Tradução de excertos, realizada por Maria do Rosário Laureano
Santos, a partir do original em latim: “Colloquium duorum virginum de vita
aulica et privata, de 1552”.
Não existe nenhuma versão portuguesa, apenas uma tradução
francesa publicada em edição bilingue: “Louise Sigéé. Dialogue de deux jeunes
filles sur la vie de cour et la vie privée”.
Introdução, trad. e notas por Odette Sauvage. Paris, PUF, 1970.
[...]
Segundo dia, isto é, segunda parte do colóquio: sobre o tratamento
do corpo, o seu cuidado excessivo e sobre outros assuntos.
[...]
XII
Flamínia: Refutaste muito bem, e com firmeza, minha cara Blesila,
o meu ponto de vista com as tuas palavras verdadeiras e com as tuas opiniões e
dissipaste completamente a névoa da minha mente de tal forma que eu agora
detesto o modo de vida na corte e afirmá-lo-ei detestável diante de todos,
desde que tu, tal como atrás prometeste (se bem me lembro), demonstres com
opiniões e argumentos sólidos qual é o modo de vida que deve ser, em primeiro
lugar, procurado e escolhido, e também que me ensines como deve cada uma de nós
comportar-se no modo de vida que escolheu, qualquer que ele seja, visto que,
segundo Paulo, cada um de nós deve mostrar-se perfeito na vocação para a qual
tiver sido chamado, uns de uma maneira, outros de outra.
Blesila: De acordo, desde que tu não semeies sobre as minhas
palavras, hauridas da limpíssima fonte dos santos, o joio das opiniões
profanas; é sobretudo isto que ofende os ouvidos dos que dão conselhos. Tu
sabes que eu fiz a experiência dos dois modos de vida, a saber, a da corte e a privada
(retirada) e, por isso, posso tratar, profusa e veridicamente, de cada uma
delas. Ouve, pois tu o queres; primeiro, explicarei a fundo de que modo deve
comportar-se cada uma de vós, segundo a minha opinião, depois (tal como pedes)
o que se deve procurar alcançar. Falo, em primeiro lugar, das mulheres da
corte, que gostaria que se adornassem modesta e castamente, tal como convém às
mulheres cristãs, e (tal como já referimos em abundância) que se enfeitassem
não só com a beleza do corpo, com o adorno do rosto, atraente para os homens
interessados, com os quais podereis casar, ou com os quais já estais casadas, mas
também que se enfeitassem com a força do espírito e com a perseverança; mas,
pelo contrário, gostaria que vós pudésseis causar temor aos outros homens que
favorecem o divertimento, os jogos e as futilidades da corte, quando estes se
dirigirem a vós e vos falarem sem moderação. Porque Paulo aconselhava o seu amigo
Timóteo a que não deixasse ninguém desprezar a sua juventude, e Salomão dizia
que a velhice digna de veneração não é a que dura muito tempo, nem a que é
contada pelo número de anos, mas aquela em que as cãs equivalem aos pensamentos
do ser humano, e o tempo da velhice, a uma vida sem mácula».
[...]
In Isabel Allegro de
Magalhães, O Diálogo de Duas Jovens Mulheres, Fundação Calouste Gulbenkian,
2003, ISBN 1645-5169.
Fim
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