terça-feira, 1 de novembro de 2011

Maria Alzira Seixo. Os Poemas da Minha Vida. «Cada um de nós é decerto poeta, à sua maneira, até mesmo sem escrever. Não posso adiar para outro século a minha vida nem o meu amor nem o meu grito de libertação»

Cortesia de publico 

Não Posso Adiar o Amor para Outro Século
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

não posso adiar o coração
Poema de António Ramos Rosa

Cortesia de institutoportuguesdecultura

Romance do terceiro oficial de Finanças
Ah! As coisas incríveis que eu te contava
assim misturadas com luas e estrelas
e a voz vagarosa como o andar da noite!

As coisas incríveis que eu te contava
e me deixavam hirto de surpresa
na solidão da vila quieta!...
Que eu vinha alta noite
como quem vem de longe
e sabe o segredo dos grandes silêncios
- os meus braços no jeito de pedir
e os meus olhos pedindo
o corpo que tu mal debruçavas da varanda!...

(As coisas incríveis eu só as contava
depois de as ouvir do teu corpo, da noite
e da estrela, por cima dos teus cabelos,
Aquela estrela que parecia de propósito para enfeitar os teus
cabelos
quando eu ia namorar-te...)

Mas tudo isso, que era tudo
não era nada da vida!---
Da vida é isto que a vida faz
Ah! sim, isto que a vida faz!...
- isto de tu seres a esposa série e triste
de um terceiro oficial de finanças da Câmara Municipal!...
Poema de Manuel da Fonseca

In Maria Alzira Seixo. Os Poemas da Minha Vida. Público, 2005, ISBN 972-8892-78-0.

Cortesia de Público/JDACT