sábado, 12 de novembro de 2011

Tomar. Convento de Cristo: «…estilização circundante de ondas, bóias de marear, calabres, nós e fivelas, acontecem na variante pedra como que revelando a mutabilidade dos elementos e o sentido perene de uma epopeia. A famosa janela é “a mais estupenda criação da arquitectura de todas as épocas”…»

Pintura de Alfredo Keil
Foto de Luís Santos Graça
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O Portal
«O portal, que abre a sul para o terreiro, obra de João de Castilho cujo o nome, em sigla, se presume inscrito em cartela lateral, é constituído por três arquivoltas de arco inteiro, lavradas com motivos manuelinos e renascensas e sobrepujadas pela esfera, entre pilastras góticas e nichos com imagens de intenção meramente decorativa. atribuídas ao cinzel de Diogo de Castilho e assim referenciadas (Vieira Guimarães, 1934):
  • Santo Ambrósio / S. Jerónimo / S. Jerónimo / Santo Agostinho / Virgem / Miqueias / Ezequiel / Jeremias / Esaías.
O pórtico é sobrepujado por um corpo que ostenta, na parte central, uma escultura da Virgem, sob dossel flamejante. A frontaria é rematada por um dossel de abóbada, recortado e acairelado, assente em dois contrafortes, criando um sentido de volumetria e profundidade, típico deste estilo. O acesso faz-se por uma porta de madeira apainelada e pregueada, com a data de 1703.

A Fachada Sul
A fachada sul foi parcialmente sacrificada pela implantação, no flanco da Igreja, do Claustro de D. João III que entaipou as duas janelas da antiga Sacristia, uma das quais hoje liberta e restituída à sua primitiva função. Só o topo superior preserva a intenção decorativa do projecto de Arruda. Correspondentes à divisão dos tramos, acusam-se espessos botaréus de reforço, cujos pináculos ultrapassam a platibanda.


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A Fachada Poente
A fachada poente é todo um esplendoroso conjunto que o arranjo exterior da janela sintetiza e os elementos decorativos, prenunciados na fachada norte e mais explícitos na fachada sul, adquirem aqui expressão mais vigorosa: estilização circundante de ondas, bóias de marear, calabres, nós e fivelas, acontecem na variante pedra como que revelando a mutabilidade dos elementos e o sentido perene de uma epopeia.
Enquadrada por dois poderosos cunhas-botaréus de estrias geométricas e boleadas, superiormente rematadas por estilizações de raízes de árvores gigantes, a famosa janela é “a mais estupenda criação da arquitectura de todas as épocas”, arranjo insuperável de florões e corais estilizados que rodeiam a teia da grade, rematada inferiormente por uma figura humana que suporta e segura uma enorme raiz. Um cabo que ata a nave em nós gigantes, um calabre com flutuadores de pesca e um renque de lises estilizados fazem a marcação horizontal desta fachada, antes da côncava rosácea, pedra almofadada, amparada por espiralado cordame e pela cimalha de esferas e cruzes de Cristo. Se estivermos de face para a janela, os salientes botaréus laterais apresentam ainda elementos decorativos explícitos, o da esquerda, duas estatuas de anjos segurando as divisas de D. Manuel e a figuração da corrente que simboliza a Ordem do Tosão de Ouro, e o da direita, estatuas figurando reis de Portugal. “D. Dinis, guerreiro, vestindo cota `século XIV, tem no seu escudo heráldico o emblema da cruz de Cristo; D. Manuel, vestido à romana, com a cabeça coberta com um barrete ou elmo alado, apresenta no escudo a sua empresa, a esfera armilar; e D. João II, vestindo também à romana, e de Barreto alado como o sucessor, tem na cota, como no escudo, as armas novas que fixou em 1485, levantando-lhes os escudetes dos flancos que ficam também em número de cinco, fazendo desaparecer a cruz do seu bisavô, tendo só sete castelos, mas já à moda de D. Manuel, assim determinado definitivamente por este” e, também a fivela da Ordem Jarreteira criado pelo rei de Inglaterra, Eduardo III.


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A inclusão de tal símbolo nesta obra tem referenciada justificação:
  • “El-Rei D. Henrique de Inglaterra, oitavo de seu nome, sucedeu no reino, por falecimento el-rei Henrique, sétimo, seu pai, no ano do Senhor de 1509, e foi coroado em Westminster, em grande triunfo, a 24 de Junho. Casou com a infanta Catarina, irmã da rainha Maria, mulher de el-rei Manuel, filhas de el-rei Fernando e da rainha Isabel, de Castelas, Leão e Aragão; pelo qual parentesco e grande amizade que havia entre Henrique e Manuel, aquele lhe concedeu no ano de 1511, a Ordem da Jarreteira”. In Damião de Góis, «Crónica de D. Manuel I.
Em colocação horizontal, um rosto de animal mítico. de cuja boca se desenvolvem sequências espiraladas que irão surgir, em breve registo, no lado esquerdo do portal da Igreja. Toda a abóbada da nave é coberta por um telhado de duas águas, assente em vigamento de cimento, obra da campanha de conservação de 1984». In Luís P. dos Santos Graça, Convento de Cristo, Instituto Português do Património Cultural, Edição ELO 1991, ISBN 972-9181-08-X.

Cortesia de Instituto Português do Património Cultural/JDACT