Cortesia de algarvepress
A Fortaleza de Castro Marim localiza-se no Distrito de Faro e trata-se de uma fortificação raiana, em posição dominante sobre o chamado monte do Castelo. Defendia aquele ponto de travessia sobre a margem direita da foz do rio Guadiana, fronteiro ao Castelo de Ayamonte na margem oposta, hoje na Espanha. Ex-libris da vila, é considerado pelos estudiosos como um dos mais significativos monumentos da Idade Média portuguesa na paisagem da região. Encontra-se integrado na Reserva Natural do Sapal de Castro Marim, sendo bastante apreciada a vista panorâmica sobre o rio, a zona do Sapal, a serra algarvia, a Espanha, as salinas e as praias daquele litoral.
Cortesia de airportcarhirefaro
Na época da reconquista cristã da Península Ibérica, a região foi atingida pelas forças portuguesas na década de 1230. D. Sancho II alcançou a foz do rio Guadiana onde conquistou Mértola e Ayamonte (1238). A conquista de Castro Marim deu-se a seguir, sob o comando do Mestre da Ordem de Santiago, D. Paio Peres Correia (1242). A partir de então, a coroa promoveu o repovoamento do Algarve, a cargo das Ordens Militares. Castro Marim recebeu Carta de Foral passada por D. Afonso III desde 8 de Julho de 1277, com a determinação para a reconstrução de sua defesa.
Sob o reinado de D. Dinis, foi iniciada a reconstrução da porta do castelo, conforme inscrição epigráfica (1 de Julho de 1279). O soberano confirma e amplia o foral da vila (1 de Maio de 1282). Posteriormente, em virtude da negociação e assinatura do Tratado de Alcanices (12 de Setembro de 1297), quando Portugal desistiu dos domínios de Aroche, Ayamonte, Aracena e outros, recebendo em troca os de Campo Maior, Olivença e outros na região, o soberano determinou o reforço do Castelo de Castro Marim (1303) e a construção de uma barbacã. Essas estruturas ficaram conhecidas respectivamente como «Castelo Velho» e «Muralha de Fora».
Cortesia de Olga Ribeiro
Ainda no reinado deste soberano, Castro Marim foi doada à recém-criada Ordem de Cristo que ali estabeleceu a sua primeira sede, de 1319 a 1356. Com a transferência da sede para Tomar, por ordem de D. Pedro I, a importância estratégica da vila diminuiu, começando a despovoar-se. Desse modo, já nas Cortes de 1361 se ouviam reclamações contra as Ordens Militares de maneira geral, acusadas mais tarde, em 1475, de trazerem derrocados os castelos do Algarve, citando-se nominalmente o de Castro Marim. Note-se que D. João I já havia passado foral à vila, instituindo-lhe o privilégio de couto para 40 homiziados (10 de Abril de 1421) visando ao incremento da população.
O Infante D. Henrique, nomeado Mestre da Ordem, residiu neste castelo. Sob o reinado de D. Manuel I a vila recebeu o Foral Novo (20 de Agosto de 1504), momento em que o soberano ordena a reparação das suas defesas, inclusive as muralhas do castelo. Estes trabalhos encontram-se registados por Duarte D'Armas no seu Livro das Fortalezas (c. 1509).
Externamente, uma cerca ameada, de planta irregular, orgânica, envolvia a vila.
Externamente, uma cerca ameada, de planta irregular, orgânica, envolvia a vila.
- no vértice a leste, um torreão de planta quadrangular coroado por merlões, no qual se rasgava uma porta em arco reto, precedida por uma ponte levadiça;
- no vértice a oeste, um torreão de menores dimensões, rasgado por uma porta em arco pleno com fecho decorado pela pedra de armas;
- no lado norte, ao nível do solo, rasgava-se um pequeno arco de canalização.
No último quartel desse século, a vila e seu castelo eram assim descritos:
«Está Castro Marim situado na cabeça de um monte alto, de todas as partes cercado de mar senão de poente, e o sítio é bem acomodado ao lugar donde está, que é fronteira de Castela, onde tem por competidora uma grande vila, mas espalhada, chamada Aiamonte (...). É o mais desta vila cercado com boa fortaleza e o seu arrabalde e tudo junto representa majestade aos que vêem de longe, pelo ligar alteroso, em que está posta, com que mostra seus edifícios, tudo o qual bem considerado, parece que favorecido pela natureza, está ameaçando não só a sua vizinha Aiamonte mas toda a Castela. (...)». In (Frei João de São José. Chorographia do Reyno do Algarve. 1577).
Cortesia de Olga Ribeiro
Com a Guerra da Restauração da Independência portuguesa, a defesa lindeira de Castro Marim foi remodelada, adquirindo modernas linhas abaluartadas. Estas obras só estarão concluídas no reinado de D. Afonso VI de Portugal, complementadas pelo Forte de São Sebastião de Castro Marim e pelo Forte de Santo António de Castro Marim.
Durante o terramoto de 1755 o núcleo medieval da vila sofreu extensos danos, particularmente sentidos na Igreja de São Tiago. Por essa razão, D. José I determinou a recuperação das defesas da vila.
No início do século XX, o Castelo de Castro Marim foi classificado como Monumento Nacional por Decreto de 16 de Junho de 1910.
