Com a devida vénia ao Dr. José Maria Rodrigues (3.1761-06184643-2), Coimbra, 1910
Volta de Ceuta
«(…)
Vós,
que escuitais em rimas derramado
dos
suspiros o som, que me alentava
na
juvenil idade, quando andava
em
outro em parte do que sou mudado,
sabei
que busca só, do já cantado
no
tempo em que eu temia ou esperava,
de
quem o mal provou, que eu tanto amava,
piedade,
e não perdão, o meu cuidado.
Pois
vejo que tamanho sentimento
só
me rendeu ser fabula da gente
(do
que comigo mesmo me envergonho),
sirva
de exemplo claro meu tormento,
com
que todos conheçam claramente
que
quanto ao mundo apraz é breve sonho.
(Soneto
101)
É
certo que este soneto é, por assim dizer, uma tradução do 1.º soneto de
Petrarca; mas não se segue d'ahi que nelle se não encontrem elementos
autobiographicos do nosso poeta. Reproduzo o soneto do poeta italiano, porque é
um elemento de interpretação para o de Camões.
Voi
ch'ascoltate in rime sparse il suono
di
quei sospiri ond'io nudriva il core
in
sul mio primo giovenile errore,
quand'era
in parte altr'uom da quel ch'i'sono;
Del
vario stile in ch'io piango e ragiono
fra
le vane speranze e'l van dolore,
ove
sia chi per prova intenda amore,
spero
trovar pietà, non che perdono.
Ma
ben veggi'or si come ai popol tutto
favola
fui gran tempo: onde sovente
di
me medesmo meço mi vergogno:
e
dei mio vaneggiar vergogna è'l frutto,
e
'1 pentirse, e '1 conoscer chiaramente
che
quanto piace ai mondo è breve sogno.
In Dr José Maria Rodrigues, Camões e a
Infanta D. Maria, Separata do Instituto, Imprensa da Universidade de Coimbra,
Coimbra, 1910, há memória do Mal-Aventurado Príncipe Real Luís Philippe (3 1761
06184643.2), PQ 9214 R64 1910 C1
Robarts/.
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