quarta-feira, 12 de outubro de 2022

História e Declínio de Três Povoações na Fronteira. Carlos E. Cruz Luna. «Bela cidade de Ouguela Dá vistas à lapagueira Mal empregada cidade Estar em tão alta ladeira»

Cortesia de wikipedia e jdact

Ouguela

Declínio

«(…) Tudo isto terá influído no sentido de, em 1800, haver em Ouguela só 24 vizinhos dentro da vila e 20 fora (cerca de 200 habitantes, talvez). Em 1801, durante a Guerra das Laranjas, após a conquista de Olivença e Juromenha, Campo Maior rendeu-se ao exército espanhol, mas só depois de violento cerco e de muita resistência (15 de Junho). Ouguela não foi atacada, mas caída Campo Maior era um espinho nas costas do inimigo. 460 espanhóis, simulando um maior número pela disposição no terreno, aproximaram-se do castelo. O governador, Jóse Joaquim Queirós, acabou por entregar Ouguela ao atacante, já que não havia qualquer possibilidade de resistência (esta descrição encontra-se no Livro A Guerra das Laranjas/A perda de Olivença, de António Ventura, 2004. Até 1811, decerto houve alguns conflitos em terras em redor de Ouguela, mas de pouca monta, pois quase nada chegou até nós. Os vários conflitos do início do século XIX pouco rasto deixaram na região. A novidade seguinte, pouco alegre para a vila, é que em 1836 se extinguiu o concelho, sendo unido a Campo Maior. A decadência, que já vinha do século XVIII, reflectia-se a nível administrativo. E algo pior sucedeu, quando Ouguela deixou de ser freguesia e foi anexada a São João Baptista (Campo Maior) (1941).

É um pouco triste seguir esta história. Uma povoação nasceu e cresceu, teve momentos de alguma grandeza e de glória…, e iniciou um processo de decadência. Algumas quadras populares falam de Ouguela. Uma refere-se à sua grandeza:

Bela cidade de Ouguela

Dá vistas à lapagueira

Mal empregada cidade

Estar em tão alta ladeira

(A lapagueira será um acidente geográfico).

Outra ironiza com a sua decadência, e, com algum sentido de humor, reza assim:

Adeus vila de Ouguela

Que não há vila mais nobre

Para teres vinte ruas

Faltam-te só dezanove

Assim é a roda da história. Olhando as velhas muralhas, a que não falta ainda opulência, sentimo-nos comovidos. Uma inscrição em latim, num dos arcos, informa-nos de uma divisa dos seus antigos defensores e moradores. pro patria, pro rege et pro fide, aut vincere, aut mori (pela pátria, pelo rei, e pela fé, vencer ou morrer). O tempo é (mesmo) implacável. Há, todavia, que pensar no futuro. Ouguela, hoje com apenas cerca de 60 habitantes, terá de procurar reerguer-se. O seu castelo, que já foi palco de filmagens de séries de televisão, tem uma beleza indesmentível. Há que ser-se imaginativo e ter força de vontade, e aproveitar tão vetusto monumento. Agora já não, porque felizmente tal não é necessário, como lugar de defesa, mas quiçá, como lugar de encontro, entre as raias alentejana e extremenha.

Que esta singela história da antiga vila, hoje lugar, de Ouguela, abra caminho nesse sentido, seja um primeiro passo, eis o meu sincero desejo». In Carlos E. Cruz Luna, História e Declínio de Três Povoações na Fronteira, RV000831, dip-badajoz.es, LXII, 2006.

Cortesia de RV000831/dip-badajoz.es/JDACT

 JDACT, Carlos E. Cruz Luna, Ouguela, História, Conhecimento, Alentejo,