sexta-feira, 9 de abril de 2010

Caravela dos Descobrimentos: Um navio adequado para a exploração marítima

novafloresta
O termo caravela ocorre pela primeira vez na documentação portuguesa em 1255, encontrando-se ainda em 1754, numa obra impressa, e num manuscrito de 1766. É portanto fácil de compreender que encobre referências a múltiplas embarcações, desde a pequena caravela latina de um mastro até à caravela redonda ou de armada, passando pela caravela latina de dois mastros, que protagonizou as viagens de exploração atlântica até 1488, sem deixar porém de continuar a ser utilizada depois desta data em várias circunstâncias.

Cadamostro, navegador de Veneza, dissera um dia: «... serem as caravelas portuguesas os melhores navios de vela que andavam sobre o mar e, se fossem providas de todo o necessário, poderiam navegar por toda a parte...»
A caravela latina apareceu nos Descobrimentos em 1440, segundo atesta Zurara: «Bem é que no ano de 40 se armaram duas caravelas a fim de irem àquela terra do Rio do Ouro, mas porque houveram acontecimentos contrários, não contamos mais de sua viagem». In rónica dos Feitos de Guiné, cap. XI.
Tratar-se-ia da caravela com dois mastros de pano latino, uma coberta e um pequeno castelo de popa, com um só piso, com cerca de 50 tonéis de arqueação. Navio ideal para singrar em mares desconhecidos, pela facilidade com que bolinava (isto é, progredia em ziguezague contra o sentido dominante do vento), a caravela podia navegar junto à costa e entrar em embocaduras de rios: um navio adequado para a exploração marítima, portanto. Mas é também o maior navio até então empregue nas viagens de descobrimento, representando por isso a vantagem e necessidade de progredir para Sul com uma embarcação capaz de levar os tripulantes até mais longe, combinando uma autonomia adequada com as qualidades marinheiras que essas viagens exigiam.

Foi por isso o navio empregue nestas viagens até Bartolomeu Dias dobrar o cabo da Boa Esperança. Mas é bem provável, como aventou Jorge de Matos, que o impedimento para a continuação da última viagem de Diogo Cão (terminada em 1486 ou 1487) tenha sido precisamente a falta de autonomia da caravela, agora patente pelo alongamento das explorações marítimas. Ou seja, o navegador ter-se-ia visto constrangido a voltar para trás, face a uma costa desértica (onde não tinha a certeza de poder reabastecer-se) e sem provisões que garantissem o retorno com segurança (sobretudo água potável). Em reforço desta explicação ocorre o facto de a armada de Bartolomeu Dias incorporar uma naveta para abastecimentos, capitaniada por seu irmão Diogo Dias, que foi abatida uma vez cumprida a sua função, servindo de apoio às duas caravelas de exploração. Depois do regresso a Lisboa, em finais de 1488, os navegadores deram conta ao rei da sua impossibilidade de prosseguir a viagem por não terem navios fortes para enfrentar os «mares grossos» que encontraram. Por isso, Vasco da Gama levará naus na primeira viagem a fazer a ligação marítima com o Oriente, navios que, entre outras vantagens apresentavam uma capacidade de carga muito superior, e portanto maior autonomia nas viagens de longo curso.

A Caravela Vera Cruz nos 150 Anos da A.N.L
«Eram formosíssimas, de pequeno calado, muito veleiras e demandando pouca água, portanto aptas a navegar junto à costa, com as suas velas triangulares e o casco mais comprido e estreto do que o das naus ou de qualquer outro navio de vela, mas arredondado e de bordadura alta. Ofundo era estreito e o casco terminava num esporão de abordagem, só com um castelo na popa, para que à proa nada impedisse a caravela de cortar oa ventos, podendo virar de bordo com grande rapidez». In O Navegador da Passagem.
Na documentação técnica existem regimentos relativos à construção de outro tipo de caravelas. As caravelas redondas, um nome moderno que vingou na historiografia, pela mesma razão que se chamam  navios como a nau ou o galeão. Ou seja, são navios que armam pano redondo, na realidade velas com formato trapezoidal, ganhando aquela designação pelo aspecto que tomam quando enfunadas pelo vento. Caravelas armadas ou de armada são designações de época, que indiciam a sua funcionalidade. Caravela de armada significa quase sempre que se destinava à navegação em armada ou ao serviço de armadas.
A caravela redonda possui castelos de popa e proa, ao contrário da latina, que não pode ter qualquer estrutura erguida sobre a proa do navio, por causa da manobra da verga do mastro do traquete. Deste ponto de vista, a caravela redonda está mais próxima das naus e galeões que da sua congénere latina.
Descobrimentos, viagens e explorações portuguesas: datas e primeiros locais de chegada de 1415-1543, principais rotas no Oceano Índico (azul), territórios portugueses no reinado de D. João III (verde)

Não existe qualquer indicação minimamente segura quanto à cronologia dos diversos tipos de caravelas, depois de estabelecida a primazia da latina de dois mastros nas navegações atlânticas da segunda metade de Quatrocentos. Pimentel Barata avançou a hipótese de a caravela latina de três mastros ter aparecido já pelos finais do século XV  embora só se documente pelo primeiro quartel da centúria seguinte.
Nos finais desse século as caravelas utilizadas eram de 50 tonéis, com castelos da popa de dois pisos, dois mastros com panos latinos e bocas de fogo para falcões (as peças de artilharia que o calado permitia), navios velozes, capazes de lutar contra mares tempestuosos e ventos poderosos»  « ... eram como gaivotas, capazes de voar por entre quaisquer cabos, pontas e promontórios e também de pousar em qualquer angra, praia, além de fugir dos perigos tão rápida como o vento... » In O Navegador da Passagem.    
Teria já dois pavimentos à popa, tolda e chapitéu aberto à ré, e uma mareagem de grades à proa. Para a tonelagem avençou os 100 tonéis, o que parece ser perfeitamente razoável, dado o comprimento de quilha requerido para a implantação de três mastros. A caravela redonda ou de armada ter-lhe-ia sucedido pelo segundo quartel do século, tomando paulatinamente o lugar da forma anterior (Pimentel Barata, op. cit., pp. 30-31). Julgamos porém ser muito plausível que a caravela redonda tenha aparecido bem mais cedo, muito provavelmente com a viagem de Pedro Álvares Cabral.
Wikipédia/Instituto Camões/JDACT

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