quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Os Bastardos Reais. Isabel Lencastre. «Mas quem lhe herdou a causa foi seu irmão mais novo, o infante dom Dinis. Aclamado rei pelos portugueses exilados em Castela, com aplauso da rainha dona Beatriz, filha do rei dom Fernando…»

 

jdact

O Bastardo do rei Bravo

«(…) Nas Cortes de Coimbra de 1385 havia três partidos: o Partido Legitimista, que apoiava os reis de Castela; o Partido Legitimista-Nacionalista, que defendia o infante dom João; e o Partido Nacionalista, que defendia o Mestre de Avis. Foi este quem ganhou a contenda, beneficiando nomeadamente da prisão do filho de Inês de Castro. Com efeito, se em Portugal se desejava que reinasse um português, tudo recomendava, por muitos e bons direitos que assistissem a dom João, futuro duque de Valência de Campos, esquecer a sua candidatura e defender a do outro dom João, Mestre de Avis, que estava livre em Portugal e podia assim fazer frente ao maior perigo, representado pelo terceiro João desta disputa, o rei de Castela. Mas, depois de as Cortes de Coimbra aclamarem a realeza do Mestre de Avis e este ter vencido a batalha de Aljubarrota, o filho de Inês de Castro tornou-se feroz inimigo do novo monarca português. Libertado da sua prisão pelo rei de Castela, dom João recebeu dele o encargo de governar Portugal em seu nome. E foi com o título de regente que atravessou a fronteira para combater o rei de Boa Memória, seu meio-irmão.

Os combates chegaram ao fim em Novembro de 1389, com as tréguas de Monção. E, de regresso à corte castelhana, dom João foi feito duque de Valência do Campo. Mas o rei de Castela morreu no ano seguinte, sucedendo-lhe Henrique III, que, filho do primeiro casamento de seu pai, com dona Leonor de Aragão, não tinha qualquer direito à coroa de Portugal nem estava disposto a alimentar guerras com o país vizinho. Dom João de Castro continuou a reivindicar a coroa de seu meio-irmão, mas sem contar com apoios políticos e militares para fazer vencer a sua causa. E por 1397 morreu, deixando vários filhos: (1) dom Fernando Eça, nascido do seu primeiro casamento, um devasso acabado, que tinha o fraco de casar, chegando ao ponto de ter às vezes três e quatro mulheres vivas, e um nunca acabar de filhos, que, segundo os nobiliários, podem ter sido quarenta e dois; (2) dona Maria; (3) dona Beatriz e (4) dona Joana de Portugal, filhas do segundo casamento; e (5) dom Afonso, senhor de Cascais; (6) dom Pedro Guerra (que se acolheu à protecção do rei de Boa Memória ainda em vida de seu pai, fazendo-lhe dom João I grandes mercês e honras); (7) dom Fernando de Portugal, senhor de Bragança; e (8) dona Beatriz Afonso, bastardos.

Mas quem lhe herdou a causa foi seu irmão mais novo, o infante dom Dinis. Aclamado rei pelos portugueses exilados em Castela, com aplauso da rainha dona Beatriz, filha do rei dom Fernando, tentou fazer valer o que dizia ser os seus direitos, entrando em Portugal pela fronteira da Beira. Derrotado, não voltou a tentar a sua sorte. Mas não renunciou às suas pretensões. Falecido nos primeiros anos do século XV, sua filha, dona Beatriz, construiu-lhe um mausoléu no Mosteiro de Guadalupe, onde dom Dinis é declarado rei de Portugal…» In Isabel Lencastre, Os Bastardos Reais, Os Filhos Ilegítimos, Oficina do Livro, 2012, ISBN 978-989-555-845-2.

Cortesia de OdoLivro/JDACT

JDACT, História de Portugal, Isabel Lencastre,  O Paço Real,  Conhecimento,