quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Pre-Raphaelites: Victorian Avant Garde. Molduras, as artes plásticas na Antena 2. Rui Gonçalves Cepeda. «A exposição, na Tate Britain (Londres), até 13 de Janeiro de 2013, apresenta um conjunto de cerca de 150 obras: pintura, desenho, escultura, vitral, fotografia, mobiliário, e tapeçaria organizadas de forma cronológica»

Cortesia de Wikipedia/antena2
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«A revolução social, acontecida durante os finais do século XVIII, serviu de guia para a revolução industrial e tecnológica que se seguiu. A Europa durante o século XIX foi palco de um extraordinário e vasto conjunto de transformações que afectaram os vários extremos da sociedade. Conjuntamente com as guerras de independências das colónias inglesa, espanholas e portuguesa no continente americano, o século XIX é, também, sinónimo das Grandes Exposições em Paris, Londres, e Nova Iorque, das invenção e descobertas cientificas, ao nível da química (fotografia), da metalúrgica (os caminhos de ferro), da história da evolução do ser humano ('A Origem das Espécies'). O Neo-Classicismo e Romantismo (vestígio do Iluminismo) foram substituídos pelos Impressionismo, Simbolismo, Cubismo, etc. nas Belas Artes.
É durante este período que surge a Pre-Raphaelites Brotherhood (PRB) em Londres, em 1848. Formada por um núcleo de artistas, quase familiar, composto por irmãos, filhas, esposas e amigos (John Everett Millais, Dante Gabriel Rossetti e os seus irmãos, William Michael Rossetti e Christina Georgina Rossetti, William Holman Hurt, e muitos outros) os PRB quiserem distanciar-se da filosofia imposta até esse momento no meio artístico Britânico. Primordialmente, um meio claramente sob a influência do pensamento desenvolvido pelo pintor do século XVIII, Joshua Reynolds (1723-1792), especializado em retratos idealizados sob o cânone determinado pela Antiguidade Grega-Clássica, e pelo classicismo da Alta-Renascença; mas também pelas linguagem artística desenvolvida e representada nos retratos, principalmente de mulheres, concebidos por Thomas Gainsborough (1727-1788), nas paisagens inglesas de John Constable, ou, ainda, na linguagem pictórica desenvolvida nos poemas de cor criados por J. M. W. Turner (1775-1851), definida por três ingredientes essenciais: forma, luz e cor, e seguida por muitos pintores. A composição era essencial.

Os PRB re-interpretaram as figuras familiares da arte da época Vitoriana (coincidente com o longo reinado da Rainha Vitória, 1837-1901) e introduziram "novos" elementos nessa linguagem. O movimento tomou como seus os princípios defendidos pelo principal crítico de arte da era Victoriana, John Ruskin (1819-1900), da prolongada e extenuante examinação dos detalhes, à semelhança com a natureza, e realista, à variedade, à contemporaneidade, e às emoções - Timothy Hilton veio recentemente defender que uma pessoa não pode pensar no Pre-Raphaelismo sem reflectir sobre o amor, algumas vezes no deleite, mas nunca na felicidade, pois esta nunca é expressa. Eles procuraram através de pinturas de inspiração religiosa democratizar o sagrado: The Girlhood of Mary Virgin (1848-9), por Dante Gabriel Rossetti (1828-1882), Christ in the House of His Parents (The Carpenter's Shop) (1849-50), por John Everett Millais (1829-1896); pintaram a vida social contemporânea e os seu problemas, Work (1852-65), por Ford Madox Brown (1821-1893), por exemplo, celebra a nobreza e o sagrado do trabalho; e, especialmente, os problemas relacionados com a sexualidade: The Awakening Concience (1853-4), por William Homan Hunt (1827-1910), é um exemplo da moralidade e salvação presentes nas pinturas religiosas e de cenas da vida moderna. No entanto, e apesar de os curadores da exposição querem apelidar o movimento como de vanguarda, a 'Pre-Raphaelites Brotherhood' (PRB) está mais próxima de ser um movimento reformista das belas artes que surgiu durante a era do reinado da Rainha Vitória (a era Vitoriana é notória pelo emprego de crianças em fábricas e minas e pela ausências de nus na pintura), ao relacionar arte com sexualidade no espaço contemporâneo e ao se inspirar na pintura religiosa do pré-Renascimento (séculos XIII e XIV). Este Pré-Raphaelismo estará, provavelmente, mais associado com a Revolução Industrial Inglesa, com conflito entre a doutrina científica e a dogmática religiosa, e às ilustrações de histórias de fadas para crianças, editadas durante este período. Por outro lado, a segunda metade da exposição, apresenta-nos um conjunto de trabalhos que transitam da abordagem realista à natureza, sociedade e religião para uma exploração das possibilidades estéticas. Por volta de 1860, o Pré-Raphaelismo procura dar mais valor à 'beleza' do que à 'verdade' e metamorfoseia-se num movimento estético - através do uso da fotografia Julia Margaret Cameron conseguiu transportar esta forma expressiva de uma forma mais representativa e impactante do que as pinturas Pre-Raphaelites -, onde, numa primeira fase, a face e o corpo da mulher são o sujeito: The Beloved ('The Bride') (1865-6), por Rossetti; ou o simbolismo de The Rock of Doom e Perseus Slaying the Sea Serpent (1875-77), por Edward Burne-Jones, (1833-1898) onde o corpo nu em dialogo com o mitológico oferece uma imaginária distinta da violência constrangedora da era Vitoriana. E, já numa segunda fase, os processos de manufactura e produção emanaram da Revolução Industrial, permitiram a William Morris (1834-1896) e Burne-Jones dar origem ao movimento Arts & Crafts. Este movimento toma os seus princípios na ideia do socialismo utópico. Num período em que a classe trabalhadora começa a usufruir de algo anteriormente reservado à classe dominante - tempo de lazer -, a procura de objectos com capital estético passa a ser uma condição imposta socialmente; e a necessidade de entretenimento para ocupar este novo tempo disponível provoca os excessos e a despreocupação que irá culminar na primeira grande guerra.

Como escreveu recentemente o critico e director do Institute of Contemporart Art, de Londres, Gregor Muir, sobre os Young British Artists (YBA), os PRB foram uns 'Lucky Kunst', num período da história da arte em que a Reino Unido teimava em ficar na retaguarda dos desenvolvimentos artísticos. A exposição " Pre-Raphaelites: Victorian Avant-Garde", na Tate Britain (Londres), até 13 de Janeiro de 2013, apresenta um conjunto de cerca de 150 obras: pintura, desenho, escultura, vitral, fotografia, mobiliário, e tapeçaria organizadas de forma cronológica em sete salas temáticas». In Rui Gonçalves Cepeda, Pre-Raphaelites: Victorian Avant Garde, Antena 2, Teresa Pizarro.

Cortesia de Molduras/JDACT