«(…) A seguir, entrara na panela de pressão. Houvera um longo almoço na Sala de Jantar da Família oferecido às mulheres dos dirigentes da maioria e minoria no Senado e Casa de Representantes, assim como às de vários chefes de comissões importantes. Depois, recebera os vencedores de um concurso de pintura patrocinado por uma associação nacional de deficientes, após o que o próprio Ladbury, acabado de chegar de Londres, aparecera para a prova preliminar dos vestidos que ela esperava usar na União Soviética e Inglaterra. Sem uma pausa, auxiliada pela criada pessoal, Sarah Keating, imergira na busca de um velho livro de recortes dos tempos da universidade de que Guy Parker necessitava para fonte de consulta da autobiografia que escrevia em seu nome. Logo em seguida, descera a escada apressadamente e dirigira-se ao Jardim das Rosas. Fazia uma tarde de Agosto cálida e, no ambiente aprazível, recebera a delegação das Escuteiras e respectivas chefes, no intuito de distribuir os prémios às que haviam prestado serviços notáveis à comunidade com menos de cinco minutos disponíveis, acompanhara Nora à Sala Oval Amarela do primeiro piso, onde os representantes da Imprensa tomavam chá, enquanto a aguardavam.
E agora, decorrida mais de uma
hora, tinha consciência de que a conferência de Imprensa chegara ao fim. Nora e
Laurel encontravam-se de pé, ladeando-a, e ela ergueu-se do sofá com prontidão
para murmurar palavras de agradecimento aos presentes e despedir-se. Quando a
sala se esvaziou, Billie pemaneceu de pé, sem energia. O sorriso formal, longamente
congelado nas feições pálidas clássicas, converteu-se numa expressão rígida. O
dia crucial chegara ao fim, mas faltava ainda uma coisa. Havia um derradeiro
acto a efectuar. Empertigando-se, abandonou a sala só, seguiu pelo extenso
corredor em direcção ao elevador e entrou na cabina. Minutos depois,
encontrava-se na Ala Oeste, rumo à Sala do Gabinete. Embora raramente se
sentisse apreensiva ou nervosa, acudiam-lhe ambas as emoções naquele momento. O
espaçoso aposento cheirava a couro e fumo de charuto. Como previra, eles
achavam-se lá, os cinco, sentados na extremidade mais próxima da mesa de mogno,
olhos ainda cravados nos écrans
dos dois monitores de televisão, os quais apresentavam imagens da Sala Oval
Amarela que ela acabava de abandonar.
O mais corpulento do grupo, de
tronco maciço como um barril, general Ivan Petrov, chefe do KGB, pôs-se de pé
imediatamente, com um sorriso de satisfação no largo rosto eslavo. Ah, Vera
Vavilova! Acercou-se dela e beijou-a nas faces com formalidade. Foi extraordinária,
minha amiga. Uma interpretação sem a mínima falha. Os meus parabéns! Atrás
dele, os outros o coronel Zhuk, Alex Razin e dois homens que não conhecia tinham-se
levantado igualmente para a felicitar. Obrigada articulou ela, sentindo o
coração voltar a palpitar normalmente. Muito obrigada. Terminou, pois, o ensaio
geral volveu o general Petrov. Fez uma pausa para a observar com curiosidade.
Pensa que está preparada? Creio que sim foi a resposta firme.
Muito bem. Ele pegou no boné.
Vamos ao Kremlin informar o Primeiro-Ministro. Quando saíram da Sala do
Gabinete, ela seguiu-os e acompanhou-os com o olhar, enquanto entravam na
limusina e abandonavam a falsa Casa Branca, atravessando o portão no muro
elevado, aberto por guardas do KGB. Olhando através do espaço, avistou as
distantes cúpulas e agulhas douradas no interior do Kremlin e o perfil de Moscovo.
Mais três dias, após cerca de três duros anos, reflectiu. Por fim, Vera
Vavilova sorriu para consigo. Desta vez, um sorriso autêntico. Sim, estava
preparada». In Irving Wallace, A Segunda Dama, 1980, Editora Livros do Brasil,
Colecção Dois Mundos, 1983, ISBN 978-972-380-936-7.
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