sexta-feira, 23 de abril de 2010

Assis Pacheco: «Exuberante, sempre exuberante», mas modesto nas opiniões

Cortesia de lisboanoguiness
(1937-1995)
Fernando Santiago Mendes de Assis Pacheco  foi um jornalista, crítico, tradutor e escritor português. Era licenciado pela Universidade de Coimbra onde viveu até aos 24 anos de idade. Enquanto jovem, foi actor de teatro (TEUC e CITAC) e redactor da revista Vértice, o que lhe permitiu privar de perto com o poeta neo-realista Joaquim Namorado e com poetas da sua geração, como Manuel Alegre e José Carlos de Vasconcelos.
«Cuidar dos Vivos» é o título do seu livro de estreia, poemas de protesto político e cívico, com afloramento dos temas da morte e do amor. Em apêndice, dois poemas sobre a guerra em Angola, que terão sido dos primeiros publicados sobre este conflito. O tema da guerra em África voltaria a impor-se em Câu Kiên: Um Resumo (1972), ainda que sob «camuflagem vietnamita», livro que em 1976 conheceria a sua versão definitiva, Katalabanza, Kilolo e Volta. «Memória do Contencioso» 1980, reúne folhetos publicados entre 1972 e 1980 e «Variações em Sousa» 1987, constitui um regresso aos temas da infância e da adolescência, com Coimbra como cenário, onde mostra a sua «veia jocosa e satírica» bem patente nos seus poemas inaugurais. Era notável em Assis Pacheco a sua larga cultura galega, derivada do seu avô materno, aliás sobejamente explanada em alguns dos seus textos jornalísticos e no seu livro «Trabalhos e Paixões de Benito Prada». A sua obra poética está reunida no livro «A Musa Irregular» publicado em 1991.

Assis Pacheco nunca conheceu outra profissão que não fosse o jornalismo. As «marcas» da sua pena estão espalhadas no Diário de Lisboa, na República, no JL - Jornal de Letras, nas Artes e Ideias, no Musicalíssimo e no Se7e. Foi  redactor e chefe de Redacção de O Jornal, semanário onde durante dez anos exerceu crítica literária. Colaborou com a RTP. Traduziu para português obras de Pablo Neruda e Gabriel García Márquez.
Fernando Assis Pacheco morreu aos 58 anos de idade na Livraria Bucholz, em Lisboa.
Um dos seus poemas, cantado por Manuel Freire.
Pedro Só
Passaram anos e anos
sobre esta roda da vida,
farinha que foi moída,
vai-se a ver, são desenganos.

Atou-me a sorte este nó,
cobriu-me com estes panos.
Ao peso dos meus enganos
sai a farinha da mó.

Na palma da mão estendida
leio um caminho de pó
lembranças do homem só
São as andanças da vida.

Foram dias, foram anos,
foi uma sorte moída,
vida que tenho vivida,
(vai-se a ver são desenganos).

Foram dias, foram anos,
for a sorte apodrecida.
Dentro da roda da vida
sinto roer os fusanos.

Lembranças da minha vida
perdem-se em nuvens de pó.
Bem me chamam Pedro Só,
(nome de roda partida)
Música de Manuel Jorge Veloso, canta Manuel Freire
Filme Pedro Só, de Alfredo Tropa, 1970

Com a devida vénia:
(Um comboio pode esconder outro e Fernando Assis Pacheco, uma publicação póstuma) são textos de Eduardo Prado Coelho e Joaquim Manuel Magalhães, publicados no PUBLICO, sábado, 13 de Março de 2004 e no Expresso n.º 1653, 3 de Julho de 2004, respectivamente.
 Wikipédia/PÚBLICO/EXPRESSO/JDACT

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