segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Bela Poesia: Antero de Quental; A Germano Meireles e a João de Deus. «Só males são reais, só dor existe: Prazeres só os gera a fantasia; ... Buscar, sempre buscar a claridade, e só ter como certa realidade»

Cortesia de veramartinsitajai 

A Germano Meireles
Só males são reais, só dor existe:
Prazeres só os gera a fantasia;
Em nada [um] imaginar, o bem consiste,
Anda o mal em cada hora e instante e dia.

Se buscamos o que é, o que devia
Por natureza ser não nos assiste;
Se fiamos num bem, que a mente cria,
Que outro remédio há [aí] senão ser triste?

Oh! Quem tanto pudera que passasse
A vida em sonhos só. E nada vira…
Mas, no que se não vê, labor perdido!

Quem fora tão ditoso que olvidasse…
Mas nem seu mal com ele então dormira,
Que sempre o mal pior é ter nascido!
Antero de Quental

A João de Deus
Se é lei, que rege o escuro pensamento,
Ser vã toda a pesquisa da verdade,
Em vez da luz achar a escuridade,
Ser uma queda nova cada invento;

É lei também, embora cru tormento,
Buscar, sempre buscar a claridade,
E só ter como certa realidade
O que nos mostra claro o entendimento.

O que há de a alma escolher, em tanto engano?
Se uma hora crê de fé, logo duvida;
Se procura, só acha... o desatino!

Só Deus pode acudir em tanto dano:
Esperemos a luz duma outra vida,
Seja a terra degrêdo, o céu destino.
Antero de Quental
Cortesia de  rogeriopereira

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