sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Marcel Proust. Em Busca do Tempo Perdido. «Não se trata de um ciclo novelesco, mas de um único romance circular que narra a infância, adolescência, juventude e primeira maturidade de um homem que, apesar de desejar escrever um romance, não se sente capaz de começá-lo. Apesar de se tratar de um romance, inclui a música e as artes visuais, que eram as que Wagner queria juntar à poesia»

(1871-1922)
Auteuil, França
Retrato da autoria de Jacques-Émile Blanche, 1895
Cortesia de pennyspuffsheds

«Talvez seja na descoberta da dimensão real do tempo que reside a genialidade de Proust, autor do mais impressionante fresco da sociedade francesa da sua época, que presume uma indagação meticulosa dos mais ocultos artifícios da alma humana.
Marcel nasceu numa pequena povoação perto de Paris, filho mais velho de Adrien Proust, um famoso epidemiólogo francês e de Jeanne Weil, a neta de um antigo ministro da Justiça. É o autor da série de sete romances “Em Busca do Tempo Perdido”, sem dúvida uma das obras de maior destaque e influência da história da literatura. Antes de se fechar na sua torre de marfim para submergir na criação da sua obra-prima, que começou em 1909 e que só acabou em 1922, algum tempo antes de morrer de uma bronquite. O primeiro volume foi editado à sua custa, após ter sido recusado pelo editor Da Gallimard, André Gide, foi editado em 1912, e o último postumamente em 1927.
Proust introduziu-se a ‘fundo’ nos salões da alta sociedade parisiense e depressa ficou apto a utilizar todas as suas experiências nesse mundo como material literário. A partir desse momento, decepcionado com a mundanidade e com o amor com ambos os sexos, Proust consagrou-se à arte e a sua vida passou a ser a sua obra.

Cortesia de enwikipedia e diariodeumamulherrespeitada

O seu grande ‘monumento’ literário divide-se em sete livros com títulos independentes:
  • No Caminho de Swan;
  • A Sombra das Raparigas em Flor;
  • O Lado de Guermantes;
  • Sodoma e Gomorra;
  • A Prisioneira;
  • A Fugitiva;
  • O Tempo Redescoberto.
Não se trata de um ciclo novelesco, mas de um único romance circular que narra a infância, adolescência, juventude e primeira maturidade de um homem que, apesar de desejar escrever um romance, não se sente capaz de começá-lo. No final do último, acontece a revelação da «memória involuntária», uma memória que se manifesta nele graças a sensações olfactivas, tácteis e gustativas, como a célebre madalena mergulhada no chá, que tem a virtude de subtrair ao protagonista a passagem do tempo e fazer do seu passado um intenso presente, que o leitor tem a oportunidade de experimentar até nas suas ínfimas tonalidades. E, graças a esta revelação, o protagonista compreende que chegou o momento de começar a escrever… sem dúvida o grande romance. A obra de Proust é a realização mais conseguida do sonho romântico de criar a «obra de arte total». Apesar de se tratar de um romance, inclui a música e as artes visuais, que eram as que Wagner queria juntar à poesia.


Na praia de Dieppe, 1885, Paul Cesar Helleu.
A personagem Elstirde de “Em Busca do Tempo Perdido”, foi inspirada neste pintor.
Cortesia de slowpainting e lessingphoto

Proust supera esta limitação criando uma série de obras de arte fictícia dentro do seu romance, onde, além de aparecerem o músico Vinteuil e o pintor Elstir, também surgem obras de arte imaginárias. «Reproduz» de tal maneira a frase musical que serve de hino ao amor de Swann e Odete que os leitores parecem ouvi-la, ou «pinta» os quadros de Elstir com tal precisão que os leitores podem desfrutar deles.
Apesar de Proust ter desejado que a sua obra fosse considerada como ficção pura, é fácil identificar nela inumeráveis elementos biográficos e, inclusive, chegaram a publicar-se listas das pessoas reais que inspiraram o romancista para criar as suas personagens. “Em Busca do Tempo Perdido” é uma narração imensa cuja acção tem lugar ao longo de muitos anos, o que permite apreciar como as suas numerosas personagens evoluem e mudam de aspecto físico, da maneira de falar, de pensar, etc.
O tempo é assim o grande protagonista da história». In Gayban Grafie, 2009, ISBN 978-989-651-085-5.

Cortesia de Gayban/JDACT