quarta-feira, 9 de novembro de 2011

V. O. T. de S. Francisco. Guimarães. Agenda Franciscana: «… chamando a atenção para o facto de as torres-sineiras raras vezes aparecerem nas igrejas franciscanas medievais, por terem sido proibidas em 1260 nas constituições do Capítulo de Narbonne, por razões de austeridade»

A Senhora e o Menino
De João Glama Stroberle, séc. XVIII
Cortesia de vot

Devoção de S. Francisco de Assis pelo Natal
As mais antigas fontes biográficas de S. Francisco revelam a extraordinária devoção que ele nutria pela festividade do Natal. Nelas encontramos estes textos:
  • "Mais do que nenhuma outra festividade, ele celebrava com inefável alegria o nascimentodo Menino Jesus e chamava festa das festas ao dia em que Deus, feito menino, se amamentava como todos os filhos dos homens. Beijava mentalmente, com esfomeada avidez, as imagens do Menino que o espírito lhe construía, e, d'Ele entranhadamente compadecido, balbuciava palavras de ternura, à maneira das crianças. E o seu nome era para ele como um favo de mel na boca".
Um dia, estando os irmãos a discutir se poderiam ou não comer carne, dado que o Natal, esse ano, caía à sexta-feira (veneredi, em italiano), respondeu Francisco a frei Morico:
  • "Irmão, é um pecado chamar Veneredi, dia de Vénus, ao dia em que nasceu para nós o Menino. Desejaria - acrescentou ele - que em semelhante dia até as paredes comessem carne, mas, como não é possível, sejam ao menos untadas com gordura".
Não conseguia reprimir as lágrimas ao pensar na extrema pobreza que padeceu nesse dia a Virgem Senhora pobrezinha ("la Poverella") [Literalmente: a querida Virgem pobrezinha. Para S. Francisco, Nossa Senhora era a “Poverella”, o que dá à sua devoção um colorido bem original]. Uma vez, estando sentado à mesa a comer, e tendo um irmão recordado a pobreza da bem-aventurada Virgem e de seu Filho no dia de Natal, imediatamente se levantou a chorar, e, com o rosto banhado em lágrimas, comeu o resto do pão sobre a terra nua. E como os irmãos lhe tivessem perguntado um dia, em capítulo, que virtude tornaria alguém mais amigo de Cristo, respondeu como quem confia um segredo do coração:
  • "Sabei, irmãos, que a pobreza é um caminho privilegiado para a salvação. As suas vantagens são inumeráveis, mas muito poucos as conhecem”.
O bem-aventurado Francisco festejava com mais solenidade o Natal do que as outras festas do Senhor, porque, dizia, embora nas outras solenidades o Senhor tenha operado a nossa salvação, no dia em que Ele nasceu tivemos a certeza de que íamos ser salvos. Por isso, queria que no dia de Natal todos os cristãos exultassem no Senhor; por amor d'Aquele que se deu por nós, todo o homem devia dar com generosidade do que lhe pertence, não só aos pobres, como também aos animais e às aves do céu.

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“Nós que vivemos com São Francisco e escrevemos sobre estes acontecimentos, testemunhamos que muitas vezes o ouvimos dizer: «Se eu puder falar ao Imperador, suplicar-lhe-ei e tentarei convencê-lo a que, por amor de Deus, e de mim, publique uma lei especial, decretando que nenhum homem capture ou mate as nossas irmãs cotovias ou lhes faça algum mal. Igualmente, que todas as autoridades das cidades e das aldeias e os senhores dos castelos obriguem, em cada ano, no dia do Natal do Senhor, os homens a espalhar trigo e outros grãos pelos caminhos, para que as irmãs cotovias e mesmo outras aves tenham de comer em tal Solenidade. E, por respeito para com o Filho de Deus que nesta noite a Santíssima Virgem Maria colocou na manjedoura entre um boi e um burro, quem tiver destes animais deverá provê-los abundantemente da melhor forragem, nessa noite. Do mesmo modo, no dia de Natal, os ricos deveriam saciar os pobres com ricos e saborosos manjares”.

