sábado, 19 de novembro de 2011

Alberto Feio. Daqui Nasceu Portugal. «A Braga convergiam cinco vias militares, cujos marcos miliários referem a esta cidade as distâncias, como se usou em Roma. Numerosos títulos epigráficos e literários nos dizem ter sido a sede do “Conventus Bracaraugustanus”, chancelaria com jurisdição em vinte e quatro “civitates”»

Cortesia da cmbraga

«Há precisamente um século, Manuel Rodrigues da Silva Abreu, espírito gentilíssimo e duma austeridade e aprumo moral que muito o aproximava do seu grande amigo Alexandre Herculano, lamentava a dispersão das pátrias memórias, ralhando daqueles que deixavam apodrecer ou andar por terra em abandono e ruína os livros e vetustos documentos das extintas comunidades religiosas da Província do Minho.
O lamento do honrado Abreu foi ouvido por Almeida Garrett. O Poeta redigiu uma Portaria, encarregando o bacharel Rodrigues de Abreu de coligir e examinar as livrarias dos extintos conventos do distrito de Braga e informar sobre o apreço dos manuscritos ali existentes, Portaria que o Ministro do Reino, Rodrigo da Fonseca Magalhães, assinou em 27 de Julho de 1840.
Foi o primeiro passo para a fundação desta Biblioteca Pública, que a Carta de Lei de 13 de Julho de 1941 definitivamente criou. Acrescida com o andar dos tempos, foi notavelmente valorizada com a criação do Arquivo Distrital, hoje transformado em Arquivo Geral da Província do Minho.

Os esparsos documentos da nossa história foram enfim reunidos num só lugar, onde com amor são guardados e com cuidado estudados. Cumpriu-se o voto da geração passada, mas acima disso, acautelaram-se os interesses das gerações vindouras. Deu-se instalação condigna a estes dois grandes órgãos da Educação: a Biblioteca e o Arquivo.
A Biblioteca, destinada a fortalecer inteligências e a completar, pela extensão da cultura, a instrução recebida nas escolas, é também uma escola, uma Universidade Livre, como a definiu Carlyle, com suas portas abertas a toda a gente; o Arquivo, repositório admirável e rico de memórias do nascimento de Portugal, das suas instituições antigas, da sua vida económica e social, fornece os meios de preparar o futuro pela meditação do documento de antanho, revelador de passadas grandezas e do papel civilizador da nossa Pátria.

Cortesia de wikipedia

Aqui se encontram ambos, neste nobilíssimo palácio, adaptado e restituído às antigas e belas formas arquitectónicas, mercê do renascimento nacional, […] o da restauração deste grandioso edifício, lugar mais apropriado, que existe nesta cidade de nobres tradições, para a solenidade de rememorar a fundação da Pátria Portuguesa. Com efeito, ao percorrer as longas salas em que os documentos estão dispostos, desdobrando os encarquilhados pergaminhos testemunhas fiéis do passado, não é difícil ver surgir a luz, que nos guie no estudo das origens de Portugal.
As origens de Portugal! Mas qual foi a causa dominante que, na primeira metade do século XII, provocou a formação do Estado português?

Problema palpitante, que prende e solicita a nossa mais viva curiosidade e tem atrás de si um passado, que a ciência, por muito alto que leve suas induções, não conseguiu ainda desvendar satisfatoriamente.
Teria sido um atávico sentimento autonomista, cuja origem se perde na noite dos tempos? Esta doutrina, que vislumbra os elementos formativos de Portugal nas milenárias eras, pré-históricas, tem a defendê-la um número apreciável de ilustres investigadores. E por ousada que pareça, não é destituída de fundamento. A arqueologia e a etnologia permitem verificar que, embora não haja homogeneidade na população dos nossos castros e citânias, o fundo étnico dos autóctones das idades precedentes não foi profundamente alterado.

Cortesia de turismo 

Apesar da sua luta tenaz, os povos castrejos foram vencidos e dominados pela disciplina e superioridade das legiões romanas. As instituições, os costumes, a língua foram cedendo à pressão dos dominadores. Mais difícil e mais lenta foi, porém, a assimilação religiosa. Tornados romanos, os habitantes do nosso país mantiveram cultos próprios e suas divindades coexistiram com as dos conquistadores.
A religião, como grande força conservadora, defendia a linha genealógica das passadas gerações. Sob o domínio romano, Braga adquiriu uma alta importância. Foi uma “urbs”, cidade no sentido mais puro da palavra, e seus habitantes, “urbani”, estavam inscritos na tribu “quirina”, que o mesmo é dizer que gozavam do foro de cidadãos romanos. Como em Roma, se seguia em Braga o “cursus honorum”, pois aqui havia “Senatus, decuriones, consules e flâmines”.

A Braga convergiam cinco vias militares, cujos marcos miliários referem a esta cidade as distâncias, como se usou em Roma. Numerosos títulos epigráficos e literários nos dizem ter sido a sede do “Conventus Bracaraugustanus”, chancelaria com jurisdição em vinte e quatro “civitates”. A região de Entre Douro e Minho e parte de Trás-os-Montes era sujeita ao “Propretor” e seus “Assessores”. Com o imperador Caracala, Braga é a capital da nova Província da “Gallaecia». In Alberto Feio, Daqui Nasceu Portugal, Câmara Municipal de Braga, 1964.

Cortesia da CM de Braga/JDACT