«(…) Diga-me uma coisa, perguntou Hale. Qualquer coisa, Quentin. Mas, por favor, me tire desta jaula. Os livros contábeis. Você falou sobre eles? O homem sacudiu a cabeça. Sequer uma palavra. Nada. Eles apreenderam os registos sobre o UBS e nem mencionaram os livros contábeis. Eles estão em segurança? Onde os guardamos não tem risco. Eu e você somos os únicos que sabemos onde eles estão. Hale acreditou nele. Até então, sequer uma palavra havia sido pronunciada sobre os livros, o que ajudava a relaxar um pouco a ansiedade. Mas não completamente. As tormentas que estavam prestes a enfrentar seriam bem piores do que o temporal que ele identificou se formando a leste. Todo o peso dos serviços de inteligência dos Estados Unidos, junto à Receita Federal e ao Departamento de Justiça, estava a ponto de se abater sobre ele. Semelhantemente às tempestades que seus ancestrais tinham enfrentado, quando reis, rainhas e presidentes despachavam frotas inteiras à caça das chalupas e enforcavam seus capitães. Ele se virou para o homem deplorável dentro da armação de ferro e se aproximou dele. Por favor, Quentin. Estou implorando. Não faça isso. A voz saía entrecortada por soluços. Eu nunca perguntei nada sobre os negócios. Isso jamais me importou. Eu só cuidava dos livros contábeis. Como meu pai. E o pai dele. Nunca toquei num centavo que não fosse meu. Nenhum de nós, jamais. De facto, sua família nunca fizera isso. Mas o Artigo 6 era claro. Se qualquer um desonrar a companhia como um todo, deverá ser fuzilado. A Comunidade jamais enfrentara algo tão ameaçador. Se ao menos pudesse encontrar a chave para decifrar o código secreto, isso acabaria com tudo de uma vez e tornaria desnecessário aquilo que estava a ponto de fazer. Infelizmente, algumas vezes o dever do capitão envolvia determinar acções desagradáveis. Ele fez um gesto e três homens começaram a levantar o gibanete, deslocando-o na direcção da amurada. O homem imobilizado berrava. Por favor, não faça isso. Eu pensei que o conhecia. Pensei que éramos amigos. Porque está agindo como um maldito pirata?
Os três homens hesitaram por um
instante, aguardando o sinal. Ele fez um gesto com a cabeça. A couraça foi
lançada ao mar, e este devorou a oferenda. A tripulação voltou aos seus postos.
Ele ficou sozinho no convés, o rosto sendo lavado pela brisa, e reflectiu sobre
o insulto final daquele homem. Agindo como um maldito pirata. Monstros
marinhos, cães do inferno, ladrões, opositores, corsários, bucaneiros,
violadores de todas as leis humanas e divinas, encarnações do diabo, filhos do
capeta. Todos rótulos dos piratas. Seria ele um desses também? Se é isso o que
pensam de mim, sussurrou ele, então, porque não?
Jonathan Wyatt observava o
desenrolar do evento. Estava sentado sozinho ao lado da janela do restaurante
do Grand Hyatt, uma sala num átrio envidraçado que oferecia uma vista livre da
rua 42, dois andares abaixo. Ele percebera o momento em que o trânsito fora
interrompido, as calçadas evacuadas e o comboio presidencial estacionara ao
lado do Cipriani. Ouvira um estrondo vindo de cima, e os pedaços de vidro se
espatifando sobre o pavimento. Quando os disparos começaram, teve a certeza de
que o dispositivo começara a funcionar. Havia escolhido cuidadosamente aquela
mesa e notara que dois homens ali perto tinham feito o mesmo. Agentes do
Serviço Secreto, que ocuparam a outra extremidade do restaurante, tomando uma
posição próxima à janela e dispondo igualmente de uma vista incomparável do
local. Ambos os homens carregavam rádios consigo, e os funcionários tinham
intencionalmente impedido a presença de outros clientes ali. Ele conhecia os
procedimentos operacionais». In Steve Berry, O Enigma de Jefferson, 2011,
Editora Record, 2012, ISBN 978-850-140-205-9.
Cortesia de ERecord/JDACT
JDACT, Século XIX, USA, Literatura, Steve Berry,