«(…) A directora do ES parecia estar com uma ideia totalmente diferente na cabeça. Anderson também parecia intrigado. Segurança nacional? Com todo o respeito, senhora... Até onde eu sei, interrompeu ela, o meu cargo é superior ao seu. Sugiro que faça exactamente o que eu disser, sem questionar nada. O chefe de polícia aquiesceu e engoliu em seco. Mas não deveríamos pelo menos tirar as digitais dos dedos para confirmar que a mão pertence a Peter Solomon? Eu confirmo, disse Langdon, sentindo uma certeza nauseante. Reconheço o anel... e a mão dele. Ele fez uma pausa. Mas as tatuagens são novas. Alguém fez isso com ele recentemente. Como disse? Pela primeira vez desde sua chegada, a directora pareceu perturbada. A mão está tatuada? Langdon assentiu. O polegar tem uma coroa. E o indicador, uma estrela. Sato sacou seus óculos e caminhou até à mão, rodeando-a feito um tubarão. Além disso, disse Langdon, embora não dê para ver os outros três dedos, tenho certeza de que eles também vão estar com as pontas tatuadas. Sato pareceu intrigada com a observação e gesticulou para Anderson se aproximar. Chefe, pode dar uma olhada nos outros dedos para nós, por favor? Anderson se agachou ao lado da mão, tomando cuidado para não tocar nela. Aproximou a bochecha do chão e examinou a parte de baixo dos dedos fechados. Ele tem razão, directora. Todos os dedos estão tatuados, mas não estou conseguindo ver muito bem o que os outros... Um sol, uma lamparina e uma chave, disse Langdon em tom neutro. Sato ficou de frente para Langdon, avaliando-o com os olhos miúdos.
E como é que o senhor pode saber
isso? Langdon retribuiu seu olhar. A imagem da mão humana marcada dessa forma
nas pontas dos dedos é um ícone muito antigo. É conhecida como a Mão dos
Mistérios. Anderson se levantou abruptamente. Esta coisa tem nome? Langdon
aquiesceu. É um dos ícones mais secretos do mundo antigo. Sato entortou a cabeça.
Então posso perguntar que raios isso está fazendo no meio do Capitólio dos Estados
Unidos? Langdon desejou poder acordar daquele pesadelo. Tradicionalmente, minha
senhora, a mão era usada como um convite. Um convite... para quê?, quis saber
ela. Ele baixou os olhos para os símbolos tatuados na mão cortada do amigo. Durante
séculos, a Mão dos Mistérios representou uma convocação mística. Basicamente,
ela é um convite para receber conhecimentos sagrados, um saber protegido a que
apenas uma pequena elite tinha acesso. Sato cruzou os braços finos e ergueu
para ele os olhos negros feito carvão. Bem, professor, para alguém que alega não
ter a menor ideia do que está fazendo aqui... o senhor está se saindo muito bem
até agora.
Katherine Solomon vestiu a bata
branca e começou sua habitual rotina de chegada, sua ronda, como dizia o
irmão. Como uma mãe nervosa conferindo o sono de um bebé, Katherine espichou a cabeça
para dentro da sala de máquinas. O gerador de hidrogénio estava funcionando
bem, com os tanques de reserva aninhados em segurança nos suportes. Katherine
prosseguiu pelo corredor até à sala de armazenamento de dados. Como sempre, as
duas unidades holográficas redundantes de backup emitiam um zumbido
reconfortante dentro de seu compartimento com temperatura controlada. Toda a minha pesquisa, pensou ela,
olhando através do vidro de segurança de 7,5 centímetros de espessura. Os
dispositivos de armazenamento holográfico de dados, ao contrário de seus
antepassados do tamanho de geladeiras, pareciam mais os elegantes componentes
de um aparelho de som, cada qual empoleirado num pedestal em forma de coluna.
Os dois drives holográficos
do laboratório eram sincronizados e idênticos, funcionavam como backups
redundantes para salvar cópias iguais de seu trabalho. A maioria dos protocolos
de armazenamento de dados recomendava um segundo sistema de backup que fosse externo ao local, para o
caso de haver um terremoto, um incêndio ou um roubo, mas Katherine e o irmão
haviam concordado que a confidencialidade era de suma importância; se aqueles
dados saíssem dali para um servidor externo, eles não poderiam mais ter certeza
de que continuariam secretos. Convencida de que tudo estava correndo bem ali,
ela voltou pelo corredor. Ao fazer a curva, porém, viu algo inesperado do outro
lado do laboratório. Mas
o que é isso? Um
brilho difuso emanava de todo o equipamento. Ela se apressou para examiná-lo,
surpresa ao ver luz saindo de trás da divisória de plexiglas da sala de
controle.
Ele está aqui. Katherine
atravessou voando o laboratório, chegou à porta da sala de controle e a abriu. Peter!,
disse, entrando às pressas. A moça gorducha diante do terminal da sala de
controle se sobressaltou. Ai, meu Deus! Katherine! Que susto você me deu! Trish
Dunne, a única outra pessoa na face da Terra com permissão para entrar al, era
a analista de metassistemas de Katherine e raramente trabalhava nos fins de
semana. A ruiva de 26 anos era um génio em elaboração de modelos de dados e
havia assinado um contrato de confidencialidade digno da KGB.
Naquela noite, estava
aparentemente analisando dados no telão de plasma que cobria a parede da sala
de controle, um imenso monitor que parecia ter saído do centro de controle de
missões da NASA. Desculpe, disse Trish. Eu não sabia que já tinha chegado.
Estava tentando terminar antes de você e seu irmão se reunirem. Você falou com
ele? Ele está atrasado e não atende o telefone móvel. Trish fez que não com a
cabeça. Aposto que ele ainda está tentando descobrir como usar o iPhone novo
que deu para ele. Katherine gostava do bom humor de Trish e a presença da ruiva
ali acabara de lhe dar uma ideia. Na verdade, que bom que você está aqui hoje.
Talvez possa ajudar-me com uma coisinha, se não se importar. Seja o que for,
tenho certeza de que é melhor do que futebol. Katherine respirou fundo,
acalmando a própria mente. Não sei muito bem como explicar isso, mas hoje mais
cedo ouvi uma história estranha...
Trish Dunne não sabia que história
Katherine Solomon tinha escutado, mas algo a deixara claramente nervosa. Os
olhos cinzentos geralmente calmos de sua chefe pareciam ansiosos, e ela já
havia ajeitado os cabelos atrás das orelhas três vezes desde que entrara na
sala, um sinal de nervosismo, como Trish costumava dizer. Cientista brilhante. Péssima
jogadora de pôquer. Para mim, disse Katherine, essa história parece inventada...
tipo uma lenda antiga. Mas... Ela fez uma pausa, arrumando outra vez uma mecha
atrás da orelha. Mas...? Katherine deu um suspiro. Mas hoje uma fonte segura me
disse que a lenda é verdadeira. Certo... Aonde ela quer chegar com isso? Vou conversar
com meu irmão a respeito, mas antes disso talvez você possa me ajudar a lançar
alguma luz sobre a questão. Adoraria saber se essa lenda já foi corroborada em
algum momento da história. De toda a história? Katherine assentiu. Em qualquer
lugar do mundo, em qualquer idioma, em qualquer momento da história». In
Dan
Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.
Cortesia de BertrandE/JDACT
JDACT, Washington DC, Dan Brown, Literatura, Maçonaria,