sábado, 8 de outubro de 2022

A Gruta do Escoural e a visita pública. Expectativas e frustrações no cinquentenário da descoberta. António Carlos Silva. «Francisco Porteiro orientava o melhor que podia e sabia os visitantes, munido do seu inseparável petromax e recorrendo à memória das escavações e das conversas com Farinha Santos»

 

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) O acompanhamento dos visitantes seria desde os primeiros tempos assegurado por Francisco Porteiro, trabalhador rural residente no Escoural e colaborador nas escavações de Farinha Santos. Abrigando-se num casebre de apoio à antiga pedreira, foi ficando como guarda da gruta, pago inicialmente pelas verbas sobrantes da arqueologia ou pelas gratificações dos próprios visitantes, para finalmente, em data que desconhecemos, ter integrado os quadros da Junta Distrital, de onde transitaria para o Instituto Português do Património Cultural (IPPC), após a fundação deste organismo em 1980. Ainda que as suas funções fossem essencialmente de vigilância, na ausência de outros meios e pese embora a sua falta de preparação, Francisco Porteiro orientava o melhor que podia e sabia os visitantes, munido do seu inseparável petromax e recorrendo à memória das escavações e das conversas com Farinha Santos. Localizada em propriedade privada mas classificada como Monumento Nacional logo no ano da sua descoberta (Decreto 45 327 de 25 de Outubro de 1963), podemos dizer que a gestão e salvaguarda do sítio, pelo menos até à criação do IPPC em 1980, se baseou quase em exclusivo na estreita relação pessoal mantida entre o arqueólogo Farinha Santos, entretanto já sem ligação institucional ao Museu Nacional de Arqueologia, e o guarda Francisco, pago pela Junta Distrital de Évora.

A situação apenas se alteraria com a criação do IPPC em 1980 e a instalação do respectivo Serviço Regional de Arqueologia do Sul (SRAS), com sede em Évora, dirigido por Caetano Melo Beirão. Era então assistente na recente Universidade de Évora, Jorge Pinho Monteiro que, conjuntamente com Mário Varela Gomes e o próprio Farinha Santos, havia retomado em 1977, os estudos da arte rupestre da Gruta do Escoural, com o apoio da CâmaraMunicipal de Montemor-o-Novo. Quer por via da Universidade, a cuja colaboração Caetano Beirão recorria na falta de meios próprios, quer pelas relações de amizade e trabalho que já mantinha com aqueles colegas, em particular com Mário Varela Gomes, a Gruta do Escoural, tornar-se-ia um dos sítios prioritários na actuação do Serviço Regional de Arqueologia do Sul. Por sua iniciativa, tirando partido da ocupação da Herdade da Sala por uma cooperativa local, os terrenos onde se situava a Gruta do Escoural, incluindo o chamado santuário rupestre exterior e o povoado calcolítico entretanto identificado pelos colaboradores de Farinha Santos, foram então vedados (1981). Por outro lado, a situação do guarda Francisco seria clarificada, sendo este integrado nos quadros do IPPC e passando a responder administrativamente perante os serviços de Évora». In António Carlos Silva, A Gruta do Escoural e a visita pública. Expectativas e frustrações no cinquentenário da descoberta, Almansor, Revista de Cultura n.º 1, 3.ª série, 2015, Wikipédia.

Cortesia da Revista Almansor/JDACT

 JDACT, Gruta do Escoural, Alentejo, Conhecimento, Cultura, Arqueologia,