sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Hernâni Cidade: «O que mais relevante trouxe a sua obra é a modernidade intrínseca, o seu contexto sociológico, o aspecto vivo e global da sua comunicação. Imagens literárias e humanas que prolongaram o seu diálogo com a vida porque, como ele afirmava "Primeiro está a aula e depois o capítulo"».

(1887-1975)
Redondo
Cortesia de marcasdascienciasfcul

«Professor, ensaísta, historiador, crítico literário, Hernâni António Cidade cresceu ao som da «orquestra da serra e do malho», o valor do esforço, o sagrado cumprimento das tarefas. António Cidade, para além de artífice, cantava baladas e histórias, recitava versos de Augusto Gil, Guerra Junqueiro, António Nobre:
  • à noite, ao serão, envolvia os filhos e os netos naquele universalismo alentejano, onde ressoava ainda a estepe, há pouco desaparecida.
Após ter terminado o estudo no Seminário de Évora, a primeira etapa da sua formação, foi escolhido para seguir estudos na Universidade Gregoriana de Roma; mas, abalado intelectualmente na sua fé pelas leituras mais recentes (o pequeno caixote de livros que trouxe do Seminário continha Bakunine, Marx, Engels, Pesttalozzi, Gorki), dividido entre um crescente agnosticismo intelectual, uma sensibilidade religiosa que o acompanhou até à morte e uma gratidão imensa ao Seminário que gratuitamente lhe dera a possibilidade de estudar, escolheu o caminho da lealdade, expondo ao arcebispo, D. José Eduardo Nunes, o seu desejo de frequentar a Universidade e seguir a vida laica.

Participou, na I Guerra Mundial, com grande firmeza e sentido do dever, distinguindo-se, sobretudo pela sua coragem ao serviço da paz e da dignidade humana. Em 14 de Agosto de 1917 apenas com 3 soldados, atravessa a terra de ninguém, debaixo de fogo, e vai às linhas alemãs buscar os soldados portugueses feitos prisioneiros num raid inimigo. Foi-lhe atribuída a Cruz de Guerra. Vai também debaixo de fogo à terra de ninguém buscar um alemão ferido que traz para o abrigo português. Em sinal de gratidão, o soldado moribundo ofereceu-lhe o cinturão e o sabre, que toda a vida conservou pendurado na estante por detrás da sua mesa de trabalho.



Cortesia de coloquiogulbenkian

Foi neste esforço solidário que encontrou a sua vocação de professor universitário. Em 1919 inicia, por convite, a sua docência na Faculdade de Letras do Porto, aí se mantendo até 1930, data em que Salazar resolveu apagar esse foco de inovação, onde a liberdade de pensamento resistia.
O que mais relevante trouxe a sua obra é a modernidade intrínseca, o seu contexto sociológico, o aspecto vivo e global da sua comunicação, mais evidente em.
  • Tendências do Lirismo Contemporâneo (1939),
  • Conceito de Poesia como Expressão de Cultura (1945),
  • Portugal Histórico-Cultural (1947),
  • Literatura Autonomista sobre os Filipes (1948).

Cortesia de acpcbnportugal
António Sérgio e Hernâni Cidade trouxeram, por vias diferentes, Luís de Camões, para o mundo comum e ainda hoje as obras Camões Lírico e Camões Épico são das mais vendidas.
À Marquesa de Alorna, a Bocage, ao Padre António Vieira e à sua Defesa perante o Tribunal do Santo Ofício devemos imagens literárias e humanas que prolongaram o seu diálogo com a vida porque, como ele afirmava: «Primeiro está a aula e depois o capítulo».

Cortesia de restolhando
Esta sua responsabilidade cívica, de exactidão e cumprimento do dever, socialmente entendido, marcou a clareza da sua inteligência e o exemplo raro da sua profunda honestidade intelectual e afectiva». In Instituto Camões, Helena Cidade Moura.
 
Cortesia do Instituto Camões/JDACT