quinta-feira, 31 de agosto de 2023

No 31. Largada das Naus. António Borges Coelho. «Uma carta régia de 1426 determinava que qualquer pessoa de Lisboa ou de outro lugar que compre pão na Beira, em Entre Douro e Minho ou em Trás-os-Montes, uma vez que não seja pão da cidade do Porto ou do seu termo…»

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Tempos de Boa Memória (1383-1433)

Avanço do mundo mercantil

«João I estabeleceu o imposto da sisa, tornando-o obrigatório para o comprador e o vendedor, fosse fidalgo ou clérigo. Democratizava assim o imposto e a vida pública. Fernão Lopes contabiliza o rendimento do rei em oitenta e dois contos de reais. Os direitos do reino contribuíam com vinte e um milhões, ao passo que o rendimento das sisas subia a sessenta milhões de reais, ou seja, a três quartos. O mundo mercantil ganhava um papel crescente.

Uma companhia de mercadores, formada pelo italiano Persifal e por Rui Garcia Lisboa e Martim Afonso Dinis e Lourenço de Sousa, do Porto, emprestaram ao rei 25 000 coroas de ouro para o casamento da sua filha Beatriz. O reembolso atingirá a soma de 11 535 000 libras. Em 1432 o dote de Isabel de Portugal, duquesa de Borgonha, subirá para 154 000 coroas de ouro, pagas por Pedro Eanes, feitor do rei e mercador português na Flandres.

Vasco Anes, tesoureiro-mor, recebeu do rei em usofruto pelo menos quatro naus e duas barcas. Podia fretar, pôr mestres, escrivães. mercadores, marinheiros, receber o dinheiro dos fretes, os ganhos e empregá-los em mercadorias, tomar contas aos mestres e dar-lhes quitações, sem que lhe peçam contas. Grande depositante na Comuna de Florença, o rei João tornava-se grande armador e encarregava do negócio o seu feitor Vasco Anes. O mundo novo ganhava outro fôlego.

Uma carta régia de 1426 determinava que qualquer pessoa de Lisboa ou de outro lugar que compre pão na Beira, em Entre Douro e Minho ou em Trás-os-Montes, uma vez que não seja pão da cidade do Porto ou do seu termo, pode carregá-lo do Porto para Lisboa, porquanto nós temos ordenado que todos os mantimentos se corram de umas partes para outras por todos os nossos reinos.

A estabilidade pública dependia do preço e da abundância do pão. Na década de setenta do século XIV, os preços do alqueire de trigo aumentaram e continuaram em ascensão até 1384. Baixaram, com algumas excepções. até ao final do século XV. A fome consumiu os lisboetas durante o cerco castelhano de 1384. Houve escassez de pão em 1391 e em 1394. Em 1399, a vereação de Lisboa contratou com os mercadores estrangeiros a troca de sal por pão.

Nos anos de 1401 e 1411 muitos castelhanos atravessaram a fronteira em busca de alimento. Nuno Álvares Pereira socorreu-os com o trigo dos seus celeiros. No ano de 1418 perderam-se as colheitas. E em 1422 e 1427 Lisboa e o seu termo recolheram o ouro necessário para mandar vir trigo de fora do reino». In António Borges Coelho, Largada das Naus, História de Portugal, 1385-1500, Editorial Caminho, 2011, ISBN 978-972-212-464-5.

 Cortesia de ECaminho/JDACT

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