O Bastardo do rei Bravo
«(…) Nas Cortes de Coimbra de
1385 havia três partidos: o Partido Legitimista, que apoiava os reis de
Castela; o Partido Legitimista-Nacionalista, que defendia o infante dom João; e o Partido Nacionalista, que defendia
o Mestre de Avis. Foi este quem ganhou a contenda, beneficiando nomeadamente da
prisão do filho de Inês de Castro. Com efeito, se em Portugal se desejava que
reinasse um português, tudo recomendava, por muitos e bons direitos que
assistissem a dom João, futuro duque de Valência de Campos, esquecer a sua
candidatura e defender a do outro dom João, Mestre de Avis, que estava livre em
Portugal e podia assim fazer frente ao maior perigo, representado pelo terceiro
João desta disputa, o rei de Castela. Mas, depois de as Cortes de Coimbra
aclamarem a realeza do Mestre de Avis e este ter vencido a batalha de
Aljubarrota, o filho de Inês de Castro tornou-se feroz inimigo do novo monarca
português. Libertado da sua prisão pelo rei de Castela, dom João recebeu dele o
encargo de governar Portugal em seu nome. E foi com o título de regente que
atravessou a fronteira para combater o rei de Boa Memória, seu meio-irmão.
Os combates chegaram
ao fim em Novembro de 1389, com as tréguas de Monção. E, de regresso à corte
castelhana, dom João foi feito duque de Valência do Campo. Mas o rei de Castela
morreu no ano seguinte, sucedendo-lhe Henrique III, que, filho do primeiro casamento
de seu pai, com dona Leonor de Aragão, não tinha qualquer direito à coroa de
Portugal nem estava disposto a alimentar guerras com o país vizinho. Dom João
de Castro continuou a reivindicar a coroa de seu meio-irmão, mas sem contar com
apoios políticos e militares para fazer vencer a sua causa. E por 1397 morreu,
deixando vários filhos: (1) dom Fernando Eça, nascido do seu primeiro
casamento, um devasso acabado, que tinha o fraco de casar, chegando ao ponto de
ter às vezes três e quatro mulheres vivas, e um nunca acabar de filhos, que,
segundo os nobiliários, podem ter sido quarenta e dois; (2) dona Maria; (3) dona
Beatriz e (4) dona Joana de Portugal, filhas do segundo casamento; e (5) dom Afonso,
senhor de Cascais; (6) dom Pedro Guerra (que se acolheu à protecção do rei de
Boa Memória ainda em vida de seu pai, fazendo-lhe dom João I grandes mercês e
honras); (7) dom Fernando de Portugal, senhor de Bragança; e (8) dona Beatriz
Afonso, bastardos.
Mas quem lhe herdou a
causa foi seu irmão mais novo, o infante dom Dinis. Aclamado rei pelos
portugueses exilados em Castela, com aplauso da rainha dona Beatriz, filha do
rei dom Fernando, tentou fazer valer o que dizia ser os seus direitos, entrando
em Portugal pela fronteira da Beira. Derrotado, não voltou a tentar a sua
sorte. Mas não renunciou às suas pretensões. Falecido nos primeiros anos do século
XV, sua filha, dona Beatriz, construiu-lhe um mausoléu no Mosteiro de Guadalupe,
onde dom Dinis é declarado rei de Portugal…» In Isabel
Lencastre, Os Bastardos Reais, Os Filhos Ilegítimos, Oficina do Livro, 2012,
ISBN 978-989-555-845-2.
Cortesia de OdoLivro/JDACT
JDACT, História de Portugal, Isabel Lencastre, O Paço Real, Conhecimento,