quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Baruch (Bento) Espinosa. Intuições Místicas. Substância: «Outras das sua facetas é a sua condição de democrata pioneiro, ao entender «avant la lettre» que a democracia é o melhor sistema possível e o mais ajustado à razão, e que a finalidade do Estado é tornar todos os homens livres, o que significa que o homem tem de deixar de ser um autómato»


Cortesia de wikipedia

«Místico fascinado pela razão ou racionalista com intuições místicas, este grande pensador e filósofo inspirou-se na geometria para conceber o mundo como um imenso relógio em movimento perpétuo, no qual todas as peças se identificam entre si. «Deus sive Substancia, sive Natura», a frase que sintetiza o pensamento de Espinosa, exprime uma noção revolucionária de Deus: Deus é a Natureza, a Natureza é um Todo, uma única Substância, e as coisas e as ideias não são mais do que atributos imanentes do Todo, como peças do movimento de um relógio auto-propulsionado que alguns denominam Deus e outros Natureza.

O «modo geométrico»
Para elaborar o seu método de filosofia, «more geométrico», a razão dedutiva e matemática de Espinosa tomou como base os manuais da geometria euclidiana. Tudo devia ser reduzido geometricamente a partir da ideia inata de Deus, a única Substância. Se existe uma única Substância, os seus atributos, apesar de infinitos, são um só atributo. Assim, a cada coisa corresponde uma ideia e essa ideia é a sua «alma», daí que todos os seres estejam animados.


Interior da sinagoga portuguesa de Amesterdão, 1680,
de Emanuel de Witte
Cortesia de wikipedia e bineissim

A ordem das ideias reflecte a ordem das coisas e ambas as ordens são necessárias. E posto que a necessidade dirige tudo o que sucede na Natureza, esta pode explicar-se em termos geométricos.

A liberdade de conhecer
Espinosa transfere a visão do cosmo de Galileu que, defendendo o sistema heliocêntrico de Copérnico, demonstrou que o universo está sujeito a leis, e emprega um método racional para procurar as leis que regem tudo:
  • A sociedade,
  • A moral,
  • A religião…
Apesar do determinismo inerente a esta filosofia, que entende a Natureza como uma substância única e infinita cujas partes estão intimamente inter-relacionadas e onde tudo se submete a uma inexorável regulação permanente, Espinosa esforçou-se por salvaguardar a liberdade humana.
Paradoxalmente, esta aparece, segundo o pensador, quando o ser humano aceita que tudo está determinado, pois a liberdade não depende da vontade, mas do entendimento, e o homem liberta-se através do conhecimento intelectual.

Cortesia de jornallivre

Apesar de o ser humano se encontrar determinado por leis universais, pode ser livre na medida em que opta por se reger pela razão recusando a submissão. Uma consequência disto é a atitude de alerta intelectual, e não de cegueira, que é necessário ter diante da religião. Outras das sua facetas é a sua condição de democrata pioneiro, ao entender «avant la lettre» que a democracia é o melhor sistema possível e o mais ajustado à razão, e que a finalidade do Estado é tornar todos os homens livres, o que significa que o homem tem de deixar de ser um autómato.
Espinosa foi em certa medida um relojoeiro. Não só pela sua ideia de cosmo, mas também pela sua actividade profissional. Depois de ter abdicado do judaísmo, em 1656, foi expulso da sua comunidade e, para sobreviver, dedicou-se a polir lentes para instrumentos ópticos.
Espinosa viveu de acordo com a sua filosofia, fazendo gala de uma insubornável independência intelectual que lhe causou problemas com a ortodoxia, inclusive no país mais tolerante da época, como era a Holanda em que viveu». In Wikipédia, Gayban Grafie.

Cortesia de Gayban Grafie/JDACT