Com a devida vénia ao Dr. José Maria Rodrigues (3.1761-06184643-2), Coimbra, 1910,
Em Lisboa
«Chronologicamente, a primeira poesia em que Camões se
occupa da filha do rei Emanuel é, me parece, o soneto 134.
Apresentado á excelsa e gentil senhora e por ella afavelmente
acolhido, o modesto escudeiro ficou deslumbrado !
No dia seguinte, o seu amigo João Lopes Leitão, pagem da
lança do mallogrado principe herdeiro, e pessoa muito apreciada na corte, recebia
estas confidencias:
Senhor João Lopes, o meu baixo estado
Ontem vi posto em grau tão excellente,
Que, sendo vós inveja a toda a gente,
Só por mi vos quiséreis ver trocado.
O gesto vi, suave e delicado,
Que já vos fez contente e descontente (1),
Lançar ao vento a voz tão docemente,
Que fez o ar sereno e sossegado.
(1) O poeta allude, naturalmente, a algum facto análogo
(se não é o mesmo) ao que deu occasião a uns conhecidos versos de Andrade
Caminha e á resposta de Lopes Leitão. Diz a rubrica, que precede esses versos: «A
João Lopes Leitão, estando preso em sua casa, por entrar uma porta a ver as damas
contra vontade do porteiro». P. de Andrade (Caminha, Poesias, p. 36 1 (Lisboa, 1791).
Eis como termina a resposta do jovial amigo de Camões:
Estou-me agora doendo
De quem tiver para si
Que é melhor andar vendo
Verduras, que estar aqui.
Ninguém haja dó de mi.
Por me ver nesta prisão ;
Hajam de meu coração.
Que vê tanto dano em si.
De vontades alheias, que eu roubava,
E que enganosamente recolhia
Em meu fingido peito, me mantinha.
O engano de maneira lhes fingia.
Que, despois que a meu mando as subjugava.
Com amor as matava, que eu não tinha
Porém logo o castigo que convinha
O vingativo Amor me fez sentir.
(Canção 2ª)
Nesta canção, cscriptu cm Ceuta,
o poeta uttribue ao Amor a culpa tida manuelpelo joven, transcreverei algumas passagens
de obras e documentos coevos e de escriptores modernos, as quaes constituem o melhor
commentario ao soneto que fica reproduzido, especialmente aos versos 5 a 10. Começarei
pela informação que, em carta de 21 de Janeiro de 1557, enviava a Carlos V o
seu embaixador, Sancho de Córdova, que tinha vindo a Lisboa tratar da entrega da
filha do rei Emanuel a sua mãe, a rainha D. Leonor, já então viuva também de
Francisco L Repare-se que o diplomata espanhol chega a empregar palavras que também
se lecm no soneto. «(La senora Infanta) es persona de grande entendimento y
cordura, y mui reposada, y de poças palabras y bien dichas y de las valerosas personas
que he visto». In Dr José Maria
Rodrigues, Camões e a Infanta D. Maria, Separata do Instituto, Imprensa da
Universidade de Coimbra, Coimbra, 1910, há memória do Mal-Aventurado Príncipe
Real Luís Philippe (3 1761 06184643.2), PQ
9214 R64 1910 C1 Robarts/.
Cortesia do AHistórico/UCoimbra/JDACT
Camões, Didácticas, Infanta D. Maria, JDACT, Dr José Maria Rodrigues, Universidade de Coimbra, 500 Anos de Camões,