Assassinato nas Ordens Sagradas
«(…) O crime de Formoso, lembrou
Owen, foi ter coroado imperador um dos inúmeros herdeiros ilegítimos de Carlos
Magno depois de já ter conferido o mesmo cargo a um candidato favorecido por
Estevão. Após o discurso inflamado de Estevão, as vestes do cadáver foram
arrancadas e seusdedos da mão direita amputados. Depois foi arrastado pelo
palácio e jogado no rio Tibre. O corpo foi resgatado por simpatizantes de
Formoso, que lhe deram uma sepultura digna. Alguns anos mais tarde, Estevão foi
estrangulado. Em 964, o papa Bento V estuprou uma jovem e fugiu para
Constantinopla com o tesouro papal, e só reapareceu quando o dinheiro acabou.
Um historiador especializado em assuntos da Igreja chamou Bento de o mais
iníquo de todos os monstros na impiedade. Ele também foi assassinado por um
marido ciumento. Seu corpo, com centenas de ferimentos de punhal, foi arrastado
pelas ruas antes de ser jogado numa fossa. (…) Em Outubro de 1032, a mitra
papal foi comprada para Bento IX, então com onze anos. Ao chegar ao décimo
quarto aniversário, escreveu um cronista, Bento havia superado em devassidão e
libertinagem todos os que o haviam precedido.
Segundo o historiador Peter Rosa,
no livro Vicars of Christ, os papas tinham amantes jovens, de até mesmo quinze
anos, eram culpados de incesto e perversões de todos os tipos, tinham inúmeros
filhos e eram mortos durante o acto do adultério. O papa Alexandre VI (nascido
Rodrigo Bórgia) reinou de 1492 a 1503. Depois de assumir a mitra papal, gritou:
Sou papa, vigário de Cristo!. Como seu predecessor, Inocêncio VIII, teve vários
filhos, baptizou-os pessoalmente e oficiou o casamento deles no Vaticano. Teve
dez filhos ilegítimos (incluindo os notórios César e Lucrécia Bórgia) com sua amante
favorita, Vannoza Catanei. Quando seu fascínio se desvaneceu, Bórgia
envolveu-se com uma jovem de quinze anos, Giulia Farnese. Farnese obteve o
galero vermelho de cardeal para seu irmão, que depois se tornaria Paulo III.
Alexandre foi seguido por Júlio II, que comprou o papado com sua fortuna
particular. (…) Mulherengo notório, foi tão consumido pela sífilis que não
podia expor seu pé para que fosse beijado.
O papa Sisto IV cobrava dos
bordéis romanos um imposto para a Igreja. Segundo o historiador Will Durant, em
1490 havia 6,8 mil prostitutas registadas em Roma. O papa Pio II declarou que
Roma era a única cidade governada por (…) filhos de papas e cardeais. O papa
Leão I (440-461) afirmou que não importava quão imoral ou inepto fosse um papa,
desde que fosse considerado legítimo sucessor de São Pedro. Não há uma lista
oficial de papas, mas o Annuario Pontificio, publicado todos os anos pelo
Vaticano, contém uma lista geralmente considerada a mais autorizada. Bento XVI
é citado como o 265º papa de Roma. O número 263, João Paulo I, foi nomeado em
26 de Agosto de 1978. Primeiro pontífice a escolher dois nomes (em homenagem a
seus predecessores, João XXIII e Paulo VI), nasceu Albino Luciani em 17 de Outubro
de 1912, em Forno di Canale (actual Canale d´Agordo), Itália. Ao contrário de
seus predecessores, nunca ocupou um alto cargo no governo interno ou no corpo
diplomático do Vaticano. Apesar de proeminente na Itália, era praticamente desconhecido
no restante do mundo. Ordenado em 7 de Julho de 1935, estudou na Universidade
Gregoriana de Roma depois de um breve período como vigário na paróquia de sua
infância. Depois de ser indicado para um cargo de vice-director no seminário de
Belluno, em 1937, passou vários anos ensinando; nesse período tornou-se vigário-geral
para o bispo de Belluno. No final de 1958, o papa João XXIII nomeou Luciani
como bispo de Vittorio Veneto, e após um início lento no Concílio Vaticano II
(1962–1965) logo se tornou voz activa em questões doutrinárias. Nomeado arcebispo
de Veneza (1969) e cardeal em 1973, rejeitou muitos dos aspectos de maior opulência
do catolicismo e encorajou as igrejas mais ricas a dar para as mais pobres. Após
sua eleição ao papado pelo Colégio de Cardeais, a revista Time afirmou: Os cardeais
sabiam o que queriam: um homem caloroso e humilde. Sentado a uma mesa diante do
altar da Capela Sistina, o cardeal solenemente entoou o nome escrito em cada cédula.
Luciani… Luciani… Luciani. Ao lado dele sentaram-se outros dois cardeais
escrutinadores, que retiravam as cédulas cuidadosamente de um cálice de prata,
desdobravam-nas e as passavam para seu colega. Foi a quarta e última votação
do incrível conclave de um dia que deu ao mundo católico seu 263º papa.
Tendo conseguido penetrar o muro
de segredos que se ergue em torno desses conclaves, e os votos de silêncio
proferidos pelos cardeais ao entrarem e se isolarem do mundo exterior, os jornalistas
da revista Time, Jordan Bonfante e Roland Flamini, reuniram dados para reconstituir
boa parte da história do processo transcorrido na Capela Sistina. Ficou claro
que a eleição de Luciani não foi um acidente, mas resultado de um consenso que
evoluiu a partir de três acordos alcançados num longo período pré-conclave após
a morte do papa Paulo VI em 6 de Agosto de 1978. Provavelmente, metade dos 111
cardeais eleitores estavam indecisos ao iniciar-se o conclave. A maioria estava
convencida de que o papa teria que ser italiano. (…) O segundo consenso, ao
qual resistiram alguns membros da cúria até ao final, era que a Igreja,
independentemente dos seus problemas políticos e administrativos, precisava de
um papa pastoral. Uma coisa é interpretar a fé e outra é transmiti-la às
pessoas nas paróquias, disse um alto prelado da cúria. Isso é algo que os
bispos, qualquer que seja a sua teologia, entendem melhor do que os membros da
cúria nas suas escrivaninhas. Outro cardeal disse: Acho que antes do conclave
todos nós concordávamos particularmente que precisávamos voltar a um homem
humilde, pastoral, apesar de não termos consultado uns aos outros. E então,
quando entramos, ficou claro para nós que era isso o que queríamos. Um dos
participantes disse que havia um consenso para que o novo papa não fosse óbvio
nem controverso. Enquanto a votação não produzia nenhuma liderança óbvia entre
os candidatos, Luciani era um homem não activamente detestado por ninguém, e activamente
querido por todos os que realmente o conheciam». In Paul Jeffers, Mistérios
Sombrios do Vaticano, 2012, Editora Jardim dos Livros, 2013, ISBN
978-856-342-018(7)-3(6).
Cortesia de EJdosLivros/JDACT
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