sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

O Símbolo Perdido. Dan Brown. «Professor, quem está no comando desta investigação sou eu e, até o senhor começar a me dizer o que quero saber, sugiro que não fale…»

 

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«(…) Robert Langdon havia acabado de cometer um erro muito grave ao lidar com Sato. Infelizmente, Anderson percebeu que era tarde demais. Para seu espanto, Inoue Sato havia acabado de aparecer do outro lado da Rotunda, aproximando-se depressa por trás de Langdon. Sato está aqui no prédio! O chefe de polícia prendeu a respiração e se preparou para o impacto. Langdon não faz a menor ideia do que isso significa. O vulto de Sato foi chegando mais perto, com o telefone colado ao ouvido, os olhos negros grudados como dois feixes de raio laser nas costas de Langdon.

Langdon apertou com força o telefone do chefe de polícia, sentindo-se cada vez mais frustrado à medida que Sato o pressionava. Sinto muito, senhor, disse ele, lacónico, mas eu não sou capaz de ler os seus pensamentos. O que o senhor quer de mim? O que eu quero do senhor? A voz rascante chiou no telefone de Langdon, áspera e cavernosa, como a de um moribundo com a garganta inflamada. Enquanto o homem falava, Langdon sentiu alguém lhe cutucar o ombro. Deu meia-volta e seus olhos foram atraídos para baixo... parando bem no rosto de uma japonesa baixinha. A mulher tinha uma expressão feroz, a tez marcada, cabelos ralos, dentes manchados de nicotina e uma perturbadora cicatriz branca que cortava seu pescoço na horizontal. Sua mão encarquilhada segurava um telefone móvel junto à orelha e, quando seus lábios se moveram, Langdon escutou aquela mesma voz rascante sair do seu próprio celular. O que eu quero do senhor, professor? Ela fechou o telefone com calma e o fuzilou com os olhos. Para começar, poderia parar de me chamar de senhor. Langdon a encarou, morrendo de vergonha. Minha senhora, eu... me desculpe. A nossa ligação estava ruim e... A nossa ligação estava perfeita, professor, disse ela. E eu tenho uma tolerância extremamente baixa para desculpas esfarrapadas.

A directora Inoue Sato era um espécime temível, uma tempestade violenta em forma de mulher com apenas 1,47m de altura. Era esquelética, tinha os traços irregulares e uma doença de pele conhecida como vitiligo, que dava à sua tez o aspecto manchado de um bloco áspero de granito coberto por placas de líquen. Seu terninho azul amarrotado pendia do corpo macilento como um saco frouxo, e a camisa de colarinho aberto nada fazia para esconder a cicatriz do pescoço. Seus colegas de trabalho já haviam reparado que a única concessão de Sato à vaidade física parecia ser depilar com uma pinça seu copioso buço. Fazia mais de uma década que Inoue Sato supervisionava o Escritório de Segurança da CIA. Seu QI era muito acima da média e seus instintos tinham uma precisão assustadora, combinação que lhe conferia uma segurança que a tornava aterrorizante para qualquer pessoa incapaz de realizar o impossível. Nem mesmo o diagnóstico de um câncer de garganta agressivo em estágio terminal a havia derrubado. A batalha lhe custara um mês de trabalho, metade da laringe e um terço do peso, mas ela voltou ao trabalho como se nada tivesse acontecido. Inoue Sato parecia indestrutível.

Robert Langdon desconfiava que provavelmente não era o primeiro a confundir Sato com um homem ao telefone, mas a directora ainda o fuzilava com seus olhos negros abrasadores. Mais uma vez queira desculpar-me, senhora, disse Langdon. Ainda estou tentando me situar aqui... A pessoa que diz estar com Peter Solomon me enganou para me fazer vir a Washington esta noite. Ele tirou o fax do casaco. Foi isto aqui que ele me enviou mais cedo. Eu anotei o número do jacto que ele mandou para me buscar, então quem sabe a senhora não poderia ligar para a Agência Nacional de Aviação e rastrear o...

A diminuta mão de Sato deu um bote para agarrar o pedaço de papel. Ela o enfiou no bolso sem sequer abri-lo. Professor, quem está no comando desta investigação sou eu e, até o senhor começar a me dizer o que quero saber, sugiro que não fale a menos que alguém lhe dirija a palavra. Sato então se virou para o chefe de polícia. Chefe Anderson, falou ela, chegando perto demais e erguendo para ele os olhinhos negros, pode fazer a gentileza de me dizer que diabos está acontecendo aqui? O segurança no portão leste me disse que vocês encontraram uma mão humana no chão. É verdade? Anderson deu um passo para o lado e revelou o objecto no meio do piso. Sim, senhora, faz poucos minutos. Ela olhou de relance para a mão como se não passasse de uma peça de roupa esquecida. E mesmo assim o senhor não me disse nada quando eu liguei? Eu... eu pensei que a senhora soubesse. Não minta para mim.

Anderson murchou diante do olhar dela, mas sua voz permaneceu firme. Senhora, a situação aqui está sob controle. Duvido muito que isso seja verdade, disse Sato com a voz igualmente firme. Uma equipe de criminalística está a caminho. Quem fez isso pode ter deixado impressões digitais. Sato fez cara de céptica. Acho que uma pessoa esperta o suficiente para passar pelo seu controle de segurança com a mão cortada de alguém provavelmente é esperta o suficiente para não deixar impressões digitais. Pode ser, mas tenho a responsabilidade de investigar. Na verdade, está dispensado dessa responsabilidade a partir de agora. Eu estou assumindo o caso. Anderson se retesou. Isto aqui não é exactamente da competência do ES, é? Sem dúvida que sim. Esta é uma questão de segurança nacional. A mão de Peter?, perguntou-se Langdon, que assistia à conversa atônito. Segurança nacional. Ele sentia que seu objectivo de encontrar Peter o mais rápido possível não era compartilhado por Sato». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT

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