sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

O Símbolo Perdido. Dan Brown. «Era um inimigo aterrorizante para qualquer oponente. Suas aparições eram raras, e o temor que provocavam, universal. Sato singrava as águas profundas…»

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«(…) Com uma missão aparentemente autodestrutiva, o ES havia sido criado pela CIA com uma estranha finalidade: espionar a própria agência. Como uma poderosa corregedoria interna, monitorava todos os seus funcionários para detectar comportamentos ilícitos: desvio de fundos, venda de segredos, roubo de tecnologias confidenciais e uso de tácticas ilegais de tortura, entre outros.

Eles espionam os espiões dos Estados Unidos.

Com carta branca para investigar qualquer questão ligada à segurança nacional, o ES tinha um poder de longo alcance. Anderson não conseguia imaginar porque eles se interessariam por aquele incidente no Capitólio, nem como tinham ficado sabendo tão rápido dele. Segundo os boatos, porém, o escritório tinha olhos por toda a parte. Até onde Anderson sabia, era possível que eles recebessem uma transmissão directa das câmeras de segurança do Capitólio. Aquele incidente não se encaixava de forma alguma nas directrizes do ES, mas seria muita coincidência ele receber um telefonema da CIA naquele momento sobre qualquer outro assunto que não fosse a mão cortada. Chefe? O segurança lhe estendia o telefone como se fosse uma batata quente. O senhor precisa atender agora... É... Ele fez uma pausa e articulou silenciosamente duas sílabas. SA-TO. Anderson apertou os olhos e encarou o homem com intensidade. Você só pode estar de brincadeira. Sentiu as palmas das mãos começarem a suar. Sato está cuidando disso pessoalmente?

Inoue Sato, a autoridade suprema do Escritório de Segurança, que ocupava o cargo de direcção do órgão, era uma lenda na comunidade de inteligência. Depois de ter nascido entre as grades de um campo de concentração japonês em Manzanar, na Califórnia, após o ataque a Pearl Harbor, Sato, como todo o sobrevivente, jamais esquecera os horrores da guerra, tampouco os perigos de uma inteligência militar deficiente. Agora que ocupava um dos cargos mais secretos e poderosos do serviço de inteligência norte-americano, se revelara de um patriotismo incondicional. Era um inimigo aterrorizante para qualquer oponente. Suas aparições eram raras, e o temor que provocavam, universal. Sato singrava as águas profundas da CIA como um leviatã que só subia à superfície para devorar sua presa. Anderson só havia encontrado Inoue Sato pessoalmente uma vez, e a lembrança de encarar aqueles frios olhos negros bastou para que ficasse grato por só terem que se falar ao telefone. Ele pegou o aparelho e levou-o à boca. Alô, atendeu com a voz mais simpática possível. Aqui é o chefe Anderson. Como posso... Preciso falar agora mesmo com um homem que está aí no seu prédio. A voz da autoridade máxima do ES era inconfundível: parecia cascalho arranhando um quadro-negro. Uma operação para retirar um câncer na garganta tinha deixado Sato com um tom de voz profundamente perturbador, além de uma cicatriz repulsiva no pescoço. Quero que o encontre para mim imediatamente. Só isso? Quer que eu chame alguém? Anderson se sentiu subitamente esperançoso, pensando que talvez aquela ligação fosse pura coincidência. Quem é a pessoa que está procurando? O nome dele é Robert Langdon. Acho que está aí dentro do seu prédio neste momento.

Langdon? O nome parecia vagamente conhecido, mas Anderson não lembrava exactamente de onde. Ele começou a se perguntar se a CIA sabia sobre a mão. Eu estou na Rotunda agora, disse ele, e há alguns turistas aqui... Espere um instante. Ele abaixou o telefone e gritou na direcção do grupo: Pessoal, tem alguém aqui chamado Langdon? Após um breve silêncio, uma voz grave respondeu do meio dos turistas. Sim. Eu sou Robert Langdon. Sato sabe de tudo. Anderson esticou o pescoço para tentar ver quem tinha se identificado. O mesmo homem que tentara falar com ele havia alguns minutos se afastou dos outros. Ele parecia abalado... mas, de certa forma, lhe era familiar. Anderson ergueu o telefone até a boca. Sim, o Sr. Langdon está aqui. Passe o telefone para ele, ordenou Sato com sua voz áspera. O chefe de polícia soltou o ar preso nos pulmões. Antes ele do que eu. Um instante. Ele acenou para Langdon se aproximar. Enquanto Langdon chegava mais perto, Anderson percebeu de repente por que o nome soava conhecido. Eu acabei de ler um artigo sobre esse cara. O que ele está fazendo aqui?

Embora Robert Langdon tivesse 1,83m e porte atlético, Anderson não viu nem sinal da atitude fria e dura que esperava de um homem que havia sobrevivido a uma explosão no Vaticano e a uma caçada humana em Paris. Esse homem escapou da polícia francesa... de sapato social? Ele parecia mais alguém que se esperaria encontrar lendo Dostoiévski ao lado da lareira da biblioteca de alguma das universidades de elite do país. Sr. Langdon?, disse Anderson, adiantando-se para recebê-lo. Sou o chefe de polícia do Capitólio. Eu cuido da segurança aqui. Telefone para o senhor. Para mim? Os olhos azuis do professor pareciam aflitos e hesitantes. Anderson estendeu o telefone. É do Escritório de Segurança da CIA.

Nunca ouvi falar. Anderson deu um sorriso sombrio. Bom, eles ouviram falar no senhor.

Langdon levou o telefone ao ouvido. Sim? Robert Langdon? A voz áspera de Sato irrompeu do pequeno fone, alta o suficiente para Anderson conseguir escutar. Sim?, respondeu Langdon. O chefe de polícia se aproximou um passo para ouvir o que Sato dizia. Aqui é Inoue Sato, Sr. Langdon, do Escritório de Segurança da CIA. Estou administrando uma crise neste exacto momento e acredito que o senhor tenha informações que podem me ajudar. Uma expressão esperançosa atravessou o semblante de Langdon. Isso tem relação com Peter Solomon? Sabem onde ele está? Peter Solomon? Anderson não estava entendendo absolutamente nada. Professor, retrucou Sato, quem está fazendo as perguntas agora sou eu. Peter Solomon está correndo sério perigo, exclamou Langdon. Algum louco acaba de... Com licença, disse Sato, interrompendo-o. Anderson se encolheu. Ele está brincando com fogo. Interromper o interrogatório de um alto funcionário da CIA era um erro que apenas um civil podia cometer. Pensei que esse Langdon fosse uma pessoa esperta. Ouça com atenção, disse Inoue Sato. Neste exacto momento, enquanto estamos tendo esta conversa, este país está diante de uma crise. Fiquei sabendo que o senhor tem informações que podem me ajudar a evitá-la. Agora vou perguntar de novo. Que informações o senhor possui? Langdon parecia perdido. Eu não tenho a menor ideia de que história é essa. Minha única preocupação é encontrar Peter e... A menor ideia?, indagou Sato em tom desafiador. Anderson viu Langdon se eriçar. O professor então adoptou um tom mais agressivo. Não, senhor. Não faço a mínima ideia. Anderson se encolheu novamente. Errado. Errado. Errado». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT

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