(1857-1911)
retrato pintado por Columbano Bordalo Pinheiro
José Valentim Fialho de Almeida foi um médico e escritor pós-romântico português.Estudou em Lisboa, formando-se em medicina em 1885. Dedicou-se, no entanto, à literatura e jornalismo até 1893, data em que deixou Lisboa para regressar a Vila de Frades.
O seu estilo literário foi irregular, pautado pelo Naturalismo, procurando sensações fortes no real. Os seus temas foram principalmente a cidade e o campo.
«Talvez seja sina da nossa literatura esquecer os grandes escritores de ontem, mesmo que ainda mereçam ser lidos e apreciados. Fialho de Almeida é um desses esquecidos.
O nome do autor de Os Gatos foi ficando apenas como referência obrigatória na literatura das primeiras décadas deste século, como escritor que foi da transição (cultural, social e política, sobretudo) do século passado para o nosso, nos embates e conflitos ideológicos que as lutas e o advento da República desencadeou a diversos níveis da sociedade e cultura da sua época.
Em tempos diferentes e em épocas semeadas de lutas ideológicas bem definidas, o caminho de Fialho cruzou-se por Lisboa, em horas de sacrifício e tormenta, de estroinice e boémia, em aventuras e canseiras, porque nisso, é verdade, os fados da sorte e da vida se conjugaram em idêntico destino: Fialho de Almeida e Manuel da Fonseca viveram em Lisboa um tempo de solidão bastante para se entreolharem no espelho da vida e detectarem assim os sinais mais evidentes que perduraram nessa comum aventura. E daí se entender (se entender literariamente basta para se ter em conta a importância literária do texto introdutório com que Manuel da Fonseca «justificou» esta antologia de Fialho) a dimensão calorosa das suas próprias palavras e intenções, trazendo à luz do dia alguns dos mais belos contos, crónicas, retratos e páginas de crítica do «esquecido e assim recuperado» escritor de Cuba, no coração do Alentejo».
Cuba, Alentejo
Saltapocinhas
«Mas o que mais sobressai nesta antologia é o sentido das palavras e o modo apaixonante como soube captar, mais nas entrelinhas do que naquilo que expressamente se não diz, as razões pessoais que levaram o autor de Poemas Completos a realizar esse trabalho, lendo e relendo Fialho com a atenção e admiração que só uma «alma e espírito» inconfundível de alentejano poderia fazer deste modo, procurando acentuar, em observações de lúcido rigor crítico, a actualidade e a modernidade literárias que se descobre na obra do autor de Os Gatos. Mesmo nos pormenores de uma biografia conhecida, pontuando os altos e baixos da personalidade do grande prosador, o que mais se reflecte, de modo bem expressivo e intencional, é a «caracterização» das condições de vida e de luta, como crítico implacável de certas figuras do seu tempo. A prosa de Fialho deve ser colocada no primeiro plano da literatura portuguesa.
Por fim, salientarmos que a releitura de Fialho permite fazer justiça a um escritor tão esquecido (e não menos esquecido, talvez de outro modo, estão alguns nomes importantes da nossa literatura, como Afonso Duarte, Edmundo de Bettencourt, Armindo Rodrigues, José Marmelo e Silva, Cabral do Nascimento, Faure da Rosa, Manuel do Nascimento e outros) e que por estas páginas se nos revela de uma clara modernidade literária. Pela força expressiva da sua prosa, matizada de um colorido que não perdeu força nem actualidade, pelo empenhamento denunciador em muitas das suas crónicas, marcadas por um entranhado amor à terra e aos homens, Fialho é ainda um escritor que se lê e relê com vivo entusiasmo. E por isso se deve enaltecer esse esforço de paixão literária levado a cabo por Manuel da Fonseca, confirmado nestas suas palavras: abrir os olhos no prazer de reencontrar, nas linhas desse discurso, o sentido primeiro da sua arte literária, uma forma sincera e vibrante de caminharmos lado a lado na releitura das nossas coisas e entender a literatura como modo de ser a voz pessoal e singular de muitas outras vozes. In Serafim Ferreira
(Os Gatos 1) Serafim Ferreira, Paulo Campos/JDACT
Sem comentários:
Enviar um comentário