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O céu fere com gritos nisto a gente,
Com súbito temor e desacordo,
Que, no romper da vela, a nau pendente
Toma grã suma d'água pelo bordo:
"Alija, disse o mestre rijamente,
Alija tudo ao mar; não falte acordo.
Vão outros dar à bomba, não cessando;
A bomba, que nos imos alagando!"
A Tempestade, estrofe 72 do Canto VI
Finda a narrativa de Vasco da Gama, e os festejos dos melindanos, a armada sai, guiada por um piloto que deverá guiá-la até Calecute. Baco, vendo que os portugueses estão prestes a chegar à Índia, resolve pedir ajuda a Neptuno, que convoca um concílio dos deuses marinhos. A decisão destes é oposta à dos olímpicos, e assim ordenam a Éolo que solte os ventos para fazer afundar a frota.
Entretanto, os marinheiros matam despreocupadamente o tempo ouvindo Fernão Veloso contar o episódio lendário e cavaleiresco d'Os Doze de Inglaterra (estrofes 43 a 69):
«Nos tempos de D. João I, doze cavaleiros ingleses teriam ofendido a honra de doze damas inglesas, e lançado o desafio a quem quisesse defendê-las em um torneio. Uma vez que estes eram homens poderosos da Inglaterra, não havia compatriotas que se atrevessem a enfrentá-los. Assim, o duque de Lencastre João de Gante lançou um apelo ao seu genro rei de Portugal. Em resposta, armaram-se imediatamente doze cavaleiros portugueses para partir do Porto para aquele país. Mas só onze embarcaram. O 12.º era Álvaro Gonçalves Coutinho, o Magriço, que resolveu ir primeiro por terra até à Flandres. Depois de algumas aventuras, chegou ao local da justa no preciso momento em que esta ia começar e, com a sua ajuda, todos os cavaleiros ingleses foram derrotados, salvando-se a honra das damas ofendidas».
Ilustração da nau de Vasco da Gama com os deuses nas nuvens
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A história de Veloso é interrompida pela chegada da tempestade provocada pelos deuses marinhos (estrofes 70 a 84). É uma descrição dramática de quem viveu situações semelhantes e conhece a gíria náutica: os ventos, a ondulação, a quebra de mastros, as naus alagadas, os gritos dos marinheiros, relâmpagos e trovões.
Vendo as suas embarcações quase perdidas, Vasco da Gama dirige uma prece a Deus. Mais uma vez, é Vénus que ajuda os portugueses, mandando as ninfas seduzir os ventos para os acalmar. Dissipada a tempestade, a armada avista Calcute e o capitão agradece a mercê divina.
O canto termina com considerações do poeta sobre o valor da fama e da glória conseguidas através dos grandes feitos, e uma crítica a quem procura estas e a fortuna por intriga e favor dos poderosos.
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