sábado, 25 de fevereiro de 2023

Poesia. Soneto. Antero de Quental. «Mas que filha de reis, que anjo ou que fada, era essa que assim a mim descia, do meu casebre à húmida pousada?»

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1862 - 1866

Visita

«Adornou o meu quarto a for do cardo,

Perfumei-o de almíscar recendente;

Vesti-me com a púlpura fulgente,

Ensaiando meus cantos, como um bardo.


Ungi as mãos e a face com o nardo

Crescido nos jardins do Oriente,

A receber com pompa, dignamente.

Misteriosa visita a quem aguardo.


Mas que filha de reis, que anjo ou que fada

Era essa que assim a mim descia,

Do meu casebre à húmida pousada?


Nem princesas, nem fadas. Era, flor,

Era a tua lembrança que batia…

Às portas de ouro e luz do meu amor!

In Antero de Quental, Sonetos Completos, Publicações Europa-América, 1998, ISBN 972-104-421-0.


Cortesia de PEAmérica/JDACT

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