sábado, 29 de junho de 2024

Madeline Hunter. Deslumbrante. «Já fui em outras festas com as crianças presentes. Não me lembro de vê-la nessas. Só estive com elas um ano, antes de conhecer o capitão Joyes e deixar minha posição. Na cidade ninguém ouviu falar que houvesse algum homem na casa»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…)  Então deixarei a indicação para ela vir para aqui assim que retornar. Olhou para o lado. Lizzie, pode... Ora essa, onde é que ela se enfiou? Estava aqui mesmo antes de a Celia trazê-lo e até leu o seu cartão... Estalou a língua em sinal de exasperação. Por favor, aguarde aqui, lord Sebastian, enquanto vou pessoalmente dizer para nos enviarem miss Kelmsleigh.

Deixou-o no meio da vegetação. O ar tinha um aroma luxuriante cuja densidade húmida continha um pouco de tudo. Citrinos e rosas e até o laivo fresco da erva. Uma pessoa podia se inebriar com um perfume daqueles. Enfiou o dedo na terra de um dos vasos em que mrs. Joyes estivera trabalhando. Tocou no volume de um bulbo. Desceu tranquilamente o corredor, passando por vários limoeiros em vasos e por mesas de botões floridos. No fundo do edifício uma videira crescia dentro do vidro. A raiz encontrava-se do lado de fora, mas o pé espesso entrava por um buraco aberto na parede de tijolo. As várias gavinhas trepavam por apoios robustos, estirando-se depois por barras de ferro, colocadas meio metro acima da sua cabeça. Debaixo deste frondoso caramanchão interior, estavam uma mesa de pedra e quatro cadeiras, compondo uma vinheta toscana.

Foi uma experiência, esclareceu mrs. Joyes, regressando. A videira, não pensei que resultasse. Deve ser agradável ficar sentado a esta mesa nos dias ensolarados de Inverno. Tem um belo conservatório de plantas.

É uma estufa. A maior parte daquilo que as pessoas chamam conservatórios na realidade são estufas, ou estufas de forçagem. Imagino que a palavra não seja suficientemente requintada e por isso a designação incorrecta se tenha tornado comum. Um verdadeiro conservatório de plantas faz isso mesmo, limita-se a conservar as plantas durante o Inverno, período em que estão em dormência. Temos um desses, também, no fundo do jardim. O rosto dela voltou a prender sua atenção.

Queira me desculpar, acho que fui inadvertidamente grosseiro. Já nos cruzamos, tenho certeza, mas não consigo me lembrar onde. Já nos cruzamos, realmente, anos atrás. Eu trabalhava como governanta para a família do duque de Becksbridge. Fomos apresentados um ao outro numa recepção no jardim, à qual fui autorizada a ir com a mais velha das minhas pupilas. Tem uma memória excelente para as pessoas insignificantes com as quais se cruza na vida, lord Sebastian. Se ela fosse de facto insignificante, ele poderia merecer o elogio, mas duvidava de que algum homem esquecesse que a conhecera.

Já fui em outras festas com as crianças presentes. Não me lembro de vê-la nessas. Só estive com elas um ano, antes de conhecer o capitão Joyes e deixar minha posição. Na cidade ninguém ouviu falar que houvesse algum homem na casa. O seu marido está ao serviço da marinha?

Esteve no exército. Morreu na Guerra Peninsular. A pergunta não alterou a graciosidade da sua postura, mas os olhos, escurecendo um pouco, revelaram que o assunto ainda lhe causava dor. Se me der licença novamente, vou ver porque demora Audrianna. Já devia ter voltado». In Madeline Hunter, Deslumbrante, Edições ASA, 2013, ISBN 978-989-232-372-5.

Cortesia de EASA/JDACT

JDACT, Madeline Hunter, Escrita, Saber,