Cortesia de catrinetasaojuliao
«Em posição dominante sobre um monte, o castelo medieval (também denominado Castelo Velho ou simplesmente Castelejo) apresenta planta planta quadrangular irregular (orgânica), com quatro cubelos cilíndricos nos vértices dos muros, percorrido por adarve, onde se rasgam duas portas, uma a norte e outra a sul, uma das quais encimada por pedra de armas e inscrição epigráfica. No interior da praça de armas, erguem-se edifícios de dois pavimentos adossados aos muros oeste e norte; do lado leste, as ruínas da primitiva alcáçova. Externamente, identificam-se os restos da torre de menagem e de um baluarte que a ladeava. Ao abrigo da barbacã, de planta triangular, percorrida por adarve, erguem-se a Igreja de São Tiago, a Igreja de Santa Maria, Igreja da Misericórdia e um núcleo museológico, com testemunhos arqueológicos da ocupação da região. No vértice sul ergue-se uma plataforma para artilharia, nos vértices leste e oeste, dois torreões de planta quadrangular, cobertos por terraços nos quais se rasgam portas em arco pleno. Encimando a porta do torreão oeste, uma pedra de armas e uma inscrição epigráfica».
Cortesia de Olga Ribeiro
A opinião do IGESPAR.
«O Cerro do Castelo, onde se construiu o castelo medieval de Castro Marim, possui estruturas de povoamento que remontam ao final da Idade do Bronze, não cessando, a partir de então, a ocupação humana do local (ARRUDA, 1997, p.245). As condições geográficas do sítio certamente favoreceram a fixação de comunidades vocacionadas preferencialmente para o comércio mediterrânico, e o abundante espólio arqueológico resgatado durante a década de 80 do século XX é um excelente testemunho da importância comercial da foz do Guadiana desde, pelo menos, o século VIII a.C. É precisamente dessa altura que data a primeira muralha defensiva identificada no recinto do castelo, e novas estruturas militares foram acrescentadas e/ou reformuladas nos séculos seguintes, em particular nos séculos V a III a.C, altura em que se acentua o comércio com as cidades gregas.
O advento do mundo romano conferiu novo impulso comercial e estratégico a Castro Marim. Conquistada a Península, aqui se instalou a localidade romana de Baesuris, ao que tudo indica um "aglomerado secundário" do território de Balsa, mas onde confluiam importantes vias de Norte (Mértola), de Oeste (Ossonoba e Balsa) e de Este (Huelva) (MANTAS, 1997, pp.293 e 315).
As informações que posteriormente nos chegaram acerca dos séculos de domínio visigótico e bizantino são muito escassas. Alguns autores sugeriram que, no local onde séculos depois se construiu a Igreja de Nossa Senhora dos Mártires, se tenha edificado uma basílica cristã, com ocupação cultual pela época islâmica, mas, até ao momento, esta informação não foi confirmada por via arqueológica. Na época islâmica, Castro Marim manteve alguma importância, até ao momento pouco quantificável arqueologicamente. A planta quadrangular do recinto amuralhado,"com torres de canto semi-cilíndricas", foi já considerada como volumetricamente decorrente da tradição "bizantina-emiral" (TORRES, 1997, p.440), embora pareçam mais fortes os indícios de se tratar de uma fortaleza costeira manuelina (MOREIRA, 1995, vol. II, p.328).
Cortesia de IGESPAR
A passagem do castelo para a esfera cristã deu-se no século XIII, mais concretamente em 1242, ano em que se consumou a conquista do Sotavento algarvio pelas tropas comandadas por D. Paio Peres Correia. A segunda metade do século significou um considerável crescimento da localidade e seguramente um reforço da sua importância estratégica. Em 1277 e 1282, D. Afonso III e D. Dinis, respectivamente, concederam-lhe carta de foral. Por essa mesma altura procedeu-se à reformulação do sistema defensivo, num processo de renovação da paisagem militar portuguesa que tem em D. Dinis a figura central. Consumado este processo, o castelo de Castro Marim foi entregue à Ordem de Cristo, que aqui estabeleceu a sua sede de 1319 a 1356. Terminada a conquista do território, mas não afastada a ameaça muçulmana da Península e, especialmente, das suas costas meridionais, o estabelecimento da sede santiaguista nesta fortaleza era o resultado óbvio da sua importância político-militar.
Com a transferência da sede da Ordem de Cristo para Tomar a povoação entrou em relativa decadência, facto que haveria de ser invertido apenas na segunda metade do século XV, altura em que o apoio às possessões norte-africanas portuguesas determinou uma renovada atenção das localidades costeiras do Algarve. Em 1504 deu-se o último grande impulso povoador, por ordem de D. Manuel, que nesta data concedeu novo foral a Castro Marim e que, cinco anos mais tarde, ordenou a reparação das muralhas.
Imediatamente após a restauração da monarquia portuguesa, em 1641, a importância fronteiriça de Castro Marim determinou a renovação do seu sistema defensivo, com a construção de vários baluartes e fortes nas imediações. O velho castelo medieval, contudo, manteve-se como eixo ordenador de todo este sofisticado sistema, sede do poder militar e em torno do qual se expandiu a povoação». In IGESPAR, PAF
Cortesia da CMCastroMarim/IGESPAR/JDACT