«(…) Barcelona, cidade cabeça do reino de Aragão, é dotada das suas Drassanes Reials entre 1282 e 1285, no reinado de Pedro III de Aragão, pai da esposa de dom Dinis. As tercenas de Barcelona estão intimamente ligadas ao processo de expansão mediterrânica A estrutura erguida nessa época consistia num recinto rectangular, fortificado em três lados. As dimensões totais teriam cerca de 102m de comprimento, no eixo mar-terra e 81m de amplitude no eixo paralelo ao mar. A estrutura original teria nove naves, as quais teriam capacidade para 18 galés.
No
caso de Lisboa, as primeiras referências documentais a um palatium navigo-rium
regis, ou seja a um Paço das naus do rei, situado na Freguesia de Santa
Maria da Madalena, surge ainda no reinado de Sancho II. No entanto nada mais se
pode acrescentar a esta breve informação sobre estas estruturas de apoio às
actividades navais. As escavações arqueológicas conduzidas por Artur Rocha no
local do actual Museu do Dinheiro, ou seja, no extremo ocidental da margem
ribeirinha do arrabalde ocidental da Lisboa medieval, revelaram que esta zona
da cidade estaria ainda sob a influência das marés, antes da construção do muro
Norte das Tercenas. Deste modo é possível afirmar que esta zona, não estaria
ainda urbanizada em meados do século XIII. A primeira referência documental à
existência de tercenas régias, apenas surge no reinado de dom Dinis, em 1294,
quando são referidas umas Casas das Galés pertencentes à Coroa, no contrato
para a construção da muralha da Ribeira celebrado entre dom Dinis e o concelho.
Poucos anos depois, no Livro dos Bens Próprios, um inventário da propriedade
régia composto entre 1299 e 1300, é afirmado que o rei possuía, na Ribeira, 13
taracenas onde estavam, nesse momento, 12 galés. Pelas confrontações que surgem
em vários documentos da época é possível reconstituir parcialmente as tercenas
originais de dom Dinis. Assim sendo, as 13 taracenas, referidas no Livro dos
Bens Próprios, parecem corresponder a um edifício organizado em 13 naves. As
reconstituições que aqui apresentamos alicerçaram-se em três áreas distintas.
A
primeira foi um estudo comparativo com tercenas medievais de várias cidades
marítimas, o que nos possibilitou a compreensão da forma arquitectónica destas
estruturas. A segunda foi a consulta à documentação medieval referente a
Lisboa, com especial enfoque na documentação notarial, o que nos revelou os
limites aproximados das tercenas régias de Lisboa e a evolução desta estrutura
ao longo da idade média. O terceiro e último componente, fundamental para a
nossa reconstituição, consistiu na confrontação dos dados provenientes de
escavações arqueológicas com todas as outras informações recolhidas. Além
destes três campos de investigação foi também imprescindível a consulta aos
vários estudos publicados sobre as tercenas de Lisboa, destacando-se alguns autores:
Augusto Vieira da Silva, José Vasconcelos Menezes, e Fernando Gomes Pedrosa». In Manuel Fialho Silva e Nuno Fonseca,
As Tercenas Régias de Lisboa: dom Dinis a dom Fernando, O Mar como
Futuro de Portugal, Academia de Marinha, Lisboa, 2019, ISBN- 978-972-781-145-8.
Cortesia de AcademiadaMarinha/JDACT
JDACT, Manuel Fialho Silva, Nuno Fonseca, Cultura e Conhecimento, Armada,