Cortesia de sigillummilitum
«Afonso Henriques foi quem verdadeiramente consumou a separação de Portugal, não pelos méritos próprios apenas, mas porque a direcção política do reino começou no seu tempo a ser encaminhada pelos factos no sentido de definir de um modo positivo a independência da nação.
Uma parte dos barões da Galiza leonesa, sublevados contra o suserano, acolheu-se em 1137 sob a protecção de Afonso Henriques, prestando-lhe vassalagem, e, assim, de novo- se levantou a questão das fronteiras do norte de Portugal. Afonso VII não pudera, nos anos anteriores, descer a rebater as invasões do turbulento vizinho, ocupado como estava a debelar o navarro; agora, porém, tinha já os movimentos livres, e apressou-se a submeter a Galiza. Por seu lado Afonso Henriques era solicitado a defender a fronteira austral, onde os sarracenos tinham vindo numa algara feliz derrocar o castelo de Leiria.
É por estes anos que o destino de Portugal se debate entre a Lusitânia e a Galiza, quando a actividade do guerreiro é solicitada, ora do norte contra os leoneses, ora do sul contra os sarracenos, Oscilante ainda e indeciso, breve assistiremos ao definitivo pender da balança no sentido do alargamento das fronteiras austrais.
A simultaneidade do ataque leonês e sarraceno em 1137 obriga Afonso Henriques a curvar a cabeça assinando as pazes de Tui, nas quais desiste das suas pretensões de além Minho, confessando, ao mesmo tempo, vassalagem ao suserano de Leão. “Ut arrundo fragilis ferebatur”: vergava como o canavial o príncipe, a este sopro da fortuna adversa!
Cortesia de pedraformosa
Desistia de tudo, da ambição e até da independência. Quem se fia, porém, na palavra do pertinaz batalhador? Defendido o seu senhorio por norte, não se demora a persistir numa guerra leal mas perigosa. Espera melhor ocasião para a desforra; porque lhe não custa subscrever a um tratado, a que não pensa decerto submeter-se, senão enquanto a força das coisas a isso o violentar. Não assim os fronteiros de nordeste que, apesar das pazes de Tui, continuam a guerra por conta própria, tão frágeis eram ainda os laços que reuniam os vassalos ao conde soberano de Portugal! De Tui, o leonês, subindo pelo vale do Lima através da Galiza portuguesa que assolara, vai encontrar as mesnadas dos ricos homens sublevados nos Arcos de Valdevez. Rezam as tradições de um torneio ou “bufúrdio” em que os que os cavaleiros inimigos batalharam por seus exércitos, vencendo os portugueses na estocada, onde numerosos combatentes ficaram mortos, segundo as regras da cavalaria. Apesar de vitoriosos, porém, os portugueses não podiam resistir a Afonso VII, tanto mais que D. Afonso Henriques desistira de continuar uma guerra improfícua». In J. Oliveira Martins, História de Portugal, A Separação de Portugal, Guimarães e Cª Editores, 16 edição, 1972.
Cortesia de Guimarães Editores/JDACT