Juromenha
«(…) Podemos,
todavia, estar a ser enganados por eventual destruição de documentos. De
qualquer forma, não deverá ter perdido importância, pois Manuel I concedeu-lhe,
em Lisboa, novo Foral, em 15 de Setembro de 1512. As muralhas, por essa época,
eram grandiosas, com 17 torres, sendo uma delas uma Torre de Menagem com 140
palmos (cerca de 30,8 metros) de altura.
No Numeramento de
1527-1573, o mais antigo de Portugal, Juromenha surge como tendo 150 fogos
(pouco mais de 600 habitantes, ao que se julga), portanto bastante menos que as
vizinhas Elvas (1916 fogos, cerca de 7000 habitantes), Alandroal (284 fogos,
cerca de 1100 habitantes), Olivença (1053 fogos, cerca de 4000 habitantes),
Vila Viçosa (talvez 800 fogos e cerca de 3.000 habitantes), Estremoz (969
fogos, aproximadamente 3.200 habitantes) e Borba (600 fogos, cerca de 2.300
habitantes). Igualava, todavia, Terena (170 fogos, talvez 650 habitantes).
A importância de
Juromenha era essencialmente militar e estratégica, protegendo, à rectaguarda,
Olivença, uma urbe alentejana que, cercada por Castela/Espanha por três lados,
constituía sempre um quebra-cabeças para as chefias militares portuguesas. As
terras do Concelho ultrapassavam aliás o Guadiana, pois pertencia-lhe o lugar
de Vila Real, exactamente a sua melhor área agrícola.
1640-1801
O período das
Guerras de Restauração aumentou o papel de Juromenha, e João IV ampliou-lhe e
modernizou-lhe as fortificações, que passaram a ser em estilo Vauban. Em
1657, recebe milhares de oliventinos fugidos da sua vila, então ocupada pelo
inimigo, à qual só regressaram em 1668, quando a administração portuguesa foi
reinstaurada.
Juromenha resistiu
sempre durante a Guerra de 1640-1668, registando-se nela um triste evento em 19
de Janeiro de 1659, quando explodiu por descuido um armazém de pólvora,
perecendo então toda a guarda ali aquartelada, composta por estudantes de Évora
capitaneados pelo padre Francisco Soares (conhecido por o Lusitano). Em
1709 (Guerra de Sucessão de Espanha) travaram-se combates nas proximidades, e
ainda ao longo de todo o século XVIII a Praça de Juromenha foi alvo de
constantes cuidados. É evidente que, em todas estas guerras, toda a zona
fronteiriça (raiana), tanto do lado português como espanhol, sofreu
consideráveis destruições. O desenvolvimento é, necessariamente, inimigo da
guerra. O conflito seguinte, no início do século XIX, irá, uma vez mais, demonstrá-lo.
1801,
data incontornável
A Guerra das
Laranjas levou à conquista da Vila de Juromenha em 20 de Maio de 1801. Alguns
meses depois, foi devolvida pelos espanhóis, mas sem a parte do Concelho a
leste do Guadiana, com a aldeia de Vila Real, aliás a mais rica em termos agrícolas
desde sempre.
Ainda em 1837 Juromelha era considerada uma fortaleza de
Primeira Classe, com uma forte guarnição militar, mas o declínio acelerou-se a
partir de então. A meio do século XIX, deixava mesmo de ser sede de Concelho, passando
a depender do Alandroal. Os delicados problemas ligados à inexistência oficial
de fronteira na região, resultantes da questão em aberto de Olivença,
fizeram-se sentir duramente. Durante algum tempo, alguns oliventinos procuravam
escolarizar-se em Juromenha, mas em breve a vigilância espanhola, em especial
na época franquista, tornou tal quase impossível». In Carlos E. Cruz Luna, História e
Declínio de Três Povoações na Fronteira, RV000831, dip-badajoz.es, LXII, 2006.
Cortesia de RV000831/dip-badajoz.es/JDACT
JDACT, Carlos E. Cruz Luna, Ouguela, História, Conhecimento, Alentejo,