A Erra foi uma povoação muito importante fundada pelos romanos. O padre Gaspar Barreiros, no seu livro Corografia, editado em 1560, revela que na Erra teve assento o Aritium Praetorium onde residia o governador romano provincial e onde tinha o seu tribunal para julgamento; facto é que aqui se têm encontrado lápides funerárias e moedas romanas.

A Erra tornou-se vila em 18 de Setembro de 1375, possivelmente em consequência da Lei das Sesmarias. Até aí pertenceu ao concelho de Coruche, mas nesse mesmo ano o monarca Fernando I criou a vila da Erra, elevou-a a sede de concelho e dela fez mercê aos próprios moradores. Nesse documento se enumeram os privilégios concedidos a todos aqueles que desejassem vir morar para aqui, privilégios esses que foram confirmados por João I, o que motivou que entre o concelho de Coruche e a vila da Erra começassem a surgir rivalidades. O próprio rei teve de intervir em 1380 para resolver as questões levantadas. Coruche não aceitava o novo concelho, mas o rei confirmou-o. A luta era por causa dos limites, da água de regadio e cortes de madeira, tendo João I, em 1425, traçado os limites definitivos do concelho. A Erra teve o seu Foral em 10 de Julho de 1514, dado por Manuel I, e deve ter atingido o seu período de engrandecimento nos princípios do século XVI. Nessa época incluía nos seus domínios a aldeia de Santa Justa.

Na Erra havia Câmara, juiz ordinário, cadeia, forca, hospital  (propriedade da Misericórdia em regime de internato), um convento, uma bela igreja matriz e as capelas da Misericórdia e a de São Caetano. Em 1823-24 ainda existia Câmara, como o prova um Livro de Actas que se encontra no Arquivo Municipal dee Coruche. Era formada por dois juízes, três vereadores e um procurador, eleitos de três em três anos. O hospital ficava em frente da cadeia, da qual ainda existem ruínas.

Havia também uma esquisita chaminé a que chamavam forca, que se supõe ser do solar da família Vidigal Paes, a qual foi demolida em 1883 e arrancados todos os alicerces da antiga casa. Encontraram aí uma pedra sem data, mas com inscrição de uma instituição de missas pela família Cota Falcão. O sítio ficou denominado por Casas Altas, mas vivem aqui pessoas que dizem ter sido na Cova do Cardeta que existiu a forca». In Maria Amélia Mendes Brotas, Memórias da Erra, Câmara Municipal de Coruche, Gráfica Central de Almeirim, 2001, Depósito Legal 163515/01.

Cortesia da CMCoruche/JDACT

JDACT, Maria A. Mendes Brotas, Coruche, Erra, Vanessa Caetano, Bruno Pedro, Cultura, Conhecimento, Literatura,