quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Amantes dos Reis de Portugal. Paula Lourenço, Ana Cristina Pereira e Joana Troni. «Como vivo em grande cuidado por meu amigo que ei alongado. Muito me tarda o meu amigo na Guarda! Ai eu coitada! Como vivo em grande desejo…»

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As amantes

«Os filhos bastardos e estas duas amantes foram contemplados no testamento do rei, indicador da importância que teriam para o monarca que, enquanto pai, assumia as suas responsabilidades. Também cuidará do futuro do neto da sua filha ilegítima, Teresa Sanches, Fernando.

Uma amante régia ascendia a um estatuto que lhe conferia privilégios que se prolongavam, sobretudo, pelos seus filhos. Assim' casar com uma mulher que fora amante do rei não era desprestigiante. Pelo contrário, e assim se entende os casamentos que ambas fizeram com homens da corte de Sancho I.

Maria Aires de Fornelos, filha de Aires Nunes de Fornelos, casou com Gil Vasques Soverosa, filho de Vasco Fernandes, alferes-mor do reino.

Da sua ligação com o monarca não mais sabemos do que dados biográficos. Desta união nasceram Martim Sanches de Portugal, conde de Trastâm ara, e Urraca Sanches. Ao que tudo indica, foram entregues, para que os criasse, a Marinha Viegas, figura ligada à importante família Riba Douro. O filho que tiveram, Martim Sanches, disputará o trono com o legítimo herdeiro da coroa, o futuro Afonso II.

O feitiço da Ribeirinha

A Ribeirinha eta filha de Urraca Nunes de Bragança e de Paio Moniz de Ribeira e Cabreira, que foi alferes-mor de Sancho I a partir de 1199, o que poderá ter sido a razão da aproximação entre os dois amantes. De acordo com a tradição, foi neste-preciso ano que Sancho I, em viagem pelas terras da Guarda, ficou enfeitiçado por Maria Pais Ribeiro. Ou então em Coimbra se aceitarmos a sugestão do conde de Sabugosa: nos Paços, a par da Sé de Coimbra, em noites de sarau, quando o luar batia em cheio nas varandas e terraços da Alcáçova e iluminava a paisagem mórbida do Mondego, enquanto os rouxinóis namorados palravam nos salgueiros, as rãs coaxavam idílios amorosos nas represas dos rios, e, lá dentro, nas salas, as jogralezas arqueavam provocantemente os corpos nas danças lascivas.

Esta paixão foi imortalizada em versos da suposta autoria de Sancho I. Escritos ou não pelo monarca, certo é que esta relação não passava despercebida à sociedade de então:

Ai eu coitada!

Como vivo em grande cuidado

por meu amigo que ei alongado.

Muito me tarda

O meu amigo na Guarda!

Ai eu coitada!

Como vivo em grande desejo

Por meu amigo que tarda e não vejo!

Muito me tarda

O meu amigo na Guarda!»

In Paula Lourenço, Ana Cristina Pereira, Joana Troni, Amantes dos Reis de Portugal, 2008, Editora Esfera dos Livros, 2011, ISBN 978-989-626-136-8.

Cortesia de EEsferadosLivros/JDACT

JDACT, Paula Lourenço, Ana C. Pereira, Joana Troni, História, Cultura e Conhecimento, Escrita, Aspectos da Vida Quotidiana,