terça-feira, 27 de julho de 2010

O Infante D. Fernando: O mais novo dos membros da Ínclita Geração. Enviou de Arzila a sua última carta. Na mensagem, o infante dirigia-se ao rei pedindo-lhe que cumprisse o acordo assumido por seu irmão Henrique, que entregasse Ceuta e o libertasse

(1402-1443)
Cortesia de wikipédia
Fernando de Portugal, dito o Infante Santo foi um príncipe da Dinastia de Avis. Fernando era o oitavo filho do rei João I e de sua mulher Filipa de Lencastre, o mais novo dos membros da Ínclita Geração.

Cortesia de idademediadc
Fernando cedo se mostrou interessado na questão religiosa e, ainda muito jovem, foi ordenado Grão Mestre da Ordem de Avis pelo seu pai. Por ser o irmão mais novo, não tem acesso, como os mais velhos, a tantas riquezas, e intenta pôr-se ao serviço do Papa, ou de outro soberano europeu para ganhar prestígio e «rendas». Por motivação dos irmãos mais velhos acaba por desistir, virando as suas atenções para a luta em Marrocos, da qual lhe poderia vir imensa fortuna.
Deste modo, em 1437 participa numa expedição militar ao Norte de África, comandada pelo irmão mais velho o Infante D. Henrique, mas com o voto desfavorável dos outros infantes, Pedro, Duque de Coimbra e João, Infante de Portugal e do próprio Rei D. Duarte que, vítima de estranhos pressentimentos, só muito a contragosto consentiu na intentona. O Rei terá entregue ao Infante D. Henrique uma carta com algumas recomendações úteis, que foram por algum motivo ignoradas. A campanha revelou-se um desastre e, para evitar a chacina total dos portugueses, estabelece-se uma rendição pela qual as forças portuguesas se retiram, deixando o infante como penhor da devolução de Ceuta (conquistada pelos portugueses em 1415). Segundo as crónicas, o Infante pressentiu o seu destino, já que ao despedir-se do irmão, o Infante D. Henrique, lhe terá dito «Rogai por mim a El-Rei, que é a última vez que nos veremos»!

Fernando foi entretanto levado para Fez, sendo tratado ora com todas as honras, ora como um prisioneiro de baixa condição, sobretudo depois de uma tentativa de evasão gorada, patrocinada por Portugal. Daí escreve ao seu irmão D. Pedro, então regente do reino, pedindo a sua libertação a troco de Ceuta. O infante D. Pedro, Regente em nome do menino D. Afonso V, tentou negociar a sua libertação. A correspondência com D. Fernan­do manteve-se até, pelo menos, 1442 - data da última carta que mandou a D. Pedro. «Sempre pen­sei que antes da morte vos veria», escreveu.

Morreu de disenteria, em Junho ou Julho de 1443, com 40 anos.  .

Mas a divisão verificada na Corte em torno deste problema delicado e diversas ocorrências ocorridas com os governadores da praça-forte levam a que D. Fernando assuma o seu cativeiro com resignação cristã e morra no cativeiro de Fez em 1443 — acabando assim o problema da devolução ou não de Ceuta por se resolver naturalmente. Pelo seu sacrifício em nome dos interesses nacionais, viria a ganhar o epíteto de Infante Santo.

De regresso a Portugal, D. Henrique deu conta ao rei do desaire e do compromisso que assumira. Perante a gravidade da situação, entregar Ceuta, significava renunciar à primeira conquista em África, D. Duarte decidiu convocar a assembleia mais importante do reino. Nas Cortes reunidas em Leiria, os representantes do clero, da nobreza e dos concelhos começaram por ouvir a leitura de uma carta enviada de Arzila, para onde D. Fernando tinha sido levado. Na mensagem, o infante dirigia-se ao rei pedindo-lhe que cumprisse o acordo assumido por D. Henrique: que entregasse Ceuta e o libertasse.
Os infantes D. Pedro e D. João, com alguns fidalgos e a maior parte dos procuradores dos concelhos, o «povo» manifestaram-se pela entrega de Ceuta e pela libertação de D. Fernando. Outro grupo manifestou-se a favor do resgate do infante por outros meios, diplomáticos e militares, in­cluindo nova expedição a Marrocos que obrigasse os mouros a libertá­-lo: não punha de lado a hipótese de entregar Ceuta.
O arcebispo de Braga, D. Fernando da Guerra, bisneto de D. Pedro e D. Inês, apoiado pela maioria do clero, opôs-se à entrega de Ceuta sem licença do Papa, uma vez que se tratava de terra cristã que não deveria voltar a ser muçulmana.
A maioria dos nobres, encabeçada pelo conde de Arraiolos, depois duque de Bragança, recusou em definitivo entregar Ceuta. O infante D. Henrique não foi às Cortes de Leiria. Os participantes apontaram-lhe responsabilidades pelo falhanço de Tânger e cen­suraram a sua inabilidade como chefe militar. Apesar disso, encon­trou-se a sós com o rei e deu-lhe o seu parecer: Ceuta não devia ser entregue em nenhum caso.
D. Duarte morreu de peste em 1438, com 46 anos. No seu testamento deixou a vontade de libertar o irmão, ainda que em troca de Ceuta.

Tela de Jaime Martins Barata
Cortesia de outrasescritas
Quando D. Afonso V conquistou Tânger, em 1471, os restos mortais de D. Fernando foram trasladados para o mosteiro da Batalha, onde hoje repousam ao lado dos pais e irmãos, na Capela do Fundador.

Cortesia de «A Última Carta do Infante Santo e a Falência do seu Resgate» de Domingos Gomes dos Santos.
http://www.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA7/medievalista-amaral7.htm
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/3465.pdf
http://www2.dlc.ua.pt/classicos/Lazeraque.pdf
 
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