quinta-feira, 20 de junho de 2024

Dr José Maria Rodrigues. Camões. A Infanta D. Maria (1521-1577). «De vontades alheias, que eu roubava, e que enganosamente recolhia em meu fingido peito, me mantinha. O engano de maneira lhes fingia…»

Cortesia de Publicações Foriente

Com a devida vénia ao Dr. José Maria Rodrigues (3.1761-06184643-2), Coimbra, 1910,

Em Lisboa

«Chronologicamente, a primeira poesia em que Camões se occupa da filha do rei Emanuel é, me parece, o soneto 134.

Apresentado á excelsa e gentil senhora e por ella afavelmente acolhido, o modesto escudeiro ficou deslumbrado !

No dia seguinte, o seu amigo João Lopes Leitão, pagem da lança do mallogrado principe herdeiro, e pessoa muito apreciada na corte, recebia estas confidencias:

Senhor João Lopes, o meu baixo estado

Ontem vi posto em grau tão excellente,

Que, sendo vós inveja a toda a gente,

Só por mi vos quiséreis ver trocado.

 

O gesto vi, suave e delicado,

Que já vos fez contente e descontente (1),

Lançar ao vento a voz tão docemente,

Que fez o ar sereno e sossegado.

 

(1) O poeta allude, naturalmente, a algum facto análogo (se não é o mesmo) ao que deu occasião a uns conhecidos versos de Andrade Caminha e á resposta de Lopes Leitão. Diz a rubrica, que precede esses versos: «A João Lopes Leitão, estando preso em sua casa, por entrar uma porta a ver as damas contra vontade do porteiro». P. de Andrade (Caminha, Poesias, p. 36 1 (Lisboa, 1791).

Eis como termina a resposta do jovial amigo de Camões:

Estou-me agora doendo

De quem tiver para si

Que é melhor andar vendo

Verduras, que estar aqui.

 

Ninguém haja dó de mi.

Por me ver nesta prisão ;

Hajam de meu coração.

Que vê tanto dano em si.

 

De vontades alheias, que eu roubava,

E que enganosamente recolhia

Em meu fingido peito, me mantinha.

O engano de maneira lhes fingia.

Que, despois que a meu mando as subjugava.

Com amor as matava, que eu não tinha

Porém logo o castigo que convinha

O vingativo Amor me fez sentir.

(Canção 2ª)

Nesta canção, cscriptu cm Ceuta, o poeta uttribue ao Amor a culpa tida manuelpelo joven, transcreverei algumas passagens de obras e documentos coevos e de escriptores modernos, as quaes constituem o melhor commentario ao soneto que fica reproduzido, especialmente aos versos 5 a 10. Começarei pela informação que, em carta de 21 de Janeiro de 1557, enviava a Carlos V o seu embaixador, Sancho de Córdova, que tinha vindo a Lisboa tratar da entrega da filha do rei Emanuel a sua mãe, a rainha D. Leonor, já então viuva também de Francisco L Repare-se que o diplomata espanhol chega a empregar palavras que também se lecm no soneto. «(La senora Infanta) es persona de grande entendimento y cordura, y mui reposada, y de poças palabras y bien dichas y de las valerosas personas que he visto». In Dr José Maria Rodrigues, Camões e a Infanta D. Maria, Separata do Instituto, Imprensa da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1910, há memória do Mal-Aventurado Príncipe Real Luís Philippe (3 1761 06184643.2), PQ 9214 R64 1910 C1 Robarts/.

 Cortesia do AHistórico/UCoimbra/JDACT

Camões, Didácticas, Infanta D. Maria, JDACT, Dr José Maria Rodrigues, Universidade de Coimbra, 500 Anos  de Camões,