(1522-1560)
Tarancón, Toledo
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Luisa Sigea de Velasco, também conhecida por Luísa Sigeia, Luísa Sigea Toledana ou pela versão latinizada Aloysia Sygaea Toletana, foi uma poetisa e intelectual do século XVI, um dos expoentes do humanismo ibérico, que viveu boa parte da sua vida na corte portuguesa ao serviço da infanta D. Maria de Portugal (1521-1577), como dama latina.
Dela disse André de Resende: Hic sita SIGAEA est: satis hoc: qui cetera nescit Rusticus est: artes nec colit ille bonas, ou seja Aqui jaz Sigea. Isto basta. Quem ignora o resto, necessitando explicação, é bárbaro, avesso às artes.
Era filha de Diego Sigeo e foi a mais nova de quatro irmãos. Seu pai era um homem culto, humanista versado na cultura clássica, que foi professor de línguas dos filhos de D. Jaime de Bragança (1479-1532), o 4.º duque de Bragança, e foi com ele que Luísa aprendeu latim e grego clássico. A partir da reunificação da família em Portugal, Diego Sigeo deu particular atenção à educação das suas duas filhas. Luísa, sobretudo, mostrou propensão para aprender línguas. Falava fluentemente castelhano, francês e italiano e escrevia em latim, grego, hebraico, árabe e siríaco.
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Senhora de uma invulgar cultura, que a distinguia sobremaneira das mulheres suas contemporâneas, Luísa Sigea não foi tímida a mostrar as suas habilidades. Logo em 1540, teria 18 anos de idade, através de um amigo de seu pai, o italiano Girolamo Britonio, enviou uma carta em latim ao papa Paulo III, juntando o que mais tarde chamou quosdam ingenioli mei flosculos, em português, algumas florinhas do meu jovem talento. A julgar pelos elogios que lhe foram dedicados, além do seu talento e cultura, Luísa Sigea deverá ter sido mulher de grande beleza e com excelentes dotes sociais.
No início de 1542, quando seu pai foi «convidado» a enviá-la, com a irmã, para a corte da rainha D. Catarina, como moças de câmara. Ângela e Luísa juntaram-se então às cultas senhoras que serviam a infanta D. Maria de Portugal, irmã do rei D. João III, nomeadamente Paula Vicente, filha de Gil Vicente, e Joana Vaz. Na corte, Ângela Sigea e Paula Vicente dedicavam-se mais à música e Joana Vaz e Luísa Sigea, notáveis humanistas, eram as damas latinas.
Livro de Carolina Michaelis de Vasconcelos
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Por esta altura, Luísa Sigea inicia a escrita de numerosas cartas e poemas, revelando-se senhora de notável cultura clássica e demonstrando que tinha acesso, provavelmente na biblioteca real, a um extenso acervo de obras dos clássicos latinos e gregos, os quais cita extensamente. Interessante é a sua correspondência com o papa Paulo III, a quem, numa pouco modesta demonstração de erudição, chega a escrever uma missiva em cinco idiomas.
A sua principal obra conhecida é o Duarum Virginum Colloquium de vita aulica et privata Loysa Sigea Toletana auctore, editum Vlyssiponae, anno salutis MDLII (Diálogo de duas jovens sobre a vida pública e privada), editado em Lisboa, em latim no ano de 1552. A obra foi muito apreciada pela intelectualidade da altura, mas caiu no esquecimento até quase ao século XX. A obra ficou em manuscrito até 1905, data em que Manuel Serrano y Sanz a incluiu no seu livro Apuntes para una biblioteca de escritoras españolas desde el año 1401 al 1833. Foi traduzida para francês por Odette Sauvage em 1967, mas ainda não foi traduzida por inteiro para português.
O Duarum Virginum Colloquium de vita aulica et privata serviu, embora de forma ínvia, de inspiração a um apócrifo de carácter erótico, escrito por Nicolas Chorier, o qual acabou por celebrizar o nome de Luísa Sigea. Hoje o nome da escritora é bem mais conhecido através da obra de Chorier do que da sua própria.
Cortesia da cm-sintra
Outra obra que também merece destaque é o poema Sintra, escrito em 1546 e impresso em Paris no ano de 1566. A obra, dedicada à infanta D. Maria de Portugal, a sempre-noiva, foi publicada por diligências desenvolvidas por Jean Nicot, que fora embaixador de França em Portugal e mantinha com Diego Sigeo uma relação de amizade. Foi este último quem enviou cópia do poema solicitando que Nicot o mandasse imprimir em Paris. A obra mereceu de imediato o elogio dos humanistas contemporâneos, entre os quais Jorge Coelho e Gaspar Barreiros, que escreveram epigramas elogiosos ao poema. Está publicado em tradução portuguesa na obra O Paço de Cintra, apontamentos historicos e archeologicos de António César e Meneses.
Em Setembro de 1552, Luísa casou com Francisco de Cuevas, um fidalgo de Burgos. Depois de casada, Luísa ficou ainda algum tempo na Corte, que abandonou de vez em 1555, partindo para residir na citada cidade espanhola.
«Depois de me puxar levemente uma e outra orelha, disse-me Calíope: - Vate, bem rústico és, da Pátria ignaro e de suas glórias. Levanta os olhos, eia, ergue os olhos, reconhece a descendente dos teus reis, Maria, aquela que o mui poderoso D. Manuel gerou e o seu magnânimo irmão destina para o Império do Universo, tendo-a criado, não sem intervenção dos deuses, para a mais alta dignidade. Não vês como caminha, rainha de rosto formosíssimo, entre as ninfas Hiampeias? Porém, das suas damas, a que é mais velha, Joana Vaz, já foi celebrada em teus versos. Para não falar dos seus costumes e da sua juventude, até agora vivida sem mácula, merece grandes louvores, pois na corte brilhou, como mestra insigne das donzelas, na gramática latina. A outra é Sigea, donzela admirável, a quem a natureza poderosa de tal forma fez nascer, que é uma mulher que pode aos homens exprobar a sua vida indolente, e fazer corar profundamente os ociosos. Na verdade, não contando ainda vinte e um anos, incansável, dia e noite, não cessa de folhear as obras latinas, aqueias e moisaicas e diligente, estuda a fundo os poetas de Jerusalém. Além disso, avança, sem receio, pelos escolhos aqueménios e asperezas árabes, versada em cinco línguas, quando, entretanto, aqueles que se atrevem a declarar-se sábios, não se envergonham, ao menos, de ignorar o latim. Basta teres sabido isto. Quanto ao resto, porém, ficará ao teu encargo. Assim disse». In André de Resende na Epístola à Infanta D. Maria, a «patroa» de Luísa Sigea.
(SYNTRA_Luisa Sigea de Velasco)
Conde de Sabugosa, O Paço de Sintra, Câmara Municipal de Sintra, 1989-1990, edição facsimilada da da IN de 1903.
Carolina Michaelis de Vasconcelos, A Infanta D. Maria de Portugal (1521-1577) e as suas damas, prefácio de Américo da C. Ramalho, Lisboa, ILBN, Lisboa 1994, edição facsimilada da edição do Porto de 1902.
http://www.leitura.gulbenkian.pt/boletim_cultural/files/HALP_27.pdf
Cortesia wikipédia/Dicionário Histórico/JDACT
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