quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Os Bastardos Reais. Isabel Lencastre. «Filho herdeiro de João I e marido de dona Leonor de Aragão, o rei dom Duarte teve cinco filhos legítimos: (1) Afonso V; (2) Fernando, duque de Viseu, que foi pai do rei dom Manuel I; dona Leonor, que casou com Frederico III…»

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Os Bastardos de Avis. Os Bastardos do Rei Bastardo

«(…) Afonso, duque de Bragança, ambicionou para o filho o título de Condestável do Reino, que fora de seu sogro. Mas o infante Pedro já o reservara para o seu próprio filho, também chamado Pedro, que viria a ser mestre de Avis e, depois, rei de Aragão. Por isso, os dois irmãos voltaram a zangar-se. E a oposição do duque de Bragança ao regente não mais teve descanso. Em 1446, quando o rei atingiu a maioridade, Afonso tratou de o incompatibilizar com o regente Pedro. Este acabou por ser afastado da corte pelo sobrinho, que era também seu genro. Em 1447, com efeito, Afonso V casara com dona Isabel, filha do duque de Coimbra e da condessa de Urgel, sua mulher.

Caído em desgraça no ano seguinte ao casamento da filha, o infante Pedro foi acusado pelo partido do duque de Bragança de ter envenenado a rainha dona Leonor, viúva de dom Duarte (que faleceu em Castela, no ano de 1445), e de ter mesmo tentado matar Afonso V, para sentar no trono o seu filho. O príncipe defendeu-se como pôde. Mas sem sucesso.

Em Outubro de 1448, Afonso V, o rei Africano, chamou Afonso à corte. Mas aconselhou-o a vir bem acompanhado de homens e armas, uma vez que tinha de atravessar as terras do Mondego, que pertenciam ao infante Pedro. O duque de Bragança marchou sobre Lisboa na Semana Santa de 1449, à frente de um exército de três mil homens, mas o duque de Coimbra não lhe consentiu a passagem pelos seus domínios, pelo que Afonso foi forçado a mudar o itinerário. E, quando chegou à corte, apresentou queixa contra o antigo regente. Reunido o conselho do rei para apreciar o protesto, foi o infante Pedro declarado rebelde e desleal ao monarca. E este decidiu ir submeter pelas armas o sogro e os seus partidários. Enfrentou-os e derrotou-os a 20 de Maio de 1449, em Alfarrobeira, perto de Alverca, numa batalha em que o antigo regente Pedro perdeu a vida.

Afonso viverá mais uma dúzia de anos, na companhia de sua segunda mulher, Constança Noronha, filha daquele conde de Gijón e Noronha que casou com a bastarda do rei dom Fernando. Morrerá, carregado de anos, em Chaves, no ano de 1461, riquíssimo, poderosíssimo, na plena satisfação das suas grandes ambições, como escreveu Oliveira Martins:

Teve o 1.º duque de Bragança uma copiosa e ilustre descendência, imperadores, reis, príncipes, fidalgos e plebeus. Dela fazem parte o actual duque de Bragança ??, é claro, mas também o rei de Espanha ou o rei dos Belgas, o grão-duque do Luxemburgo e os príncipes soberanos do Mónaco ou do Liechtenstein, o conde de Paris, o chefe da Casa de Áustria e o príncipe herdeiro da Jugoslávia. Mas a ela pertencem igualmente o cónego João Seabra e frei Hermano da Câmara (que, também por via bastarda, é descendente do rei Luís XV de França), os jornalistas Maria João Avillez, Miguel Sousa Tavares e Sofia Pinto Coelho, os fadistas Maria Ana Bobone ou Vicente e José da Câmara, além de vários nomes sonantes da política portuguesa como António Capucho, José Pacheco Pereira, José Miguel Júdice, Leonor Beleza ou Teresa Patrício Gouveia. E ainda o cineasta António-Pedro Vasconcelos, os cavaleiros tauromáquicos António e João Ribeiro Teles, o cozinheiro José Avilez e os actores Francisco Nicholson e Rui Mendes.

O Bastardo que Nunca Existiu?

Filho herdeiro de João I e marido de dona Leonor de Aragão, o rei dom Duarte teve cinco filhos legítimos: (1) Afonso V; (2) Fernando, duque de Viseu, que foi pai do rei dom  Manuel I; dona Leonor, que casou com Frederico III, imperador da Alemanha; (4) dona Catarina; e (5) dona Joana, que foi rainha de Castela pelo seu casamento com Henrique IV, o Impotente. Sobre isso, dom Duarte foi autor de dois livros, que lhe valeram o cognome de Eloquente: o Leal Conselheiro e A Arte de Bem Cavalgar Toda a Sela. No capítulo XXX da primeira destas obras, que trata Do pecado da luxúria, escreve o monarca:

Para guarda deste pecado, nosso primeiro fundamento deve ser amar e prezar virgindade e castidade quanto se mais puder fazer, havendo-a por grande virtude, que muito desejamos sempre haver e possuir. E porque todo o homem com grande diligência guarda o que muito ama e preza, quem esta virtude muito amar e prezar por a bem guardar se afastará das ocasiões e azos por que a possa perder.

Mas um dia terá havido na vida do rei Eloquente, um dia, pelo menos, em que ele pode não ter resistido à tentação da carne, cometendo o pecado da luxúria, que tantos sabedores e grandes pessoas tem vencido. E isto porque dom Duarte poderá ter sido pai de um bastardo». In Isabel Lencastre, Os Bastardos Reais, Os Filhos Ilegítimos, Oficina do Livro, 2012, ISBN 978-989-555-845-2.

 Cortesia de OdoLivro/JDACT

JDACT, História de Portugal, Isabel Lencastre,  O Paço Real,  Conhecimento,