sábado, 4 de junho de 2022

O Legado de Madalena. Laurence Gardner. «… porque razão a Igreja de Roma virou as costas para essa mulher devotada, difamando seu nome por séculos? Será que os bispos realmente acreditam que uma pecadora deva ser necessariamente uma prostituta…»

Cortesia de wikipedia e jdact

A Primeira dama

«Nos Evangelhos do Novo Testamento, várias companheiras de Jesus são citadas em sete ocasiões. Em seis delas, Maria Madalena é o primeiro nome. Na sétima citação, a mãe de Jesus está em primeiro lugar e, em noutra citação, Maria Madalena está sozinha. Na sua relação com Jesus, ela é apresentada como uma mulher que o servia, e aparece pela última vez no Evangelho como a primeira pessoa a falar com Jesus após a sua ressurreição no sepulcro. Na literatura do início da Era Cristã, fica evidente que Maria Madalena ocupava um lugar especial na vida de Jesus e nos corações dos seus seguidores. Posteriormente, entretanto, os bispos da Igreja decidiram que Maria deveria ter sido uma prostituta, aparentemente porque uma das referências bíblicas classifica-a como uma pecadora. O facto, na mente dos bispos, indicava uma mulher de virtude livre. Porém, no versículo seguinte do Evangelho é dito que Maria tinha sido uma mulher importante e uma das pessoas que apoiavam Jesus. Posteriormente, na visão do Evangelho, Maria Madalena é vista como uma pessoa próxima da mãe de Jesus, que a acompanhou na crucificação. Antes disso, é dito que Jesus amou Maria. Portanto, porque razão a Igreja de Roma virou as costas para essa mulher devotada, difamando seu nome por séculos? Será que os bispos realmente acreditam que uma pecadora deva ser necessariamente uma prostituta, ou isso foi simplesmente uma desculpa para algo que eles preferiam ocultar?

Nas próximas páginas, consideraremos o abrangente legado de Maria Madalena, suas descrições bíblicas, suas aparições em Evangelhos não canónicos, sua vida conforme foi registada pelos narradores, sua situação clerical e académica, suas descrições no mundo das belas-artes e sua relevância no mundo de hoje. A posição de Maria é, sob muitas formas, única; apesar de seu aparente papel de apoio na história cristã, ela surge como uma das principais figuras. Como é afirmado em alguns dos Evangelhos que foram excluídos do Novo Testamento, Maria Madalena foi a mulher que conhecia tudo sobre Jesus. Foi aquela a quem Cristo amou mais que a todos os seus discípulos e ela foi, também, o apóstolo favorecido com o conhecimento, a visão e a percepção muito mais amplos que Pedro.

Meu primeiro encontro com Maria Madalena ocorreu na década de 1980. Eu estava fazendo uma restauração e era consultor de conservação do Fine Art Trade Guild, em Londres. Um quadro intitulado Penitent Magdalene (Madalena Arrependida) chegou para limpeza e reparos uma obra italiana do século XVIII de autoria de Franceschini Marcantonio, da escola de Bolonha. Numa tentativa de restauração anterior, o quadro havia sido grosseiramente afixado (forrado) numa outra tela que tinha de ser removida. Como parte de um curso de preservação de pinturas, eu estava correndo contra o tempo e escrevi os detalhes dessa restauração em particular no Guild Journal. Mas, nesse estágio, meus interesses estavam nos aspectos físicos do processo de restauração, não no tema do quadro. Só mais tarde, quando estava analisando as fotografias do trabalho concluído, foi que comecei a pensar sobre certas características da imagem. Madalena foi retratada com jóias e um espelho, e, ainda assim, o quadro foi intitulado Penitent Magdalene, o que me pareceu bem incoerente.

Segurando os cabelos com uma das mãos e um brinco de pérola com a outra, ela parecia bastante feliz, e nada indicava que ela estivesse arrependida. Então, porque o título? Descobri, verificando a procedência do quadro, que seu título registado, Penitent Magdalene, foi mais um tipo de classificação do que um título dado pelo artista. Para ele, o quadro tinha sido apenas um retrato estilizado de Maria Madalena. Os géneros são comuns no mundo da arte dos retratos daquela época, Apesar de os artistas frequentemente assinarem ou personalizarem suas pinturas, normalmente não davam títulos a elas. Títulos românticos geralmente eram atribuídos, mais tarde, pelos proprietários, pelas galerias e pelos comerciantes títulos em que os artistas talvez jamais houvessem pensado. A Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, é um bom exemplo. Ela é conhecida por esse nome no mundo que fala inglês, mas na França (onde hoje permanece, no Louvre) é conhecida como La Joconde e na Itália, como La Gioconda. Um outro exemplo recente é o quadro de James AM Whistler, intitulado por ele como Arrangement in Grey and Black (arranjo em cinza e negro), mas que desde sua morte tem sido apelidado de Whistler’s Mother.

Os quadros de Jesus caem em categorias similares e raramente o contrário. Eles começam com A Natividade, que é subdividida em temas como A Adoração dos Pastores e Adoração dos Magos. Continuam com os retratos Madona e a Criança e as cenas de O Descanso na Fuga para o Egipto. Depois há descrições de Jesus, Apresentação no Templo, seguidas por várias outras cenas importantes em todo o seu mistério até à crucificação, ressurreição e subsequente ascensão». In Laurence Gardner, O Legado de Madalena, Conspiração da Linhagem de Jesus e Maria, Revelações sobre o Código Da Vinci, 2005, Editora Madras, ISBN 978-853-700-022-9.

Cortesia de EMadras/JDACT

JDACT, Laurence Gardner, Religião, Maria Madalena,