quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Helena Vaz da Silva: «Em 1979, assume a presidência do Centro Nacional de Cultura, iniciando e desenvolvendo uma acção incansável em prol da divulgação, do estudo e da preservação da língua e da cultura portuguesas, lançando os «passeios de Domingo», debates, colóquios e cursos livres»

(1939-2002)
Lisboa
Cortesia de institutocamoes

«Um dia Helena Vaz da Silva disse que os seus escritos eram como «pequenas pedras que vou semeando». Assim foi fazendo ao longo de uma vida velozmente vivida. Acreditava na força das palavras e das ideias. E sabia os riscos que corria quando abria um grande debate. Mas estava sempre disposta a correr esses riscos, por entre propostas arrojadas e uma inesgotável capacidade de espanto e para assumir perplexidades. Foi sempre semeando as pequenas pedras. «Pedras como a do Polegarzinho – do conto da nossa infância – que se deitam para ajudar a reconhecer o caminho; pedras como a que se lança quando se começa a fazer uma casa; pedras brancas e de cor para dar brilho ao nosso dia a dia ou para lhe acentuar os contornos» (Incitações para o Novo Milénio).

E o que preocupava essencialmente Helena?
Se lermos o que escreveu, se nos debruçarmos sobre a sua acção, como jornalista, como animadora cultural, como escritora, depressa descobrimos que há uma constante indelével, a da procura de sinais dos tempos, de alternativas e de novas tendências, abrindo novos espaços de criatividade, mas também de descoberta das virtualidades do encontro entre a memória, o património e a inovação.

Cortesia de sabersapo
Helena Maria Vaz da Silva com 17 anos começou a sua vida profissional na agência de publicidade de Martins da Hora, na mesma secretária em que trabalhou Fernando Pessoa. Em 1959, insere-se no influente circulo cultural, em que se integram António Alçada Baptista, Nuno Bragança, João Bénard da Costa, Pedro Tamen, José Escada, Luís Sousa Costa, Nuno Cardoso Peres e Cristovam Pavia. Sobre esse grupo disse Helena: «Para lá do trabalho em comum que tínhamos (no projecto editorial da Livraria Moraes), chegámos a planear constituir uma comunidade segundo um projecto só nosso, a que chamámos O Pacto».
Esse projecto não se concretizou, mas realizou-se um outro, o da criação de uma revista «de pensamento e acção», que nasceu em 1963 e que se chamou «O Tempo e o Modo» iniciativa marcante, pela abertura de novos horizontes políticos, culturais, literários e artísticos. A revista congregaria personalidades de diversas sensibilidades, empenhadas na renovação da vida portuguesa no sentido da democracia:
  • Salgado Zenha,
  • Jorge Sampaio,
  • Sottomayor Cardia,
  • Vasco Pulido Valente,
  • Manuel de Lucena,
  • Sophia de Mello Breyner,
  • Jorge de Sena,
  • Agustina Bessa-Luís,
  • Ruy Belo,
  • Eduardo Lourenço,
  • António Ramos Rosa,
  • José Cardoso Pires,
  • Vergílio Ferreira…

Cortesia de wikipedia 
Em 1968, parte para Paris e assiste aos acontecimentos de Maio. No regresso, organiza dois números temáticos de «O Tempo e o Modo», com grande sucesso «Deus, O Que É?» e «O Casamento».
Em 1978, assume a direcção e a propriedade da revista «Raiz e Utopia», fundada por António José Saraiva, Carlos Medeiros e José Baptista, e imprime uma orientação inconformista virada para os grandes debates europeus do momento, bem simbolizada na secção «Abriu em Portugal».
Em 1979, assume a presidência do Centro Nacional de Cultura, iniciando e desenvolvendo uma acção incansável em prol da divulgação, do estudo e da preservação da língua e da cultura portuguesas, lançando os «passeios de Domingo», debates, colóquios e cursos livres.
Como disse Maria Calado:
  • «ao lançar os passeios de Domingo introduziu-se em Portugal a prática dos itinerários culturais como forma de conhecimento e valorização do património histórico e da criação artística e cultural contemporânea».
Em 1987, integra o Conselho Consultivo da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses e de 1989 a 1994 é presidente da Comissão Nacional da UNESCO, o que permitiu a Portugal exercer um papel decisivo no Ano Internacional dos Oceanos, na Expo 98 e realizar em Lisboa a Reunião Inter-Regional sob o tema «A UNESCO para o Século XXI».

Cortesia de bertrand  

Desde o ano de 2000 era académica da Academia Nacional de Belas Artes.
Morre aos 63 anos de idade, quando muito se esperava da sua inteligência, do seu entusiasmo e da sua força criadora. Compreendeu bem o seu tempo e procurou descobrir novas tendências e sinais capazes de ligar tradição e modernidade, liberdade e sentidos de pertença». In Instituto Camões, Guilherme d’Oliveira Martins.

Cortesia do Instituto Camões/JDACT