quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Barroso da Fonte. Guimarães e as Duas Cabeças: «Teriam de vir antes do nascer do sol, «com barrete vermelho na cabeça, uma opa e banda ao ombro, posta ao contrário, igualmente vermelha, espada à cinta e com um pé calçado e outro descalço, trazendo consigo vassouras de giesta»

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As Origens do Episódio.
«Em 1415, sob o comando do rei D. João I, as tropas Portuguesas tomaram a cidade de Ceuta. Durante essa acção militar que marcou o primeiro passo para a expansão dos descobrimentos, D. João I distribuiu «duas importantes frentes» de combate pelas tropas de Guimarães e de Barcelos, Possivelmente eram unidades distintas e bem preparadas para tão arriscada tarefa. Aconteceu que os militares de Guimarães saíram-se bem da missão que lhes foi atribuída, ao contrário do que terá acontecido com os militares de Barcelos que precisaram da ajuda dos vimaranenses para cumprirem a sua função.

Como prémio aos homens de Guimarães e como castigo aos de Barcelos D. João I determinou que, dali em diante, os vereadores de Barcelos viessem, na véspera de todas as festas da Vila de Guimarães, varrer a praça maior, o padrão os açougues e as ruas, Teriam de vir antes do nascer do sol, «com barrete vermelho na cabeça, uma opa e banda ao ombro, posta ao contrário, igualmente vermelha, espada à cinta e com um pé calçado e outro descalço, trazendo consigo vassouras de giesta».

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Eram, nessa altura, sete as festas de Guimarães, tantas quantas as vezes que os vereadores da Vila de Barcelos, escolhidos de entre os fidalgos, tinham que, anualmente, cumprir as determinações da provisão régia: Páscoa, Espírito Santo, S. João, Santa Isabel, Anjo, Nossa Senhora de Agosto e Corpo de Deus.
Em consequência desta provisão de D. João I, a vila de Barcelos começou a despovoar-se de nobres, visto que ninguém queria ser nomeado para a Câmara, para que não tivesse de sujeitar-se a tão estúpido castigo.
O duque de Bragança, D. Jaime, reparando que Barcelos se despovoava da sua nobreza, passou a servidão para Fão e Esposende, pertencentes ao mesmo concelho. E, numa fase posterior, na tentativa de libertar Barcelos dessa severa medida, o mesmo duque transferiu a sujeição régia para as freguesias de São Paio de Ruilhe e São Miguel de Cunha, as quais viriam a ser anexadas ao concelho de Guimarães. Com essa anexação o castigo deixava de ter significado. De facto essas duas freguesias já no tempo de D. Dinis, nas Inquirições do séc. XIII, pertenciam ao concelho de Guimarães.

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No século XV voltaram ao termo de Barcelos e, no século seguinte, regressaram ao termo de Guimarães, para, finalmente, a partir do século XVIII serem integradas no concelho de Braga. Entretanto os moradores de Ruilhe e Cunha fizeram uma petição a D. João V, para que acabasse com aquela incrível provisão régia. E o pedido foi aceite, pelo que a servidão de Barcelos a Guimarães, terminou em 1743, durando 328 anos.

Os Primeiros Relatos.
O primeiro autor que relata, com algum pormenor, este episódio é Torcato Peixoto de Azevedo nas suas «Memórias Ressuscitadas da Antiga Guimarães». Nele beberam muitos outros autores com interpretações a puxar para Guimarães ou para Barcelos, consoante as tendências telúricas.
Muito já se escreveu sobre esta provável provisão régia que data de 1415 e que gerou muita polémica entre historiadores de cá e de lá. Uns recordando-a, com regozijo, porque reflecte o estoicismo dos seus conterrâneos. Outros procurando minimizar os seus efeitos, atribuindo-lhe um carácter de lenda, em respeito pelos seus antecessores.

Além de Torcato Peixoto de Azevedo estudaram este assunto António Ferreira Caldas, António Carvalho da Costa, João de Meira, Alfredo Guimarães, Alfredo Pimenta, Abade de Tagilde, António Lino e sobretudo A. L. de Carvalho, todos ligados a Guimarães». In Barroso da Fonte, Guimarães e as Duas Caras, Editora Correio do Minho, 1994, ISBN 972-95513-8-3.

Cortesia de Guimarães/JDACT