Um Oratório que desapareceu
Na rua dos Terceiros, com frente para o terreiro das Carvalhas Houve em tempos o “Oratório do Senhor dos Aflitos”, cuja cruz, de mármore branco, foi benzida ao meio-dia de 9 de Novembro de 1867, numa cerimónia que foi festejada com música, foguetes e arraial nocturno. Contam-nos Albano Bellino ("Archeologia christã', pág, 263) e João Lopes de Faria ("Efemérides vimaranenses", IV, fl. 142v) que foi erguido com o produto de uma subscrição aberta por Jerónimo José 'de Abreu e sua mulher. Ignora-se quando foi retirado, mas deve ter ocorrido ainda no século XIX pois não o vemos em fotografias mais recentes.

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A Torre da Igreja
Num ensaio que dedicou a esta igreja, Maria Dolores Fraga Sampedro fez uma breve mas esclarecedora referência à torre desta igreja, chamando a atenção para o facto de as torres-sineiras raras vezes aparecerem nas igrejas franciscanas medievais, por terem sido proibidas em 1260 nas constituições do Capítulo de Narbonne, por razões de austeridade. No entanto, discretamente, elas foram aparecendo aqui e além, integradas no paramento lateral das igrejas ou formando um corpo independente embora ligado à igreja. Por alturas da construção da igreja franciscana de Guimarães, as torres sineiras eram bem mais frequentes e erguidas com o beneplácito papal, tanto assim que; em 6 de Abril de 1391, alguns frades menores da Galiza e Astúrias obtiveram de Bonifácio IX autorização para se instalar em Portugal e aí construir a sua casa com "oratório, torre sineira, refeitório e outras divisões necessárias".

Na igreja franciscana de Guimarães deparamos com a torre no lado sul da fachada, de planta quadrangular, subindo, primeiro, até uma cornija, que, com excepção da face virada para sul, se encontra ornada com modilhões semelhantes aos da igreja e do claustro. Sobre essa cornija está o segundo corpo, com as faces ornadas de pilastras, onde se apoiam arcos de volta inteira com um sino. Em cima, sobre nova cornija, com pirâmides e gárgulas em cada canto, está a estrutura superior terminando em agulha, esta repetidas vezes restaurada, Temos notícia de um restauro efectuado em 1749, O último, muito recente, fez-se em 2005. No arquivo da Ordem Terceira aparecem aqui e ali referências aos seus sinos. Nos fins do século XVIII, a 1 de Janeiro de 1784, os irmãos terceiros resolveram encomendar um sino para a torre (Arquivo, Livro no 90, fl, 78v); a 20 de Fevereiro de 1828 - quarta feira de cinzas - um raio caiu na torre da igreja de S, Francisco mas pouco a danificou (Efemérides de João Lopes de Faria, l, fl, I76v); dano maior ocorreu em 29 de Março de 1885 quando quebrou o sino grande da torre, Lá ficou, sem serventia, durante um ano, até que foi tirado aos pedaços para baixo da torre, para dar lugar a um sino novo que lá foi colocado no dia 1 de Julho de 1886 (Efemérides de João Lopes de Faria, I, fl. 312).

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Na base da torre podemos ver uma placa de bronze com a tabela das badaladas a dar em caso de incêndio. Essa tabela foi aprovada pela Câmara a 27 de Janeiro de 1858, dividindo a cidade em sete zonas ou estações, sendo 10 o número de badaladas para a primeira estação, 11 para a segunda, e assim sucessivamente. Essas badaladas eram dadas depois do toque a rebate. Anteriormente, estipulava o Código de Posturas do Município que "havendo algum incêndio, deverá na torre mais próxima a este tocar-se a fogo sem interrupção. Este toque será repetido por todas as outras torres da vila sem excepção alguma, mas com intervalos". Esta doutrina foi relembrada numa carta da Câmara de 1de Maio de 1843, existente no Arquivo da Ordem Terceira (Livro nº 243), recordando que o sineiro que não tocasse a fogo pronta e devidamente pagaria de multa 2$000 reis". Para acorrer a qualquer incêndio, mandou a Câmara em 20 de Julho de 1835 que todos os vendeiros fossem obrigados a ter um caneco sempre cheio de água para acudir quando fosse preciso (Alberto Vieira Braga - Curiosidades de Guimarães, XVIII, pág. 11). In Fernando José Teixeira, Belmiro Jordão, Venerável Ordem Terceira de S. Francisco de Guimarães, Agenda Franciscana, Ano V, 12, Dezembro de 2006.

Cortesia de VOT de S. Francisco/JDACT